É realmente necessária uma reforma ortográfica?
Simião Mendes, Especial para DM Revista
O português brasileiro, é uma língua pluricêntrica, de centros diferentes, cuja a origem vem do indo-europeu, passando pelo itálico, latim e português, que se dividiu entre português europeu e africano. O PB vem do português europeu e hoje é a variante mais falada e escrita do mundo. Antes da chegada dos portugueses na nossa terra, eram faladas cerca de 1.500 línguas diferentes. Durante a história do PB é possível ver quantas mudanças e influências ele passou para ser o que “conhecemos” hoje em dia.
Essa historicidade é importante para que possamos entender porque nossa língua é uma das que mais carregam variedades fonológicas e diferenças regionais. Essas distinções que são heranças das já citadas mudanças e influencias que a língua teve em sua história, resultam em dificuldades no seu ensino e aprendizado.
Condições para melhoria neste sentido são sempre discutidas tanto por linguistas quanto pelos profissionais da educação. A dificuldade não se resume só a questão da fonologia, da fala, mas também quanto a escrita da língua. Palavras como “asa” (escrita com “s” com som de “z”) são exemplos da dificuldade que a língua traz para os alunos na alfabetização, isso quando não se firmam como dúvidas que vez ou outra reaparecem quando o falante as usa na escrita, já na idade adulta. Palavras como essas tem sua diferença no desdobramento fonológico da língua.
Uma forma genérica para resolver e facilitar tais dificuldades são propostas de simplificação da língua, como a de uma grafia com base fonológica. Usando o mesmo exemplo, a proposta consiste que a palavra “asa” passasse a ser grafada “aza”. Essa simplificação da ortografia do PB consiste em retirar na grafia, letras que não aparecem na fala como o “h” das palavras “hoje” e “herói”. Assim, essas palavras passariam a ser grafadas “oje”, “erói”. Outra proposta é aproximar a grafia ao máximo da fala, como já dito acima e em outros exemplos: “casa” que passaria a ser grafado “caza” e “ezame” ao invés de “exame”.
Na realidade escolar, essa proposta não seria capaz de sanar todas as dificuldades que surgem no processo de aprendizado da língua, da incongruência da escrita e da diversidade da pronuncia. Para Silvio Possenti, é preciso fortalecer a base do ensino com um letramento consistente para garantir o aprendizado do educando.
A reforma não resolveria os problemas e despreparos que hoje temos nas escolas e os erros gráficos que vemos em placas, anúncios e cartazes nas ruas ou mesmo em jornais e outros materiais impressos.
Para resolver esses problemas que nos aparecem quanto ao uso correto do PB na escrita, ao invés de buscar soluções genéricas provindas de propostas de reformas, é preciso, primeiro, investir na educação básica, desde a alfabetização, através da leitura e da escrita efetiva do aluno. Além disso, é preciso tornar a educação acessível a todos, respeitando as variações da língua, o regionalismo e abolindo o preconceito linguístico que é um grande inibidor daquele que já carrega dificuldade de aprendizado, além de mudar o quadro precário do sistema de ensino que temos. São esses fatores citados que são responsáveis por criar a alcunha de que o português é difícil demais para aprender.
É preciso desmistificar e não reformar o PB; ensiná-lo e não facilitá-lo.
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(Simião Mendes, 31 anos. Goiano. Poeta, pintor e vocalista da banda Vandalismo Poético. Graduando no curso de Letras da Universidade Federal de Goiás)
Transcrição de É realmente necessária uma reforma ortográfica? – DM, 08.07.15
Destaques e “links” meus. Imagem publicada por Marcos Bagno no Facebook.