«Um golpe dos ‘patrões’ da Língua» [Cândido Lince, “Jornal de Angola”]
Portanto, se Angola ratificar mesmo aquela coisa, longe vá o agoiro, cai pela base — infelizmente, mas de imediato — uma das condições sine qua non que alguns apontam como impedimento decisivo para a entrada em vigor do AO90.
Pois, se tal desgraça acontecer, Deus não permita, ainda que seja eu, como dizia Gandhi, “uma minoria de um”, mantenho – e agora por maioria de razões – que “a verdade continua a ser a verdade” e, portanto, jamais acatarei esse (ou qualquer outro) ditame estrangeiro.
Ainda no âmbito da sua nomeação pelo Governo para o Centro Cultural de Belém, o novo Director refere ele mesmo esta objecção:
«Antigo eurodeputado do PSD argumenta que “o Acordo Ortográfico não está nem pode estar em vigor” porque Angola e Moçambique ainda não ratificaram o documento» [“Expresso”, 03.02.12]Ora, segundo esta outra linha de raciocínio quanto a factores decisivos (de impedimento), então bastaria os (2) países que (ainda?) não ratificaram o fizessem, por fim, para que tudo estivesse nos conformes?
Portanto, considera-se assim aceitável que o nosso (ou qualquer outro) país fique literalmente refém de uma decisão tomada por um ou por mais do que um Governo estrangeiro? A entrada em vigor do “acordo ortográfico” em Portugal decide-se em Luanda ou no Maputo? Uma lei passa a vigorar em Portugal quando os moçambicanos e os angolanos resolverem decidir isso?
Uma história (muito) mal contada [XVIII]
Angola avalia novo Acordo Ortográfico antes de decidir se ratifica
O ministro da Educação angolano explicou que, nos “próximos dias”, deverão estar concluídos os relatórios sobre os inquéritos à percepção da utilização do novo Acordo Ortográfico da língua portuguesa, que vão contribuir para a decisão de ratificação por Angola.
———–
O governante, que tutela este processo, falava terça-feira, em Luanda, no final da reunião de balanço da comissão multi-sectorial para a ratificação do Acordo Ortográfico, encontro durante o qual garantiu que a análise angolana está a “evoluir bem”, mas sem se comprometer com a adesão de Angola ou prazos para a decisão a tomar pelo executivo.
“Uma boa evolução do trabalho, que deve continuar a ser desenvolvido. Ainda nos próximos dias devemos concluir relatórios sobre o inquérito que foi feito sobre a percepção e a utilização do Acordo Ortográfico no seio da população, dos estudantes e dos professores”, disse Pinda Simão, em declarações aos jornalistas.
O Governo angolano ainda não decidiu sobre a ratificação final do novo Acordo Ortográfico da língua portuguesa.
Em Portugal, a moratória sobre a aplicação do novo acordo (de 1990) terminou a 13 de Maio de 2015, data a partir da qual a sua utilização passou a ser obrigatória.
A coordenadora nacional do Instituto Internacional de Língua Portuguesa (IILP), Ana Paula Henriques, explicou anteriormente que Angola pretende a “correcção de bases identificadas como carentes de informação suficiente técnica e científica”, de forma a fazer uma “gestão da língua sem constrangimentos”.
Estas conclusões resultaram de um encontro de esclarecimento realizado há precisamente um ano, em Luanda, pelo IILP, durante o qual foi divulgado que o Governo angolano pretende que todos os países de língua portuguesa tenham a possibilidade de manter um vocabulário ortográfico nacional.
O português é a língua oficial em Angola, mas o país conta com seis principais línguas nacionais, muitas das quais acabaram por incorporar alguns conceitos e palavras, face à longa presença colonial portuguesa.
O Acordo Ortográfico foi ratificado pela maioria dos países lusófonos, à excepção de Angola e Moçambique.
[“Diário Económico”, 23.03.16. Inseri “links” e corrigi a ortografia da “agência Lusa”.]