Continuando na senda da misteriosa (e impossível) “unificação da Língua Portuguesa” — e com a Final do EURO 2016 à porta — impõe-se agora uma incursão ao mundo do Futebol, onde a disparidade lexical remete para as muitas dificuldades que deverão enfrentar os brasileiros contratados por clubes de futebol portugueses. Não há unificação ortográfica que lhes valha no processo de se adaptarem a termos que nunca terão ouvido.
Futebol |
|
Portugal | Brasil |
Baliza | Meta/Gol |
Desporto | Esporte |
Equipa | Time/Equipe |
Fintar | Driblar |
Fiscal de linha/Árbitro auxiliar | Bandeirinha |
Fora-de-jogo | Impedimento |
Golo | Gol |
Guarda-redes | Goleiro |
Pontapé de baliza | Tiro de meta |
Pontapé de canto | Escanteio |
Defesa central | Zagueiro |
Claque | Torcida |
Chuto/pontapé | Chute |
Tempo (1.º, 2.º) | Etapa (1.ª, 2.ª) |
Ponta-de-lança | Centroavante |
Taça | Copa |
Mas as divergências vão muito além disto, como já foi salientado no início desta série.
Uma leitura superficial pela imprensa brasileira expõe diferenças noutras áreas de regência da língua, como é o caso deste curto excerto retirado da publicação “Veja” on-line:
«Cristiano Ronaldo já vive a expectativa de conquistar seu primeiro título com a seleção portuguesa. O craque, no entanto, sabe que a missão será complicada: neste domingo, Portugal enfrenta a anfitriã França, na decisão da Eurocopa, à partir das 16h (de Brasília), no Stade de France, na grande Paris.»
Logo na primeira linha, encontra-se o termo “expectativa”, testemunho da (falsa) unificação da Ortografia com as suas facultatividades. O Possessivo “seu”, como também já foi referido, aparece sem o Artigo Definido “o”, quase sempre companheiro inseparável em Portugal e, por fim, a referência ao início da partida inclui a contracção da preposição “a” com o Artigo Definido “a” — o que no Brasil se chama crase –, configurando estas duas uma diferença significativa na Morfologia usada cá e lá.
É de salientar que a crase atrás mencionada constitui um erro no Brasil, que ocorre com bastante frequência por lapsus linguae, fruto da Fonética brasileira de vogais sempre abertas, salvo acento gráfico em contrário. E é precisamente nesta forte divergência fonética entre os vários países lusófonos que radica o tremendo fracasso dos defensores da (falsa) “unificação da Língua Portuguesa”.
E traçada que está mais uma caricatura desta unificação caricata, por agora, resta-nos desejar que a Selecção Portuguesa de futebol dê a todos os portugueses uma grande alegria neste domingo, 10 de Julho de 2016.
Isabel Coutinho Monteiro
(tradutora)
[Imagem de topo de Agência Brasil.]
Este vídeo, publicado por um “site” de língua inglesa que terá presumido ser isto um relato português, contém afinal a gravação de uma emissão brasileira. Deveria ter legendas, digo eu, como se faz no Brasil com os filmes portugueses.
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