1 €

Este é o 2.º artigo sobre o assunto de capa do jornal “i” de 08.03.16.

Já o disse e repito: boa sorte.

Haja esperança, que diabo! Pode bem suceder que afinal todos estes reputadíssimos Conselheiros do novo Chefe de Estado consigam influenciá-lo de alguma forma, quem sabe…

Queira Deus que só eu esteja nisto redondamente enganado e toda a gente carregadinha de razão. Pois está claro, não conta para nada o facto de a esmagadora maioria dos portugueses (de todas as castas) ser contra o AO90 e, portanto, tratar-se de mera inerência tal concentração de anti-acordistas entre os Conselheiros do Presidente. Sejamos optimistas, por conseguinte, não haverá nisto qualquer intenção de amaciar, amansar, trazer ao redil, ou seja, de literalmente silenciar tão prestigiadas figuras.

Muito provavelmente, serei o único — e apenas porque tenho mau feitio, claro, visto não passar de simples “leigo” na matéria, um gajo que não percebe nada “disto” — a achar, por exemplo, que se «o professor disse que as alterações introduzidas pelo acordo “não são substanciais”», então o professor deveria ter dito que as aberrações introduzidas pelo acordo são substanciais.

Espero bem valha a empreitada o preço do jornal, irrisória quantia que no entanto me custou bastante gastar em tão ruim pasquim recentemente anexado a uma conversão “expetante” ao mais abjecto acordismo militante.
Marcelo_ionline_2

MARGARIDA DAVIM

Marcelo Rebelo de Sousa não se habituou ainda a escrever sob as regras do acordo ortográfico de 1990, mas tem mantido uma posição ambígua em relação ao tema. Até hoje, nunca ninguém lhe ouviu uma posição crítica sobre a nova ortografia, mas está longe de fazer uma defesa clara do tratado.

Certo é que, em Belém, Marcelo estará rodeado de pessoas com opiniões fortes sobre o tema e críticas da actual solução ortográfica.

Pedro Mexia, que o Presidente eleito escolheu para seu assessor para a Cultura, é um dos mais críticos em relação ao acordo. E dois dos conselheiros de Estado indicados pelo novo Presidente são mesmo mandatários de um movimento que pede a realização de um referendo sobre o assunto. Eduardo Lourenço e António Lobo Xavier estão contra o acordo e gostavam que os portugueses tivessem oportunidade de se pronunciar sobre ele.

O livro com as fotografias de Rui Ochoa que serve de testemunho da campanha presidencial de Marcelo também pode ser visto como uma indicação de pouco apreço pelo acordo.

O texto está escrito à revelia das novas regras e isso fica patente até no título. “Afectos” – de resto, a palavra que Marcelo mais usou em campanha – surge sem cê e fez com que a capa acabasse a ser partilhada várias vezes nos grupos anti-acordo que proliferam pelas redes sociais.

Tudo isto ajuda a que entre os anti-acordistas se tenha criado a ideia de que, com Marcelo em Belém, o debate possa ser reaberto. Mas a posição de Rebelo de Sousa sobre o tema não é tão clara como estes sinais parecem indicar.

Quando, durante a campanha eleitoral, o semanário “SOL” lhe perguntou o que pensava sobre o acordo ortográfico, a resposta foi apenas que “o seu sentido útil depende de servir ou não para a lusofonia”.

Há quase um ano, tinha feito em Valongo declarações que irritaram quem está contra a nova ortografia. Na altura, o professor disse que as alterações introduzidas pelo acordo “não são substanciais” para a língua portuguesa e defendeu que “para Portugal conseguir lutar pela lusofonia no mundo, tem de lutar por dar a supremacia ao Brasil”. Declarações que João Roque Dias, do Grupo AO Não, considera “estranhas” e pouco auspiciosas para o tema, apesar de achar que “se há alguém que pode ter um papel neste assunto, é o Presidente”.

[Digitalização (OCR) da edição em papel do corpo de artigo publicado na página 4 do jornal “i” de 08.03.16. Corrigi a ortografia. Inseri “links” e destaques.]