Nunca entendi esta “questão”. Há-de ser decerto um assunto importante, a julgar pelo número de pessoas (pelo menos aparentemente) normais que a ele se referem amiúde, mas confesso que me ultrapassa mesmo “o” para que raio isto interessa. Em que é que este antiquíssimo fenómeno, esta trivialíssima parvoíce, tal vulgaríssima labreguice afecta a Língua Portuguesa enquanto corpus são e escorreito?
Pois é claro que a TVI (por exemplo, mas com direito a destaque) capricha na liquidação sumária do Português. Pois sim. Mas isso, raios, não tem absolutamente nada a ver com aquilo que nos interessa!
Anglicismos? Francesismos? Barbarismos? Estrangeirismos?
Sim, sempre houve disso. So what?
O “acordo ortográfico” é que é assunto, ok?
Peço desculpa pelo estilo blunt: isto é pura e simples conversa fiada, verbo de encher, bull shit. Tentem lá mudar o chip, caramba, deixem-se de conneries.
Perdidos na tradução
Nuno Pacheco
Faz-nos falta a Grande Cruzada da Tradução Nacional!
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Anda por aí um vírus, teimoso e persistente, ao qual nos vamos habituando com alguma moleza: o vírus do Anglicismo. Nada de muito grave, diga-se. O seu irmão mais velho, o Galicismo, imperou com pompa e proveito no século XIX. Depois auto-extinguiu-se, sem intervenção de qualquer vacina. Os pais, esses, são eternos: o Desdém e a Tolice. Antes de continuar, convém dizer duas coisas positivas. A primeira é que os portugueses são, ou tentam ser, saudavelmente poliglotas, e para isso muito contribui o facto de não haver, por exemplo, tradução oral mas sim legendagem de filmes, documentários ou séries (ao contrário do que sucede, por exemplo, em Espanha, França ou Inglaterra), e assim desde muito novos que todos sabem como soa o inglês, o francês, o espanhol, o alemão ou o japonês. A segunda, é que o uso de palavras ou frases estrangeiras no dia-a-dia, por necessidade ou brincadeira, não faz mal a ninguém e nem sequer é criticável. Ninguém se lembraria, a não ser os mais puristas, de traduzir Facebook por Livro de Caras ou Twitter por Gorjeio.
No entanto, há casos onde o abuso do inglês se torna caricato. Vejam-se, por exemplo, muitos concursos televisivos nacionais (The Big Picture, Got Talent Portugal, Cook off, The Voice Portugal, Fama Show, Love on Top, etc); os nomes que travestiram tantas universidades; a gíria que infesta a economia e a gestão; ou o recém-inaugurado e prometedor News Museum. Quem escolheu o título em inglês deve tê-lo achado mais cosmopolita. Museu das Notícias? Que saloiada! Mas e o também recente Museu do Dinheiro? Não será este tão ou mais universal do que as notícias? Então, o que esperam para fazer dele um Money’s Museum, hã?
Ah, faz-nos falta a Grande Cruzada da Tradução Nacional! Ponhamos em Belém uma Tower e um Monastery, para ajudar os turistas; troquemos as ruas por streets; chamemos trains aos comboios e ATM aos multibancos, sejamos, como se diz?, universais! — que o Desdém pelo nosso idioma e a Tolice de ignorá-lo farão o resto.