Dia: 10 de Abril, 2016

De Cabo Verde, sobre a “revisão” do AO90

Já chegaram a Cabo Verde os ecos dos mal disfarçados “boatos” sobre a revisão do AO90. Para quem porventura ainda pudesse duvidar do que está em preparação nos bastidores, pois então aí têm (mais) uma confirmação. E sendo esta apresentada, ainda por cima, de forma algo inocente, porque denotando uma tocante ingenuidade, o que é marca distintiva e inconfundível da “fuga selectiva” de informação: primeiro insinua-se, depois martela-se a hipótese até ela se tornar “natural”, por fim faz-se aquilo de que “toda a gente” já estava, afinal, à espera.

Fica este outro aviso, que deverá ser o último porque mais ainda seriam redundantes…

A-Semana-logoPresidentes em Acordo de Ortografia?

09 Abril 2016 Maria de Lourdes Lima

Com as notícias (ou boatos?) de que o Acordo vai ser revisto, o recente caso do presidente português, que teria escrito na ortografia antiga, tornou-se um “fait divers” (que já deu alguns poucos milhares de linhas na imprensa lusófona).

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Duas ou três notas prévias: 1ª O objetivo não é outro senão o da crítica construtiva. 2ª Este texto (na NNO) entra na categoria de “Escritas ao sábado”. 3ª Volto ao tema, porque o caso do PR de PT tornou-se um “fait divers” (que já deu alguns poucos milhares de linhas na imprensa e alguns bate-papos/paleios nos outros meios da comunicação social).

Vejamos então de mais perto o que se passa com a implementação do “Acordo”. Partilho aqui o resultado obtido em uma ou outra incursão pelos sites das presidências de alguns países lusófonos, em busca de resposta a uma só pergunta: Será que os países lusófonos, que implementaram o Acordo, estão a cumprir no que respeita à NNO – nova norma de ortografia –utilizada no seu site?

Vejamos então:

1) Site da presidência de Portugal

Até hoje, sábado, 9/4, regra geral, há coerência: como um dos países que implementaram o Acordo, Portugal – representado pela presidência – está a cumprir. Na data, o mês e o dia da semana em letra minúscula (amanhã é domingo, 10 de abril). A “base quarta” lá está: nada de escrever consoantes “mudas” (que metáfora, hein!): adotar, ato, batizar, exceção, contato, respetivo, direcionar, ótimo. E, claro, facto é facto, factual é factual, pacto é pacto, …optimizar.

A presidência publica as primeiras promulgações do novo PR. Tudo segundo o figurino da nova moda, ops, da nova norma. Mas há dias, tinham uma gralha – esta é a base do “fait divers” acima referido. Uma das gralhas: em vez de Lajes escrita com “g” (“des”ortografia, que constatámos também na nossa Lajinha – repita-se: quando “des”ortografada com “g”). A outra está a dar mais que falar, pois pode ter sido intencional. Ou melhor quase de certeza que é intencional: “efectivos”, assim mesmo! Ou seja, o PR, ou mais familiarmente como o próprio parece querer, o presidente Marcelo escreveu na “ortografia antiga”. Foi em recente artigo de opinião, publicado num semanário, e em nota de fim de texto esclareceu isso mesmo: que escrevia na “ortografia antiga”.

2) Site da presidência de Cabo Verde

Como um dos países que implementaram o Acordo, Cabo Verde – representado pela presidência – vai cumprindo como pode. Ora cumpre, ora não: Sim à “base quarta”, em atualizado, ações. Todavia, não em “actualidade, director,-a, acções”. Explicação possível: ortografia antiga mantida nas rubricas – que ainda não houve tempo para formatar segundo NNO. (Eis o que está no site: ACTUALIDADE //Procura-se manter o sítio da Presidência permanentemente atualizado de forma a dar informação útil a todos os cidadãos sobre as ações do Presidente da República.) Todavia, “nim” em “caracterizou”, que tanto em PE como em PB ora é com “c” ora sem “c”. (Vou deixar para outra ocasião os casos de “cabo-verdiana,-o/ Cabo-Verdiana,-o / Cabo-verdiana,-o /”. Todas aparecem no site presidencial, mas só duas estarão corretas. Podem ver no blog infra referido.)

Na data, o mês e o dia da semana com uma única exceção (“nascido a 20 de outubro”) continuam em ortografia antiga: “Mensagem alusiva ao Dia de África, 13 de Janeiro”./ Mensagem de S.E. (…)por ocasião do dia 27 de *Março, Dia da Mulher Cabo-*verdiana/“Comunicado de (…)alusivo ao Dia de África, 25 de Maio”. Quanto ao “Maio, Mês da Família”, em contexto inicial, nunca se vai saber se há ou não aplicação da NNO). Nos Clippings (recortes de notícias), seguem as normas dos jornais em causa: A Bola , por exemplo, ora usa ora deixa de usar a maiúscula de deferência…. O Observador é mais consistente no uso do estilo jornalístico – usa sempre a minúscula.

