Proselitismo na sombra

ZepovinhoO que se segue contém a transcrição do último parágrafo de uma notícia do “Público” de hoje, 3 de Dezembro de 2015.

Seria inútil e aborrecido comentar a tremenda bacorada proferida pelo Presidente da Câmara de Coimbra na ocasião, bem como aborrecido e inútil seria chamar a atenção para aquilo que “o programa do encontro nitidamente deixou na sombra“.

Mas talvez não seja totalmente inútil nem muito aborrecido assinalar a importância da notícia enquanto exemplo ilustrativo. Na verdade, esta é só mais uma das muitas com que ultimamente temos sido brindados, por via da campanha de intoxicação acordista em curso.

A táctica é evidente, parece-me.

Consiste basicamente em realizar eventos, com pompa e circunstância, tendo sempre a Língua Portuguesa como tema central; nestes eventos, o tema “acordo ortográfico” é simplesmente ignorado, na maior parte dos casos, sendo quase sempre convidados alguns oposicionistas para participar na circunstância e na pompa mas sem direito a mencionar o AO90, o que implica uma espécie de acomodação tácita; em outros eventos, a alguns oposicionistas é “tolerado” que se refiram ao “acordo”, até podem dizer mal daquilo e tudo, caramba, mas que sorte, os acordistas afinal são imensamente tolerantes.

Em qualquer dos casos, porém, digo eu, a intenção propagandística é claríssima: a impressão que passa para a opinião pública é a de que esses convidados oposicionistas estão ali enquanto parte integrante do mesmíssimo AO90 que, assim sendo, afinal aceitam, visto que aceitaram comparecer na circunstância e colaborar na pompa.

Proselitismo acordista por portas travessas: absorver numa aparente maioria esmagadora  fingindo tolerar uma aparente minoria irrisória. Tudo ao contrário, portanto, uma técnica velha e relha, já tem barbas, esquisito é que ainda caiam na esparrela homens feitos e não apenas putos imberbes.

logo_shareUm cânone literário que mostre a diversidade da língua portuguesa

Luís Miguel Queirós
02/12/2015 – 22:31

No primeiro dia do congresso ‘Língua Portuguesa: Uma Língua de Futuro’ o ensaísta Vítor Aguiar e Silva fez proposta concreta para aproximar as literaturas de língua portuguesa.

(…)
Já o presidente da Câmara de Coimbra, Manuel Machado, cumpriu o seu papel de anfitrião da cidade, mas não se limitou a ele. Defendeu que ao contrário do período de dominação filipina, quando a missão era defender a especificidade e as particularidades da língua como forma de afirmação identitária, hoje “devemos fazer o contrário: simplificar a língua e aproximá-la da fonética”. Foi o que de mais próximo se ouviu de uma defesa do Acordo Ortográfico de 1990, tema que o programa do encontro nitidamente deixou na sombra e que tem no coordenador científico do congresso um dos seus mais notórios defensores, como tem no orador da conferência inaugural um seu também público adversário.

[A figura do “Zé Povinho” é uma criação de Rafael Bordalo Pinheiro. Imagem de Wikipedia.]

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