Coitado do Senhor de La Palisse, que não teve culpa nenhuma de ter morrido apenas um ou dois minutos depois de estar vivo e por isso mesmo a um lacaio seu lembrou sair-se com uma “lapalissada” tremenda sobre o inesperado falecimento do amo. Pois é, na verdade (ou ao que parece) jamais o próprio La Palisse proferiu ou escreveu (consta que era analfabeto) qualquer redundância ou truísmo (“vulgo”, tautologia), mas ao que parece (ou na verdade) gasta-se muito dessa “figura de estilo” por aí.
Eu cá, macacos me mordam, não aprecio nada subir para cima ou descer para baixo mas também me aborrece um bocadinho, por exemplo, não estar de perfeita saúde quando adoeço — e isto sucedendo, para mal dos meus pecados, por mais que eu diga e repita o contrário. Se um suicida, é só outro exemplo, se atirar do alto de um prédio com 20 andares, pode perfeitamente ir dizendo lá com os seus botões “olha, 14.º, 12.º, 8.º, 6.º, até aqui tudo bem”; palpita-me que daí a 5 andares (ou 2 segundos depois, vá) o infeliz terá muito provavelmente de chocar de frente, digamos assim, para não impressionar os mais sensíveis, com a porca da realidade, isto é, com o chão.
Já o muito velho e não menos sábio Pangloss dizia que tudo neste mundo, que aliás é o melhor dos mundos, está em perfeita ordem; e que, apesar de por vezes a ordem natural das coisas ser ligeiramente perturbada (terramotos, guerras, cataclismos de toda a sorte), maravilhosas forças — ocultas e inexplicáveis — repõem tudo de novo no seu curso natural e belo com gloriosa infalibilidade.
Suspiro. Por onde andará a menina Cunegundes?
Opinião
A não vigência do Acordo Ortográfico de 1990
Carlos Fernandes
09/03/2016 – 00:30
Para vigorar (de jure), impunha a unanimidade de aprovações finais dos sete Países signatários.
——————
Como velho diplomata português, e, embora já aposentado, não vou entrar em polémica com Sua Excelência o Embaixador do Brasil em Portugal em tudo, absolutamente tudo, o que tiver que ver com o relacionamento entre esse grande país que é o Brasil, de mim muito querido, e o meu pequeno e queridíssimo Portugal — isso é política internacional luso-brasileira, em que eu, dado o meu estatuto, entendo não dever (nem quero) entrar. Limito-me a declarar que só desejo que tal relacionamento seja o mais eficiente possível, em benefício mútuo, e também desejo ao Senhor Embaixador do Brasil os maiores êxitos na sua acção diplomática nesse sentido.
Portanto, vou restringir-me aos aspectos relativos ao Direito Internacional.
O Senhor Embaixador do Brasil termina a sua lengalenga, de que, obviamente, eu não necessito, por concluir que opiniões são opiniões, com o que eu concordo: o Senhor Embaixador do Brasil tem a sua opinião e eu tenho a minha, nem La Palice diria melhor, e, para que não haja dúvidas, vou repeti-la, não abstracta mas sim muito concretamente.
O texto e espírito do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 era a uniformização da ortografia e a consequente unanimidade de aprovações da ortografia do Português, hoje língua oficial de nove Estados soberanos. E, por isso, para vigorar (de jure), impunha a unanimidade de aprovações finais dos sete Países signatários.
Como qualquer pessoa entende, só essa unanimidade tem sentido, até porque, se fosse para manter ou fomentar a diversidade, para quê fazer um acordo que só teria sentido na base da unanimidade?!
(mais…)