“Há resistências de algumas pessoas, e não são muitas, que têm uma relação emocional, clássica, física e sensorial com a Língua. Mas ninguém será abatido, preso ou punido se não aderir às novas normas. O Acordo é uma simplificação da Língua.” José António Pinto Ribeiro, ex-Ministro da Cultura, semanário “Expresso“, 19.08.08.
«A verdade, porém, é que, apesar de o final do período de transição ainda se encontrar distante, ao nível do ensino, das instituições oficiais, nacionais e internacionais, e das restantes entidades públicas, o AOLP90 já foi quase plenamente aplicado, como o Estado determinou, sem problemas de maior;»
ILTEC. Parecer sobre a aplicação do Acordo Ortográfico. 21 de Março de 2013
Dúvidas e receios de quem não tem alternativa
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Fizemos um desafio aos alunos. Como se escrevem as palavras “boia” e “paraquedas”?
João Duarte foi o primeiro a responder: “b-o, com acento no o – i -a”.
Falhou. Com o novo acordo esta palavra perdeu o acento.
Francisco Teixeira soletrou a palavra “paraquedas”.
“P-a-r-a… perdeu o hifen… q-u-e-d-a-s”.
João e o Francisco dizem sentir-se adaptados ao novo acordo ortográfico mas reconhecem que o processo não é simples.
“Não me sinto totalmente esclarecido, porque implica muitas mudanças e as mudanças não são gerais. É preciso saber quando usar essas alterações“, diz João.
“Já estou completamente inteirado sobre o acordo, já escrevo sem problemas nenhuns, mas foi uma mudança radical“, explica Francisco.
A ideia é partilhada por Tiago Pereira e por Bruna Almeida.
“Pessoalmente não tenho qualquer dificuldade com o novo acordo, mas percebo que alguns alunos possam ter. Quer queiramos quer não, não se muda assim um acordo e de repente as pessoas todas, num ambiente familiar, na comunicação social, deixam de usar o acordo antigo. É muito complicado”, diz ele.
“Acho que é uma questão de as professoras ajudarem, mas a nível pessoal não tenho grandes problemas”, garante ela.
De acordo com o Instituto de Avaliação Educativa, a penalização nos exames de Português do 12º ano pode chegar aos 4 valores. Os estudantes temem ser prejudicados, mesmo sabendo a matéria.
“No exame estamos tão preocupados e nervosos, estamos mais focados em perceber se sabemos a matéria, a gramática, não estamos tão preocupados com o acordo e é possível acontecer algum erro”, explica Bruna.
“Tenho receio, em vez de uma penalização devia haver mais ensinamento e a longo prazo”, afirma Tiago.
“Por muito habituado que esteja a escrever com o novo acordo ortográfico eu fui habituado a escrever de outra forma. Pode haver um erro”, diz o Francisco.
Já João tem receio de ser penalizado, mas defende que “os alunos que vão a exame se sabem que podem ser penalizados têm que encarar isso como mais uma matéria”.
Fizemos novo teste, desta vez a Tiago e a Bruna.
Autoavaliação: “Suponho que tenha perdido o hifen… a-u-t-o-a-v-a-l-i-ç-ã-o”.
Heroico: “Heroico tem acento”, disse a Bruna. “h-e-r-o (com acento)-i-c… tem acento?? Oh… Ainda há algumas dúvidas”.