Dia: 14 de Janeiro, 2016

‘Verba volant, scripta manent…’

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“Discurso Direto”

Caros Amigos,

A educação está de novo na ribalta! Para melhor, para pior? Pessoalmente não sei e não posso dar, portanto, a minha opinião sobre isso. O que me parece grave é este modo político de actuar que vem marcando a educação nacional há anos: sem debate, sem esclarecimentos, sem análises aprofundadas e esclarecidas, vai-se mudar de novo. Em suma, o laboratório experimental continua a funcionar, com as pequenas cobaias sempre ao dispor!

Como a mensagem que tentei enviar ao programa “Discurso Direto”, da TVI, com Paula Magalhães, por três vezes me foi devolvida (postmaster@MEDCAP.PT), decidi reencaminhá-la para os meus contactos habituais.

 


 

Ex.mos Senhores,

Tenho estado a seguir este programa e tentei intervir por telefone, mas não consegui. Fui professora de Português e Francês e, embora reformada, não posso alhear-me dos problemas da educação, pelo respeito que me merecem as crianças e jovens do meu país e o futuro de Portugal.

A minha pergunta é esta: como é possível, mais uma vez, discutir a educação em Portugal, sem pôr em causa a ‘imposição ditatorial e anti-democrática’, no sistema de ensino, do Acordo Ortográfico de 1990 (AO90), que nos destrói a língua – nosso património colectivo identitário e estruturante – e tem sido condenado pelos mais credenciados especialistas e recusado pela grande maioria dos portugueses? E mais uma vez, pais, encarregados de educação, professores e políticos calam-se, dobram-se e nem sequer questionam o AO90 em si nem os processos duvidosos que conduziram à sua aprovação e aplicação entre nós, nomeadamente a RES. AR n.º 35/2008 e a RES. do Conselho de Ministros de José Sócrates n.º8/2011, de 9 de Dezembro de 2010, prontamente posta em prática pelo governo de Passos Coelho, a partir do ano lectivo de 2011-2012.

 


 

Para quem não leu ou anda muito distraído, proponho a leitura de um texto meu, já publicado no sítio da ILCAO:
“A HERANÇA”
Verba volant, scripta manent…:

https://cedilha.net/ilcao/?p=6272

Os meus cumprimentos,
Maria José Abranches Gonçalves dos Santos
Lagos

[Transcrição integral de “post” publicado no “blog” Horizonte Português em 14.01.16.]

‘Veritatis simplex oratio’ [Luisa Karlberg, “A Gazeta do Acre” (Brasil)]

Brasao_AcreGentílico acreano deve integrar armas e brasões do Acre

Postado em 13/01/2016 21:47:41

As armas e brasões do Estado do Acre: Bandeira Acreana, Hino Acreano, Selo Acreano,  Gentílico “Acreano”. (Deveria ser assim) Temos, como lema presente na borda do brasão, Nec Luceo Pluribus Impar, significa “Não brilho diferente dos outros”. Isso significa dizer que temos, como todas as gentes do mundo, tradições, usos, costumes. Temos, igualmente, um gentílico que, agora, um Acordo Ortográfico, entre alguns países da lusofonia, quer nos tirar. Portugal, na maior parte, rejeita o Acordo (o povo português). Todavia, é salutar dizer, de antemão, o seguinte: o mencionado ACORDO é Ortográfico, não é Morfológico. Gentílico é campo da morfologia, não é assunto de ortografia.

Com isso eu desejo traduzir que o gentílico acreano faz parte de nossas vidas, marca a nossa identidade regional. Não pode subjugar-se aos efeitos de atos normativos emanados de qualquer acordo que não brote da vontade popular. Acreano é mais do que um gentílico, é a própria alma e vida do povo desse extremo Oeste do Brasil.

A língua é a mais extraordinária engrenagem por onde circula a cultura e a tradição. A relação entre elas é de profunda intimidade. E acreano, uma criação espontânea, ao longo de 137 anos, consagrou-se pelo uso. Não interessa se contraria alguma regra, pois nenhuma regra é imutável no campo da linguagem. E o próprio Acordo Ortográfico está recheado de exemplos, ora respeitando a tradição do português europeu, ora assegurando o cânone brasileiro. Esses arranjos todos estão ali para dizer que a língua, assim como a vida, quer palpitar, crescer, tornar-se flexível e colorida, expandir-se, enfim, viver. E nós optamos, elegemos, há 137 anos, o gentílico acreano.

Ademais, esse Acordo Ortográfico tem odor de ato colonial, sem consulta ao povo, aos professores e demais profissionais que trabalham a língua portuguesa. Além do mais, duvido que Portugal e países africanos de língua portuguesa cumpram esse malfadado acordo. A Lusofonia só existe, de fato, por meio das relações humanas que são mais importantes, elas é que vão determinar a unidade linguística. Em Angola, por exemplo, somente 10% da população fala português. Como obrigar os demais falantes? Isso tudo é uma utopia em pleno século XXI. Eu, sinceramente, estou cansada desse desrespeito.

Lembro, também, que Tradição é uma palavra com origem latina traditio, que significa “entregar” ou “passar adiante”. A tradição é a transmissão de costumes, comportamentos, memórias, rumores, crenças, lendas, para pessoas de uma comunidade, sendo que os elementos transmitidos passam a fazer parte da cultura, como é o caso do gentílico ACREANO, que existe há 137 anos, desde 1878, e vem sendo consolidado a cada geração. Isso não é brincadeira.

Também, devo dizer que o gentílico acreano já se estabeleceu como tradição. E como se estabelece uma tradição? Ela se estabelece com bastante tempo de uso, prática, costume, igualmente uma religião. Não é necessário que alguém prove ser assim, porque já se fez assim ao longo da história.

Igualmente, diferentes culturas e mesmo diferentes famílias possuem tradições distintas. Algumas celebrações e festas (religiosas ou não) fazem parte da tradição de uma sociedade. Muitas vezes certos indivíduos seguem uma determinada tradição sem sequer pensarem no verdadeiro significado da tradição em questão.
No âmbito da etnografia, a tradição revela um conjunto de costumes, crenças, práticas, doutrinas, leis, que são transmitidos de geração em geração e que permitem a continuidade de uma cultura ou de um sistema social.

No contexto do Direito, tradição consiste na entrega real de uma coisa para efeitos da transmissão contratual da sua propriedade ou da sua posse entre pessoas vivas. A situação jurídica resulta de uma situação de fato: a entrega que nos foi dada, construída do gentílico ACREANO. Uma tradição não é somente material, ela é, sobretudo, simbólica.

Nas religiões, a tradição é o fundamento, conservado de forma oral ou escrita, dos seus conhecimentos acerca de Deus e do Mundo, dos preceitos culturais ou éticos. Portanto, faço, aqui, mais um apelo aos brios do povo do ACRE: PRESERVEM O GENTÍLICO ACREANO. Que o Governador do Estado, por Decreto ou Resolução,  inclua, como arma e brasão do Estado do Acre o nosso gentílico histórico. Acaba-se, assim, de vez, essa controvérsia, e legitima-se, por Decreto o que a população consagrou há 137 anos, o gentílico que nenhum acordo pode mexer. A verdade dispensa enfeites. – Veritatis simplex oratio.

Luisa Karlberg

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[Transcrição integral de artigo, da autoria de Luisa Karlberg, publicado por “A Gazeta do Acre” (Brasil) em 13.01.16. Imagem de topo: Wikipedia. Os “links” e destaques são meus.]