Dia: 28 de Março, 2016

O descoberto

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O que se segue é o texto do discurso proferido pelo pretendente ao trono português, Duarte Pio de Bragança, na cerimónia em que foi agraciado com uma medalha, em 16 de Março de 2016, pela União Brasileira de Escritores. Texto este que, louve-se a UBE pela gentileza, foi publicado com a ortografia correcta, o que não deixa de ser surpreende se atendermos ao facto de o orador se assumir — lamentavelmente — como acordista militante.

Condição (lamentável) essa que pudemos já constatar, por exemplo, quando o agora agraciado pelos brasileiros declarou que (o AO90) serve para «tornar a nossa escrita mais lógica do ponto de vista fonético e menos dependente de critérios etimológicos que dificultam muito a sua aprendizagem», ou quando nos deixou intrigados (e estupefactos) com uma sua lapidar pergunta: «Seria preferível ficarmos “orgulhosamente sós” com a nossa ortografia?»

Extraordinário, não é? Pois é. O Duque de Bragança adora, pelos vistos, aquilo que ele mesmo e mais uns quantos designam como “português universal”, essa etérea, vaporosa, enevoada e indefinível coisa que é bem mais difícil de encontrar do que ao próprio Encoberto, em carne e osso, dar na telha aparecer por aí de repente, boas tardes, o meu nome é Sebastião, como vão as saúdinhas de vossemecês?

 

UBE_logo1 Começo por agradecer a tão honrosa atribuição da medalha Jorge Amado, um gesto que muito me comoveu. A responsabilidade de vir falar na União Brasileira de Escritores deixou-me bastante preocupado, porque eu gostaria de vos dizer alguma coisa de original e que justifique a vinda aqui de tão ilustre audiência.

Há muitos anos que me preocupo com a preservação da Língua Portuguesa. As independências das Nações que há mais de 500 anos se encontravam associadas a Portugal, acontecidas frequentemente de modo dramático, (fruto da guerra-fria existente na época entre a União Soviética e muitas democracias ocidentais), criaram situações de ruptura.

Felizmente, poucos anos passados notou-se que os laços afectivos existentes entre as várias comunidades que partilhavam uma nacionalidade comum com os Portugueses, conseguiram ultrapassar as divergências políticas e os ressentimentos inevitavelmente provocados pelas guerras da independência.

O Brasil não sofreu esse problema, graças à inteligência política dos próprios líderes independentistas brasileiros e dos meus Avós, D. João VI e Imperador D. Pedro I. É também de tomar em conta que o movimento independentista foi, obviamente, conduzido pelos descendentes dos Portugueses que colonizaram o Brasil. Tal não aconteceu em África. Mas todos os movimentos independentistas nas Províncias Ultramarinas Portuguesas em África sempre se esforçaram por cultivar a Língua Portuguesa como elemento indispensável da unidade nacional, em territórios habitados por populações que falam “muitas e desvairadas línguas”, como se dizia antigamente.

A actual multiplicidade de países que assumem o Português como Língua oficial torna a nossa Língua comum politicamente muito mais relevante, sendo a quinta língua mais falada do mundo. Este facto tem, para além do seu interesse cultural, uma grande importância económica e política.

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