Academia de Lisboa versus Académie française

frases-o-gloria-de-mandar-o-va-cobica-desta-vaidade-a-luis-vaz-de-camoes-14540Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade, a que chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
C’uma aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles experimentas!

 

logo_ACLA Academia das Ciências de Lisboa é uma das mais antigas instituições científicas nacionais de existência contínua, tendo sido fundada no dia 24 de Dezembro de 1779 durante o reinado de D. Maria I, sobre o lema: NISI UTILE EST QUOD FACIMUS STULTA EST GLORIA.

A sua missão é assegurar ao Governo português consultoria em matéria linguística. Coordenar a sua ação com a Academia Brasileira de Letras e com a rede das academias europeias e mundiais, incluindo os países de língua oficial portuguesa e os núcleos portugueses no estrangeiro. Contribuir para a sociedade de Informação, do saber e da sabedoria com vista à valorização da participação portuguesa no globalismo.
(Dec-Lei Nº 7/78, de 12 de Janeiro)*.

Bem-vindo à Academia das Ciências de Lisboa

 

French_Academy_logoLa mission confiée à l’Académie est claire : « La principale fonction de l’Académie sera de travailler, avec tout le soin et toute la diligence possibles, à donner des règles certaines à notre langue et à la rendre pure, éloquente et capable de traiter les arts et les sciences. » (Article 24 des statuts.)

L’institution – Les missions -Défense de la langue française

Intéressons-nous maintenant au nom Immortalité, puisque la devise de l’Académie française est « À l’immortalité », en hommage à l’immortalité de la langue française.

Académie et immortalité

 

Como comparar o que não tem comparação possível?

A um conceito límpido e transparente, como seja o da imortalidade da Língua francesa, contrapõe-se (apresentada numa construção frásica muito duvidosa**) a locução latina cuja tradução pode ser “se o que fazemos não é útil, vã é a glória“.

De facto, pelo menos no que ao “acordo ortográfico” diz respeito, os doutos elementos da ACL bem podem, digo eu, com o devido respeito, limpar as mãos à parede. Glória? Qual glória? Nem vã nem sem ser vã, senhores!

De um lado, temos que a Académie française aprova, por unanimidade, uma declaração formal manifestando a sua firme oposição a qualquer modificação da ortografia.

Do outro lado, em posição diametral e estupidamente oposta, a “Academia” portuguesa não apenas aprova como apoia e promove um “acordo ortográfico” que não é acordo algum e que de ortográfico nada tem.

Num lado, a Academia francesa reafirma expressamente que não compete ao poder político nem a qualquer Governo em funções legislar sobre ou regulamentar em matérias da Língua.

Noutro lado, que agora mais parece um lado qualquer, a “Academia” portuguesa não apenas faz tudo para assegurar ao Governo português consultoria em matéria linguística como ainda promove a coisa “científica” o AO90, esse mero instrumento político ao serviço de interesses obscuros, que foi cozinhado nas costas dos portugueses e que não serve para absolutamente nada… a não ser para lançar o cAOs no Ensino, na Administração, nos media e, portanto, em todo o tecido social português.

Se o que fazem os ditos doutos senhores é assegurar ao Governo português consultoria em matéria linguística, então declaradamente não apenas se limitam a produzir inutilidades como não são sequer Academia, são uma simples agência de revisores de provas, funcionam como qualquer centro de explicações à hora, servem de gabinete especializado em desenrascar governantes ligeiramente iletrados. Produzindo tais e tão chocantes chorrilhos de inutilidades, das quais a mais espectacular é sem dúvida o famoso AO90, aos ilustres membros da ACL está já reservado um palanque inteiro no panteão da “vã glória de mandar”, adornando todas tão ilustres cabeças a etérea coroa de louros dos inúteis.

Temos, portanto, dois lados (salvo seja), um dos quais muitíssimo mal frequentado e nada recomendável. Não pretendo com isto dizer que devam agora as pessoas civilizadas e decentes do meu país emigrar para um outro que é decente e civilizado. Nada disso. É o que apetece, de facto, vistas bem as coisas, tentando comparar o que não é de todo comparável, mas ainda assim julgo preferível ficar a fugir, resistir a desistir e, sobretudo, continuar por cá a lutar pela reposição da normalidade ortográfica em vez de pedir asilo político a uma nação em que o direito à sanidade mental está legalmente protegido.

“Dura inquietação d’alma e da vida,
Fonte de desamparos e adultérios,
Sagaz consumidora conhecida
De fazendas, de reinos e de impérios:
Chamam-te ilustre, chamam-te subida,
Sendo dina de infames vitupérios;
Chamam-te Fama e Glória soberana,
Nomes com quem se o povo néscio engana!

 



*O Dec-Lei Nº 7/78, de 12 de Janeiro, mencionado no “site” da ACL, não tem absolutamente nada a ver com o assunto. Vamos presumir que isto será apenas (mais) uma “gralha”.
**Parece-me que a formulação correcta seria “sob o lema” e não “sobre o lema”.
Nota: a questão em França é apenas sobre umas quantas “simplificações” e não tem carácter obrigatório; nem remotamente o caso se parece com um “acordo ortográfico”

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1 Comment

  1. Uma corja de amesendados receosos de lhe cancelarem o subsídio.
    «Consultoria em matéria linguística»?! — Foda-se!

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