Dia: 15 de Agosto, 2015

20 mil assinaturas electrónicas para o Brasil sair do AO90

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Campanha precisa de 20 mil apoios para a retirada do Brasil do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa

Uma campanha necessita conseguir 20 mil apoios para a criação de Projeto de Lei retirando o Brasil do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990. O apoio deve ser feito no site do Senado neste link. O prazo para conseguir os apoios encerra no dia 11 de dezembro deste ano.

Segundo o site do Senado: “A ideia legislativa permanecerá publicada no portal e-Cidadania por até quatro meses para receber o apoio de outros cidadãos. A Ideia que receber 20.000 (vinte mil) apoios durante seu prazo de publicidade será remetida à Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH), a fim de ser apreciada pelos Senadores. É importante destacar, pois, que se trata de proposta de projeto de lei ou de emenda à constituição. Ficará a juízo dos Senadores a conversão da ideia em proposição, bem como sua posterior aprovação ou rejeição.”
O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 (AO90) é um tratado internacional firmado com o objetivo de criar uma ortografia unificada para o português, a ser usada por todos os países de língua oficial portuguesa. Foi assinado em Lisboa por representantes oficiais de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe, em 16 de dezembro de 1990, ficando na dependência da concordância dos parlamentos dos respectivos países. Depois de recuperar a independência, Timor-Leste aderiu ao AO90 em 2004.

[Transcrição de notícia no “site” Nação Mestiça”, 15.08.15.]

 

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Ideia Central ■ Retirada do Brasil do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990.

Problema ■ O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 (AO90) é um tratado internacional firmado com o objetivo de criar uma ortografia unificada para o português, a ser usada por todos os países de língua oficial portuguesa. Foi assinado em Lisboa por representantes oficiais de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe, em 16 de dezembro de 1990, ficando na dependência da concordância dos parlamentos dos respectivos países. Depois de recuperar a independência, Timor-Leste aderiu ao AO90 em 2004.

 

Exposição

Entre as diversas razões para o Brasil retirar-se do Acordo Ortográfico de 1990, destacam-se:

1. O acordo não tem legitimidade, haja vista a língua portuguesa ser um patrimônio comum de Portugal e dos povos de origem portuguesa e não ter havido plebiscito ou referendo nos diversos países de língua portuguesa autorizando a mudança na ortografia desta.

2. Na maioria dos países signatários o AO90 não entrou em vigor por motivos que vão de críticas gramaticais a econômicas.

3. O Acordo Ortográfico não cumpre o objetivo de unificar a ortografia nos diversos países de língua portuguesa, mantendo variações como Amazônia e Amazônia, perspectiva e perspectiva, recepção e receção.

4. A ortografia portuguesa já foi única até Portugal e depois o Brasil, por motivos políticos e interesses particulares, substituírem no início do séc. XX a ortografia etimológica pela fonética, criando regras desnecessárias. Para uma unificação bastaria retornar à ortografia anterior, o que o Acordo Ortográfico não faz.

5. O Acordo Ortográfico também não cumpre o objetivo de simplificar a ortografia, criando diversas regras novas, como o uso do hífen entre vogais repetidas: antiinflamatório, p. ex., passa a ser escrito anti-inflamatório.

6. O AO90 cria um precedente para futuras reformas, como a que já defende que “se escreva como se fala” – casa, p. ex., seria escrita ‘kaza’ – e que podem levar à desagregação da língua portuguesa falada no Brasil, favorecendo a desagregação nacional – além de gastos públicos visando preservar a diversidade inventada.

7. O AO90 reforça a ortografia fonética, dificultando o aprendizado da língua portuguesa e sua difusão em países não lusófonos.

8. O AO90 lança no lixo bilhões em investimentos gastos durantes anos no ensino da língua portuguesa nas escolas e exige novos gastos em dinheiro e tempo com o ensino da nova ortografia para profissionais que não têm mais tempo para voltar às salas de aula.

[Transcrição de entrada em Portal e-Cidadania (Senado brasileiro), 13.08.15.]

 

Uma história (muito) mal contada [VII]

passos_perdidos.jpgTrago comigo, todos os dias, o espanto de saber que semelhante bicho foi congeminado. E não só foi congeminado, como nasceu. E não só nasceu, como anda por aí.
Rui Valente

Os passos perdidos

O que é, afinal, o aborto ortográfico? Mesmo sabendo-se quem o pariu, quando, porquê, onde e como (e até quem assistiu à operação), muita gente ainda não percebeu ao certo, ou sequer vagamente, o que diabo vem a ser aquilo.

