Eureka…
De vez em quando, é fatal como o destino, lá aparece alguém — por regra e por definição, um tipo que a gente nunca viu mais gordo ou uma fulana que igualmente mas mais esbelta — com uma ideia genial, fabulosa, supimpa, ena, isto agora é que vai ser, cheguem-se vocêzes p’ra lá que eu é que sei, eu é que percebo disto, vá, xô, andor, seus camelos, pá.
Convém, quando estas aparições aparecem, munir-se a gente de um vasto manancial de pachorra e de não despicienda quantidade de pacotinhos de chá (sem cafeína), mas pronto, ora diga lá vossemecê o que lhe ocorreu assim de tão extraordinário. Ah, fazermos uma petição em vez da ILC, ok, não está nada mal lembrado, não, senhor. Ah, pois, irmos recolher assinaturas nas ruas, nas estações de Metro e dos comboios, a modos que nos mercados e feiras (olha, a Feira do Livro, certo, esta ideia tinha-se-me varrido da alembradura ) e nas praias e assim.
Com certeza. A gente depois diz-lhe alguma coisinha, sim? Atão vá. Cumprimentos lá em casa.
Ossos do ofício, cá estão eles outra vez, os malditos, isto das iniciativas cívicas mais parece a Capela dos Ossos, aquele chocalhante monumento que existe em Évora, ele há que levar nestas coisas com cada esqueleto que só visto. Enfim, quero dizer, nós cá, na ILC, sempre fomos mais bolos — como dizia o célebre José Severino — e portanto sempre preferimos tentar coisas sérias.
Em 17 de Novembro de 2011, tivemos finalmente um vislumbre daquilo que poderia vir a ser o mais do que improvável triunfo da ILC: reunimos pela primeira vez com Nuno Pacheco, Director-Adjunto do “Público”, e nessa reunião ficou estabelecido que o jornal publicaria um “encarte“, em cinco edições consecutivas, com o impresso de subscrição da ILC e indicações de preenchimento e envio; mais ainda, cada uma dessas publicações seria acompanhada de um texto de motivação e apelo à subscrição, sendo esses textos redigidos por autores convidados por nós expressamente para o efeito. Poderia vir mesmo a ser possível, caso a Direcção do “Público” autorizasse essa despesa extra, que os impressos fossem enviados via RSF (Resposta Sem Franquia); em alternativa, como aventado pelo próprio Director-Adjunto do jornal, «poderia ser até uma página destacável, impressa num dos suplementos. Mas isso não resolve o principal problema, que é o de levar as pessoas a porem o papel num envelope e enviarem-no pelo correio.»
Por conseguinte, qualquer das hipóteses era boa, excelente, fosse qual fosse a opção escolhida estava debelado o impasse. De facto, após o natural (e inerente) “boom” inicial, rapidamente o afluxo de assinaturas tinha começado a decrescer enormemente e acabou por chegar a uma decepcionante média diária rondando as 10 subscrições, e sempre a diminuir, até encravar nas 5 por dia.
Foi desta reunião no “Público”, e das conversas e trocas de mensagens subsequentes, que surgiu a “solução”: pela primeira vez o problema das assinaturas estava “resolvido”. Ou seja, supondo que seriam distribuídos 30.000 exemplares por edição, então teríamos, numa só semana, 150.000 impressos de subscrição nas mãos dos nossos compatriotas; ora, se apenas 20% deles enviassem a sua assinatura…
Porque, naquela altura, a prioridade era, muito simplesmente, entregar o mais depressa possível a ILC no Parlamento. Mas sempre tendo em atenção que sem um número esmagador de subscrições (pelo menos o triplo do exigido, digamos) seria muito difícil a abolição da “disciplina de voto“.
Mas já então algumas pessoas, que certamente não tinham lido uma única linha sobre o assunto (algumas julgavam até que bastava entregar a ILC para ela estar automaticamente aprovada), nos perguntavam amiúde quantas assinaturas já tínhamos recolhido.
Mário Crespo, na entrevista ao “Jornal das 9”, perguntou-me isso mesmo 3 dias depois de a recolha de subscrições ter sido iniciada!