No dia seguinte, Varvara Petrovna Stavrogina recebeu a visita de cinco homens de letras, três dos quais lhe eram desconhecidos. Com ar severo, declararam haver estudado o caso da revista em projecto e participaram a sua decisão: depois de fundado o periódico, devia ela ceder-lho com todos os capitais e nos termos de uma sociedade livre. Comprometer-se-ia também a voltar sem demora para o seu domínio, levando consigo Stepan Trofimovich Verkhovensky, esse velho farsante. Por delicadeza, reconheceram-lhe o direito de propriedade e prontificaram-se a pagar-lhe todos os anos a sexta parte dos lucros obtidos. O mais enternecedor de tudo foi o facto de quatro daqueles cinco indivíduos declararem não ter nenhum propósito lucrativo e só agir no interesse da «causa comum».
— Partimos desesperados — Contou Stepan Trofimovich. — Não percebia patavina do que se passava. Respirei de alívio ao chegar a Moscovo, como se naquela cidade pudesse encontrar coisa melhor. Ah, meus amigos — exclamava ele às vezes, diante de nós, como que tocado por uma inspiração súbita — não podeis medir a dor e a indignação que se apoderam da nossa alma quando uma ideia grande e nobre, que há muito tempo veneramos, é profanada por mãos inábeis e arrastada na lama. Depois encontramo-la assim conspurcada, sem forma nem harmonia, a servir de joguete a crianças desmioladas. Não! No nosso tempo as coisas passavam-se de outra forma. Isto agora desnorteia-me. Mas há-de vir uma época na qual se consolide o edifício que ameaça desmoronar-se. Senão, o que seria de nós?
“Os Possessos“, Fyodor Dostoyevsky
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“Quantas assinaturas temos?” – 1
Esta é realmente uma história (muito) mal contada, toda ela, sempre o foi, mas em especial quanto ao pormenor do número de subscrições recolhidas pela iniciativa. Pormenor esse que acabou por deixar de o ser, tornando-se a questão central a partir de certa altura: alguém, por algum motivo, em determinado momento, suscitou a polémica e urdiu a pretexto desse tema único uma estratégia de cerco, de assédio permanente e de insulto sistemático aos promotores da ILC-AO.
Perguntarem-nos “quantas assinaturas temos” começou por ser uma coisa perfeitamente natural, pois claro, não há nada mais natural do que a simples curiosidade, mas acabou — pelo menos para algumas alminhas — por se transformar numa verdadeira obsessão. De tal forma que aquilo deixou de ser uma pergunta e passou a implicar uma insinuação, primeiro, e uma ou várias acusações, por fim. Calúnias e mais calúnias, escusado será dizer.
Até à “fronteira” temporal já aqui referida, isto é, durante os primeiros dois anos, lá fomos respondendo com imensa tranquilidade a quem nos perguntava pelo número exacto, apenas de vez em quando porque a questão surgia só de quando em vez: a pergunta ainda era só isso mesmo, simples curiosidade.
Na verdade, após um breve período inicial em que as subscrições afluíram naturalmente em grande quantidade, entre Abril e Junho de 2010, rapidamente o afluxo começou a decrescer e seguiram-se longos meses de altos e baixos (com muito mais baixos do que altos) até a média diária chegar a um número que, sejamos directos, é de estarrecer: cinco por dia — cinco!
Desde o início da recolha de subscrições e até à tal “fronteira“, ou seja, de Abril de 2010 e Fevereiro de 2012, é facílimo fazer as contas, ainda que por simples estimativa (e de memória), a “quantas assinaturas”… tínhamos, nessa altura. Contando com cerca de 2.000 nos 3 meses de arranque, basta multiplicar por 5 o número de meses subsequentes (vezes 30 dias) até meados de Fevereiro de 2012, o que resulta numa bela contazinha. Vejamos então, assim à maneira das “contas de merceeiro”:
2.000+(5X20x30)=5.000.
É pouco? Claro que é pouco. É pouquíssimo, caramba! Mesmo sabendo nós que a “aldeia” anti-acordista é mais uma cidade de tamanho médio, com 200.000 “habitantes”, ainda assim temos de reconhecer as evidências: poucos desses “habitantes” se dão ao trabalho de preencher e enviar um impresso, é uma evidência, e, outra evidência ainda mais flagrante, parece que é ilegal andar por aí a apontar um revólver à cabeça dos cidadãos para que eles assinem um papel.
Portanto, em suma, a coisa foi esta mesmo: a ILC passou a “fronteira” do “2 de Fevereiro de 2012″ com cerca de 5.000 subscrições na “bagagem”; eram estes os “valores” que tínhamos a “declarar”, com aspas, nessa alfândega temporal.
Mas deveríamos tê-los efectivamente declarado, sem aspas? Deveríamos ter então divulgado esse quantitativo “maravilhoso”? E para quê? Com que finalidade, ao certo? Como reagiriam as pessoas se tomassem conhecimento dessa triste realidade? Não iriam os poucos militantes da Causa ficar (ainda mais) desmotivados? E, pelo contrário, do outro lado, essa divulgação, aquele número que era terrivelmente desmotivador para nós não iria dar (ainda mais) alento aos acordistas?