Como o caso é sério, vamos tentar diversas formas de abordagem, sendo que, para o efeito, e dada a absoluta impossibilidade semântica de explicar o inexplicável, podemos apenas tentar ilustrar por amostra não o que é o “acordo” mas o que é o acordismo.

O acordismo é um fenómeno de dependência “derivado aoCavaco; daí os seus malefícios. Duas espécies de droga, portanto: o tabaco não é uma “droga dura”, como se costuma dizer, enquanto que o acordo é uma droga dura, sim, aliás duríssima, e portanto ambas as drogas têm um potencial de efeitos devastadores em órgãos distintos e em tecidos diferentes.

Porque de facto, ressalvadas as devidas diferenças entre “drogas duras” e o seu oposto, as “drogas moles” (ditas “leves”), o acordismo é como o tabagismo: coisa da moda, algo que (aparentemente, para os espíritos mais infantilizados) dá pinta e estatuto. Inalar o fumo do tabaco é perigoso, assim como é tóxico engolir as patranhas do AO90. Tóxico não para os pulmões, mas para o cérebro. O tabaco pode destruir os nossos tecidos pulmonares, o acordismo ameaça afectar gravemente os nossos tecidos social, cultural, histórico e patrimonial. Como rezam os caridosos avisos nos maços de cigarros, o risco de cancro é certo, uma morte “precoce e dolorosa” muitíssimo provável. Pelos vistos, a julgar por alguns exemplos de “agarrados” ao “acordo”  (atente-se nos casos clínicos mais evidentes, Malaca, Bechara, Reis, Canavilhas, Estrela,  Infante, Sócrates), o acordismo é letal porque altamente viciante; deve haver no AO90 alguma substância química equivalente à nicotina (ou a outras com igual terminação em “ina”, bem mais violentas), visto que o alcatrão — o principal ingrediente do AO90 –, só por si, não gera  dependência física ou psíquica nos consumidores.

O acordismo é também, por assim dizer, uma forma enviesada e desviante de escutismo; visualizemos a imagem do escuteiro hiper-activo e super-diligente que obriga uma velhinha a atravessar a rua, à força, e quanto mais ela protesta mais ele a empurra, chega a arrastá-la pelos cabelos, dá-lhe porrada se ela resiste, acerta-lhe uns calduços no venerável carrapito branco; quanto mais a anciã protesta, (o que é isto, jovem, eu cá não quero atravessar a rua, diacho, largue-me, mas que coisa), mais o escuteiro lhe garante que ela quer mesmo atravessar, sim, senhora, que do outro lado da rua é que é bom, que neste passeio aqui ele é só meliantes e chatices, vá lá, minha senhora, ande, despache-se, mexa-me essas pernas, vai ver que depois me agradece.

O acordismo é ainda, na imodesta opinião dos próprios acordistas, modernismo e progressismo. Coisas giras, por conseguinte. Bastará recordar-se a gente dos antónimos respectivos para que se entenda a “estratégia” acordista quanto à selecção criteriosa daqueles dois chiquérrimos substantivos, que são imensamente bem quando servem para adjectivar as pessoas normais: pois claro que o contrário de “moderno” é “antiquado” (ultrapassado, obsoleto, inútil) e o inverso de “progressista” é “conservador” (reaccionário, “velho-do-Restelo” ou simplesmente “velho”, essa coisa horrorosa).

Imagine-se então, como protótipo do acordista, um jovem escuteiro que, ainda por cima, é progressista. Um verdadeiro filme de terror, não é? Pois é, mas andam por aí à solta alguns exemplares desta espécie escutista de terceira ordem.

Veja-se o “espetacular” caso do «escritor ficcionista e empresário» Nuno Artur Silva, que fez o favor de partilhar connosco, os velhotes reaccionários de Portugal, esta genial e imensamente progressista reflexão:  “devíamos escrever todos brasileiro“. E diz isto, note-se, com pujança, com cagança, num estilo marialva e muito práfrentex, a imagem de marca dos acordistas.

Ou aquel’outro jovem exemplar, o “ator” Ricardo Pereira, que é fluente em duas línguas, Português e “brasileiro”. Existem diversas gravações em que o dito fala exclusivamente em “brasileiro” mas há uma, mais “especial”, em que o dito jovem fala do “sutáqui dji pôrrtugáu”, garantindo que ainda utiliza “o pôrrtugueiss dji pôrrtugáu todo djia”.  E pergunta-lhe o repórter: “o teu sotaque já ’tá bem mais neutralizado, né?

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