Dia: 18 de Abril, 2016

“Que?”

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a) Conservam-se nos casos em que são invariavelmente proferidos nas pronúncias cultas da língua (…);

b) Eliminam-se nos casos em que são invariavelmente mudos nas pronúncias cultas da língua (…);

c) Conservam-se ou eliminam-se facultativamente quando se proferem numa pronúncia culta, quer em geral quer restritamente, ou então quando oscilam entre a prolação e o emudecimento (…);

Acordo Ortográfico de 1990 – Base IV: das sequências consonânticas – 1

Nota: as imagens foram retiradas do meu “mural” pessoal no Facebook; excepcionalmente, por motivos de reserva de privacidade, obscureci alguns pormenores e não indico os respectivos “links”.

“Independência ou morte!”

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Um novo Grito do Ipiranga… porquê?

Alexandre Parafita
18 Abril 2016 às 00:00

Após vir a uma das mais emblemáticas universidades portuguesas receber um surpreendente título doutoral, Lula da Silva, que se orgulhava de nunca ter lido um livro, não hesitou em, publicamente, fazer desabar sobre os portugueses as culpas dos actuais atrasos na educação no Brasil, por não terem, segundo os seus argumentos, criado universidades no território colonizado.

Uma desculpa esfarrapada, é claro, reveladora de uma grosseira ignorância, como, de resto, já aqui tivemos ocasião de demonstrar.

Não querendo estabelecer uma relação directa com este rasgo desabrido do ex-presidente Lula, merece-nos, ainda assim, grande estranheza a recente proposta do Ministério da Educação do Brasil de pôr fim à obrigatoriedade do ensino da literatura portuguesa no país, deixando esta de integrar a Base Nacional Curricular Comum (BNCC). Uma proposta que afastaria das escolas brasileiras autores marcantes da lusofonia como Pêro Vaz de Caminha (autor do texto fundador do Brasil), Camões, Gil Vicente, Padre António Vieira, Eça, Garrett, Pessoa, entre outros, e que, para cúmulo, surge quando Portugal e Brasil se empenham na CPLP e implementam um novo Acordo Ortográfico que exigiu das editoras um esforço enorme na adaptação e reedição das obras dos autores clássicos. [“Esforço enorme”? E lucros enormes, não?]

Mas mais estranho ainda é perceber, nos pressupostos, equívocos que induzem a crer que o ensino estruturante e matricial da literatura portuguesa seria uma espécie de “ruído” num novo plano estratégico educacional brasileiro voltado para a valorização dos textos tradicionais, da cultura popular afro-brasileira e indígena. Como se em alguma parte do Mundo esses universos ou modalidades culturais colidissem no sistema de ensino. E como se na literatura popular brasileira, tal como em muitos dos rituais tradicionais que a sustentam, não estivesse também o âmago de muita da cultura tradicional portuguesa. Com a particularidade de boa parte dessa cultura ter hoje mais força no Brasil do que em Portugal, onde muitas manifestações já se desfiguraram ou extinguiram. É o caso, entre muitos outros, das tradições do “Alardo”, “Cheganças”, “Congadas”, “Mouramas” “Taieiras”, “Reisados”, “Marujadas” e “Cavalhadas”, reposições de um teatro popular com origem medieval que continuam sendo um grande referencial lúdico e identitário da cultura tradicional brasileira.

É de estranhar a recente proposta do Ministério da Educação do Brasil de pôr fim à obrigatoriedade do ensino da literatura portuguesa, o que afastaria das escolas brasileiras autores marcantes da lusofonia. [Não é nada de estranhar. Isso chama-se “limpeza étnica”.]

Alexandre Parafita
Escritor

Leia mais: http://www.jn.pt/opiniao/convidados/interior/um-novo-grito-do-ipiranga-porque-5130673.html#ixzz4697NaszX

Nota: os comentários a verde são (obviamente) meus.

Imagem de topo: Por Pedro Américo – Martins, Lincoln. Pedro Américo: pintor universal. Brasília, Federal District: Fundação Banco do Brasil, 1994 ISBN 85-900092-1-1, Domínio público, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=20218656