A “revisão” no Correio da Manha

Sinais de fumo

A única solução para o infeliz acordo passaria por rasgá-lo.

Por João Pereira Coutinho | 28.01.17

O acordo ortográfico é uma aberração linguística e um exercício de autoritarismo cultural. E não houve cultor da língua que, nestes últimos anos de polémica, não tenha denunciado o arranjo – em livros, artigos ou meras proclamações públicas. Isto, que devia ter levado o país ‘oficial’ a desconfiar, manifestamente não levou. E o acordo foi airosamente adoptado em documentos, escolas, jornais, quem sabe em sinais de fumo. Agora, a Academia de Ciências voltou a olhar para o mostrengo. E concluiu que, afinal, a ‘simplificação’ foi longe de mais porque a língua não é propriamente uma transcrição fonética. Coisas como consoantes mudas, acentos ou hífenes talvez devam regressar. Pessoalmente, a única solução para o infeliz acordo passaria por rasgá-lo. Mas ‘repensar’ também serve, desde que isso sirva para cobrir de vergonha a parolada nativa que abraçou o acordo sem parar para pensar.

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Criatura para durar

Os donos da Língua Portuguesa não reconhecem o que fizeram.

Por Leonardo Ralha | 29.01.17

Tal como o Viktor Frankenstein de Mary Shelley, também os membros da Academia de Ciências de Lisboa tiveram que olhar para a sua criatura. Pena que, ao contrário do médico que decidiu criar vida a partir dos mortos, os donos da língua portuguesa escolham não reconhecer o que fizeram, garantindo que “aperfeiçoar o Acordo Ortográfico não significa rejeitar a nova ortografia, mas antes aprimorar as novas regras ortográficas e retocar determinados pontos”. Certo é que recomendam o regresso de hífenes, acentos e até de algumas consoantes mudas, ainda que pelas piores razões. O documento divulgado pela Academia de Ciências de Lisboa mantém que as consoantes são “invariavelmente mudas em todos os países de língua oficial portuguesa” em palavras como ‘inspector’ e ‘projecto’, o que só se pode explicar por surdez. São no mínimo tão mudas quanto em ‘corrector’, só poupado à amputação devido à existência da palavra ‘corretor’, num sinal de que a criatura está para durar.

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A tese da “revisão“, a vingar, representará (representaria) a consumação de uma espécie de “solução final” (Endlösung) para a liquidação sumária da ortografia da Língua Portuguesa.
1 de Janeiro de 2014

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