Dia: 16 de Abril, 2016

Bombeiros pirómanos [por Olga Rodrigues]

fosforosMuito se tem falado da revisão do AO90. E da necessidade de ela ser bem feita para evitar ou “emendar” os graves erros que contém. E revisão bem feita, já o sabemos, é só aquela que é feita por “técnicos qualificados”,”especialistas dignos desse nome”, tudo gente de “reconhecido mérito”.

Mas vamos lá a ver: especialistas de reconhecido mérito não são o Malaca Casteleiro e o Evanildo Bechara? Em que diferem estes especialistas dos outros que pedem a revisão do AO? Será que é só uma mera questão de opiniões divergentes? De interpretações contraditórias do mesmo conjunto de normas que regem a língua portuguesa? E os “técnicos qualificados” que se afirmam claramente contra o AO, não se cansando de apontar os seus graves erros mas que, paradoxalmente, defendem a sua revisão e não a sua revogação pura e simples? O que pensar deles e o que pensar da solução que advogam, encharcando os media e inculcando na cabeça da maioria das pessoas a ideia de que a revisão é o único caminho a seguir?

Para já brandem o clássico argumento da autoridade. Deles, pois claro. O AO é deles. Eles o fazem, eles o refazem exactamente nas condições que lhes interessam. Às vezes até penso se não o criaram mesmo assim cheiínho de aberrações para toda a gente ficar tão chocada que vá a correr pedir a intervenção dos “técnicos qualificados” para atamancarem tal coisa. Ou seja, acabam a pedir aos pirómanos com a farda de bombeiros vestida para irem apagar o incêndio que eles próprios atearam.

Mais. Se pedissem a revogação do AO esses ” técnicos qualificados ” estavam a ser isso mesmo, técnicos qualificados. E ainda teriam a recompensa moral de terem preservado um património de todos. Mas arriscavam-se a voltar rapidamente para os seus gabinetes sem outro reconhecimento a não ser o do dever cumprido e nem um tostão no bolso. E enfrentavam o pesadelo de qualquer burocrata que é o de não ser preciso para nada. E o AO e a sua necessidade de revisão assegura que as suas “excelências” serão precisas por muito tempo.

Olga Rodrigues