Acordo ortográfico: Marcelo pode escrever “como quiser” mas o PR “tem de cumprir a lei”
Linguista Malaca Casteleiro, um dos principais impulsionadores do acordo, rejeita qualquer “fracasso” e defende que “não se deve mexer no que está feito”, depois de o Presidente da República ter escrito um artigo de opinião na antiga grafia.
Ele há coisas do diabo, salvo seja. Estas duas “notícias”, a da TVI24 e a da SICN, enxertadas ambas da cepa torta da “agência Lusa” e publicadas com quatro minutos de intervalo, mas que grande coincidência, servem uma finalidade meramente política. Através dos serviços de intoxicação e de desinformação do Estado, como de costume, Malaca envia um recado claríssimo: a revisão do AO90 será efectuada logo que possível, isto é, de imediato — pode avançar.
Malaca Casteleiro rejeita qualquer “fracasso” no Acordo Ortográfico
O linguista Malaca Casteleiro rejeitou hoje qualquer “fracasso” relativamente ao Acordo Ortográfico, de que foi um dos principais impulsionadores, desvalorizou a demora na aplicação e defendeu que “não se deve mexer no que está feito”.
————–
“Não há aqui nenhum fracasso. Há naturalmente um tempo de implementação do acordo que exige, digamos, percursos diferentes para os diferentes países”, afirmou, em declarações aos jornalistas, à margem da Conferência Internacional sobre Ensino e Aprendizagem de Português como Língua Estrangeira, que decorre na Universidade de Macau entre hoje e sábado.
“Neste momento, não se deve mexer no que está feito“, sustentou.
O facto de o Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, ter escrito um artigo de opinião no jornal Expresso utilizando a antiga grafia foi interpretado, particularmente, pela corrente que contesta a reforma linguística, como um sinal de esperança relativamente a uma eventual reabertura do debate em torno de uma matéria que continua sem ser consensual.
“Se está em vias de aplicação em todos os países por que é que agora vamos rever, criar mais um empecilho para se conseguir a unificação ortográfica? É contraproducente. Do ponto de vista da política da língua não é conveniente”, observou Malaca Casteleiro.
“O Presidente da República tem todo o direito de escrever como ele quiser como cidadão. Quando é Presidente da República tem de cumprir a lei. E, neste momento, o Acordo Ortográfico constitui lei em Portugal e, portanto, tem de ser aplicada — só isso”, afirmou.
Questionado sobre se voltaria atrás em algum aspecto do Acordo Ortográfico, Malaca Casteleiro respondeu que “pode haver algum aperfeiçoamento”, contudo, “reservaria esse aperfeiçoamento para depois da sua implantação em todos os países de língua portuguesa”.
Mas nem todos os membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) ratificaram o Acordo Ortográfico, subscrito nos anos 1990.
“Esse trabalho está a ser feito”, vincou o especialista, recordando que “já só falta praticamente” Angola e Guiné-Bissau.
Malaca Casteleiro manifestou-se ainda confiante relativamente a uma eventual adopção do Acordo Ortográfico por parte de Macau, uma Região Administrativa Especial da China onde o português constitui uma das duas línguas oficiais pelo menos até 2049.
“Já temos discutido por várias vezes essa questão. Há de lá ir, a questão vai devagar. (…) O acordo vai chegar lá”, observou Malaca Casteleiro, que colabora na elaboração de manuais de ensino do Português como língua estrangeira para aprendentes chineses com uma instituição de ensino superior de Macau que — como enfatizou — “estão conforme o Acordo Ortográfico”.
Lusa
Como é óbvio, e aliás como também é costume, Malaca socorre-se das balelas habituais (“unificação ortográfica”, “já só falta Angola e Guiné-Bissau”, “a corrente que contesta a reforma linguística”, etc.) para fazer passar a mensagem que (agora) interessa, pelos vistos exclusivamente, tanto aos acordistas como a UMA das correntes contestatárias: vamos lá então “rever” esta coisa, a ver se conseguimos que a OUTRA corrente contestatária engula a patranha e se cale de uma vez por todas.
Isto poderá não ter ficado absolutamente claro nas duas primeiras “notícias” mas há uma terceira, precisamente a emitida pelo canal de “informação” do mesmo Estado que paga à e a agência Lusa. E nesta terceira versão, via RTP Notícias, a dita patranha já aparece mais governamentalmente desenvolvida, isto é, com todos os “éfes” e os “érres” do plano de revisão do AO90.