3) Site da presidência do Brasil

Até hoje, sábado, 9/4, regra geral, há coerência: como um dos países que implementaram o Acordo, o Brasil – representado pela presidência – está a cumprir (e também a revolucionar com a sua “presidenta” – como mostrei em www.scientiatpoesia-blogspot.com). Até “ótimo”, é igual ao que fica dito sobre Portugal. A partir daí, é otimizar por optimizar , é fato por facto, respectiva por respetiva…

4) Site da presidência de Angola:

Coerente: porque não assinou o Acordo, não segue a NNO.

(A continuar)

Um texto com bolinha vermelha no canto superior esquerdo

Aviso: o texto que se segue contém linguagem imprópria para as pessoas mais sensíveis em geral, não se recomendando a leitura a quem pretenda conservar intacta a sua sanidade mental ou a quem não queira, no mínimo, sentir-se violentamente agredido na sua inteligência por tão obscena prosa. Trata-se, ao contrário do que indicia o título do textículo, de um apelo alucinado ao ódio total e absoluto que, segundo o autor, os povos brasileiros deveriam sentir em relação a Portugal, aos portugueses e à própria História do Brasil. Evidentemente, este aviso prévio não se aplica a quem padece da síndroma vulgarmente designada como “complexo do colonizador”, já que para os portadores desta patologia toda a pancadaria que vier do Brasil para cá é bem-vinda, nunca será demasiado o “castigo” pelos “nossos crimes”, e, portanto, esses tais complexados até acham perfeitamente, coisa mínima, que Portugal “adote” o “brasileiro” como língua oficial “unificada”.
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Este não será o país do ódio!

06 Abril 2016

Marcos Bagno (*)

Nossa ínfima, arcaica e feudal elite dominante sempre tentou vender ao resto da população uma ideologia construída de diversos mitos: o mito da “democracia racial”, o mito da “tolerância” do povo brasileiro, da “convivência harmoniosa” das diferenças, da “alegria de viver” da nossa gente, da “hospitalidade”, da “humildade”, do “milagre linguístico”, porque todo mundo aqui fala “uma só língua” e todo mundo “se entende”, da “índole pacífica” do nosso povo, herdeiro da “assimilação amorosa” praticada pelos portugueses… e por aí vai.
As manifestações contra o governo da presidenta Dilma Rousseff – promovidas por essa mesma elite, insufladas por empresas de comunicação acintosamente fascistas e que apoiaram alegremente o regime militar, estimuladas por membros do poder judiciário descaradamente partidarizados e por parlamentares representantes de um ideário reacionário, intolerante, autoritário e irracional – essas manifestações têm servido ao menos para uma coisa positiva: desmascarar aqueles mitos e expor, nua e crua, a espinha dorsal ideológica da nossa oligarquia dominante.

Quem sai às ruas para pedir fuzilamento sumário de outras pessoas, para exigir a volta da ditadura militar, para se queixar da ascensão social das pessoas pobres, para vociferar contra os direitos trabalhistas estendidos às empregadas domésticas, para sugerir que os negros sejam enviados de volta para a África…

Quem, no supra-sumo do deboche e do descaramento, toma champanhe e come filé mignon na avenida Paulista ou em Copacabana sob o olhar das babás negras uniformizadas…

Quem não tem o mínimo resíduo de escrúpulos para expor semelhantes ideias e praticar tais atos diante das câmeras e ainda se orgulha de divulgá-las nas redes sociais…

Essas pessoas têm ajudado a sepultar aqueles mitos, tão zelosamente construídos pelos nossos mais brilhantes ideólogos, artífices de uma retórica que nunca teve nenhuma base objetiva, empírica, a não ser o desejo das nossas oligarquias de se conservar no topo da cadeia alimentar e controlar, com violência simbólica (além da violência física da prisão arbitrária, do genocídio e da tortura), a ampla maioria da população.

A verdadeira espinha dorsal da formação histórica do Brasil se chama ódio de classe. Somos o resultado de um processo colonial homicida, espoliador, destruidor de povos e culturas, escravizador, marcado pelo racismo, pelo machismo, pela intolerância religiosa, pela avidez insaciável dos donos do poder.

Mas os tecelões dos mitos da história brasileira se esmeraram sempre em negar tudo isso. O arquidelirante e narcísico Gilberto Freyre foi um deles.

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