Dia: 10 de Março, 2016

Nem faz bem nem faz mal

melhoralO conteúdo (imagem e texto) em baixo é reprodução de “post” inserido pela Guerra e Paz Editores em duas páginas minhas no Facebook.

Tenho aqui transcrito e comentado uma série de artigos publicados pelo autor daquele livro no jornal “Público” (ver 1, 2, 3, 4).

Devo deixar claro que a minha opinião sobre o tema é negativa, porque não vejo em que é que muda seja o que for apenas dizer(-se) que “o AO90 não está em vigor”, mesmo que se suporte essa tese numa longa, detalhada e certamente avisada lista de argumentos jurídicos.

No entanto, independentemente da opinião de cada qual sobre este assunto em concreto, parece-me que não existe qualquer motivo para que se não divulgue a publicação do livro. Quem quiser que o compre.

E o leia, se calhar. Poderá até não fazer lá muito bem, mas com certeza também não faz mal.

[Imagem de topo de Farmácia Rodrigues Rocha. Aconselha-se leitura da bula, nomeadamente quanto a contra-indicações. Eu cá, por exemplo, prefiro o Tramal, que também não faz bem nem faz mal.]


https://www.facebook.com/guerraepaz/photos/a.444041908995550.99449.441239522609122/1007708232628912/?type=3&theater

Cândido e Pangloss visitam La Palisse

candideCoitado do Senhor de La Palisse, que não teve culpa nenhuma de ter morrido apenas um ou dois minutos depois de estar vivo e por isso mesmo a um lacaio seu lembrou sair-se com uma “lapalissada” tremenda sobre o inesperado falecimento do amo. Pois é, na verdade (ou ao que parece) jamais o próprio La Palisse proferiu ou escreveu (consta que era analfabeto) qualquer redundância ou truísmo (“vulgo”, tautologia), mas ao que parece (ou na verdade) gasta-se muito dessa “figura de estilo” por aí.

Eu cá, macacos me mordam, não aprecio nada subir para cima ou descer para baixo mas também me aborrece um bocadinho, por exemplo, não estar de perfeita saúde quando adoeço — e isto sucedendo, para mal dos meus pecados, por mais que eu diga e repita o contrário. Se um suicida, é só outro exemplo, se atirar do alto de um prédio com 20 andares, pode perfeitamente ir dizendo lá com os seus botões  “olha, 14.º, 12.º, 8.º, 6.º, até aqui tudo bem”; palpita-me que daí a 5 andares (ou 2 segundos depois, vá) o infeliz terá muito provavelmente de chocar de frente, digamos assim, para não impressionar os mais sensíveis, com a porca da realidade, isto é, com o chão.

Já o muito velho e não menos sábio Pangloss dizia que tudo neste mundo, que aliás é o melhor dos mundos, está em perfeita ordem; e que, apesar de por vezes a ordem natural das coisas ser ligeiramente perturbada (terramotos, guerras, cataclismos de toda a sorte), maravilhosas forças — ocultas e inexplicáveis — repõem tudo de novo no seu curso natural e belo com gloriosa  infalibilidade.

Suspiro. Por onde andará a menina Cunegundes?

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A não vigência do Acordo Ortográfico de 1990

Carlos Fernandes

09/03/2016 – 00:30

Para vigorar (de jure), impunha a unanimidade de aprovações finais dos sete Países signatários.

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Como velho diplomata português, e, embora já aposentado, não vou entrar em polémica com Sua Excelência o Embaixador do Brasil em Portugal em tudo, absolutamente tudo, o que tiver que ver com o relacionamento entre esse grande país que é o Brasil, de mim muito querido, e o meu pequeno e queridíssimo Portugal — isso é política internacional luso-brasileira, em que eu, dado o meu estatuto, entendo não dever (nem quero) entrar. Limito-me a declarar que só desejo que tal relacionamento seja o mais eficiente possível, em benefício mútuo, e também desejo ao Senhor Embaixador do Brasil os maiores êxitos na sua acção diplomática nesse sentido.

Portanto, vou restringir-me aos aspectos relativos ao Direito Internacional.

O Senhor Embaixador do Brasil termina a sua lengalenga, de que, obviamente, eu não necessito, por concluir que opiniões são opiniões, com o que eu concordo: o Senhor Embaixador do Brasil tem a sua opinião e eu tenho a minha, nem La Palice diria melhor, e, para que não haja dúvidas, vou repeti-la, não abstracta mas sim muito concretamente.

O texto e espírito do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 era a uniformização da ortografia e a consequente unanimidade de aprovações da ortografia do Português, hoje língua oficial de nove Estados soberanos. E, por isso, para vigorar (de jure), impunha a unanimidade de aprovações finais dos sete Países signatários.

Como qualquer pessoa entende, só essa unanimidade tem sentido, até porque, se fosse para manter ou fomentar a diversidade, para quê fazer um acordo que só teria sentido na base da unanimidade?!

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Arre!

«É que isto não é uma questão linguística, é uma questão política.»

Malaca Casteleiro

 

O Acordo Ortográfico “é um problema científico e não político.”

Artur Anselmo

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Presidente da Academia de Ciências quer que Marcelo reabra discussão do AO

Luís Miguel Queirós

08/03/2016 – 22:42

Artur Anselmo acha que há “coisas incompreensíveis e inaceitáveis” no Acordo Ortográfico e lembra a um presidente de “afectos” que não “não há afecto mais forte do que o da língua”.

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O Acordo Ortográfico (AO) de 1990 “é um problema científico e não político”, disse ao PÚBLICO o presidente da Academia de Ciências de Lisboa, Artur Anselmo, que gostaria de ver Marcelo Rebelo de Sousa tomar a iniciativa de ouvir os especialistas e contribuir para despiorar” um acordo com “coisas incompreensíveis e inaceitáveis, que o senso comum não aceita, e que têm de ser corrigidas”.

O sucessor de Cavaco Silva tem mantido uma posição ambígua sobre o assunto, mas escreveu um artigo de opinião para o Expresso, já depois de ter sido eleito, com a ortografia anterior ao AO, e o livro do fotógrafo Rui Ochôa sobre a sua campanha presidencial, que ele próprio prefaciou, chama-se Afectos, com “c”, e está igualmente escrito na ortografia pré-acordo.

Estes indícios de que Marcelo Rebelo de Sousa não pretenderá respeitar o AO nas suas novas funções têm gerado polémica nas redes sociais, e o jornal i a fez esta terça-feira manchete com o assunto, ouvindo vozes a favor e contra o acordo. Artur Anselmo sugeriu que “nunca é tarde para corrigir situações que chocam a mentalidade das pessoas”; Pedro Mexia, que Marcelo escolheu para seu assessor cultural, reconheceu que há “a expectativa” de que a discussão possa vir a ser reaberta, mas notou que não há indicação de que Marcelo pretenda assumir qualquer iniciativa presidencial nessa matéria; e o “pai” do AO, Malaca Casteleiro, defendeu que o Presidente da República (PR) é obrigado por lei a aplicar a nova ortografia nos documentos oficiais.

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