Dia: 20 de Abril, 2016

CRUP: «Não há acordo sobre o acordo»

muralha_guimaraes«O monumento onde se lê “Aqui Nasceu Portugal”, em Guimarães, foi vendido a um empresário após a autarquia ter abdicado do direito de preferência para a sua aquisição por 190 mil euros.»
Diário de Notícias

 

logo_crupNão há acordo sobre o acordo

Mais Guimarães – O Jornal

19 Abril 2016

Catarina Castro Abreu 

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A língua portuguesa é usada correntemente em oito países por mais de 260 milhões de pessoas. É a sexta mais falada no mundo e é a língua materna de 203 milhões de pessoas. Une numa mesma comunidade nove países que aprovaram e ratificaram o Acordo Ortográfico de 1990 mas apenas em três vigora a obrigatoriedade da sua utilização. É um tema que continua a acender discussões apaixonadas, inclusivamente no berço de Portugal.

Dos países pertencentes à Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), apenas o Brasil, Cabo Verde e Portugal têm o novo Acordo Ortográfico – que não é tão novo assim porque é uma regra que existe desde 1990 – em vigor de forma obrigatória. Em Angola todo o processo está em stand-by e não há uma data definida para a entrada em vigor e muito menos para assumir um carácter obrigatório. Na Guiné-Bissau, o AO de 1990 está ratificado mas, tal como em Angola, também não há data de entrada em vigor nem de obrigatoriedade de aplicação. Na mesma fase estão Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.

Na semana passada, começaram as comemorações dos 20 anos da CPLP na cidade-berço sobre a “projecção internacional da língua portuguesa”. O Mais Guimarães esteve lá e durante um dia de debates, curiosamente, não se falou do Acordo Ortográfico de 1990 (novo AO).  Talvez porque, segundo Murade Murargy, secretário executivo da CPLP, “não haja motivo de fractura entre os países”. Mas o diplomata ressalva que “quando este acordo foi negociado, as pessoas não tinham consciência das implicações que isto ia ter, até mesmo no nosso material didáctico, há implicações financeiras muito elevadas e muitos países não avaliaram esse impacto”.

Murade Murargy acredita que o tempo vai resolver todos os diferendos: “Com o tempo e o desenvolvimento económico dos países, todos vão entrar em sintonia uns com os outros e o AO vai ser aplicado. Não se trata de uma questão política, apenas sim técnica”. Micaela Ramon, professora auxiliar do Departamento de Estudos Portugueses e Lusófonos do Instituto de Letras e Ciências Humanas da Universidade do Minho, também sublinha que “a ortografia não é um ponto essencial, é um ponto acessório e que não deve, de maneira nenhuma, constituir uma fractura entre os países que têm a língua portuguesa como língua oficial”.

A professora realça que “a questão da ortografia é uma convenção que é muito visível num determinado momento sincrónico. Tem vindo a ser alterada ao longo dos tempos e não é essa convenção ortográfica que descaracteriza na sua essência a língua”. “A língua mantém-se a mesma, mantém-se una na sua multiplicidade e variedades”, vinca.

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