Tradução Português-Brasileiro (2) [por Isabel Coutinho Monteiro]

Durban(South Africa)Torcedores de diversas nacionalidades e sotaques assistiram ao empate entre Brasil e Portugal, em Durban, África do Sul

Continuando na senda da misteriosa (e impossível) “unificação da Língua Portuguesa” — e com a Final do EURO 2016 à porta — impõe-se agora uma incursão ao mundo do Futebol, onde a disparidade lexical remete para as muitas dificuldades que deverão enfrentar os brasileiros contratados por clubes de futebol portugueses. Não há unificação ortográfica que lhes valha no processo de se adaptarem a termos que nunca terão ouvido.

Futebol

Portugal Brasil
Baliza Meta/Gol
Desporto Esporte
Equipa Time/Equipe
Fintar Driblar
Fiscal de linha/Árbitro auxiliar Bandeirinha
Fora-de-jogo  Impedimento
Golo Gol
Guarda-redes Goleiro
Pontapé de baliza Tiro de meta
Pontapé de canto Escanteio
Defesa central Zagueiro
Claque Torcida
Chuto/pontapé Chute
Tempo (1.º, 2.º) Etapa (1.ª, 2.ª)
Ponta-de-lança Centroavante
Taça Copa

Mas as divergências vão muito além disto, como já foi salientado no início desta série.

Uma leitura superficial pela imprensa brasileira expõe diferenças noutras áreas de regência da língua, como é o caso deste curto excerto retirado da publicação “Veja” on-line:

«Cristiano Ronaldo já vive a expectativa de conquistar seu primeiro título com a seleção portuguesa. O craque, no entanto, sabe que a missão será complicada: neste domingo, Portugal enfrenta a anfitriã França, na decisão da Eurocopa, à partir das 16h (de Brasília), no Stade de France, na grande Paris.»

Logo na primeira linha, encontra-se o termo “expectativa”, testemunho da (falsa) unificação da Ortografia com as suas facultatividades. O Possessivo “seu”, como também já foi referido, aparece sem o Artigo Definido “o”, quase sempre companheiro inseparável em Portugal e, por fim, a referência ao início da partida inclui a contracção da preposição “a” com o Artigo Definido “a” — o que no Brasil se chama crase –, configurando estas duas uma diferença significativa na Morfologia usada cá e lá.

É de salientar que a crase atrás mencionada constitui um erro no Brasil, que ocorre com bastante frequência por lapsus linguae, fruto da Fonética brasileira de vogais sempre abertas, salvo acento gráfico em contrário. E é precisamente nesta forte divergência fonética entre os vários países lusófonos que radica o tremendo fracasso dos defensores da (falsa) “unificação da Língua Portuguesa”.

E traçada que está mais uma caricatura desta unificação caricata, por agora, resta-nos desejar que a Selecção Portuguesa de futebol dê a todos os portugueses uma grande alegria neste domingo, 10 de Julho de 2016.

 

Isabel Coutinho Monteiro
(tradutora)

[Imagem de topo de Agência Brasil.]


Este vídeo, publicado por um “site” de língua inglesa que terá presumido ser isto um relato português, contém afinal a gravação de uma emissão brasileira. Deveria ter legendas, digo eu, como se faz no Brasil com os filmes portugueses.
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