“Rien ne va plus”

tvi24_logo 09:05 – 08.04.16

Acordo ortográfico: Marcelo pode escrever “como quiser” mas o PR “tem de cumprir a lei”

Linguista Malaca Casteleiro, um dos principais impulsionadores do acordo, rejeita qualquer “fracasso” e defende que “não se deve mexer no que está feito”, depois de o Presidente da República ter escrito um artigo de opinião na antiga grafia.

Ele há coisas do diabo, salvo seja. Estas duas “notícias”, a da TVI24 e a da SICN, enxertadas ambas da cepa torta da “agência Lusa” e publicadas com quatro minutos de intervalo, mas que grande coincidência, servem uma finalidade meramente política. Através dos serviços de intoxicação e de desinformação do Estado, como de costume, Malaca envia um recado claríssimo: a revisão do AO90 será efectuada logo que possível, isto é, de imediato — pode avançar.

SICN_logo09:01 08.04.2016

Malaca Casteleiro rejeita qualquer “fracasso” no Acordo Ortográfico

O linguista Malaca Casteleiro rejeitou hoje qualquer “fracasso” relativamente ao Acordo Ortográfico, de que foi um dos principais impulsionadores, desvalorizou a demora na aplicação e defendeu que “não se deve mexer no que está feito”.

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“Não há aqui nenhum fracasso. Há naturalmente um tempo de implementação do acordo que exige, digamos, percursos diferentes para os diferentes países”, afirmou, em declarações aos jornalistas, à margem da Conferência Internacional sobre Ensino e Aprendizagem de Português como Língua Estrangeira, que decorre na Universidade de Macau entre hoje e sábado.

Neste momento, não se deve mexer no que está feito“, sustentou.

O facto de o Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, ter escrito um artigo de opinião no jornal Expresso utilizando a antiga grafia foi interpretado, particularmente, pela corrente que contesta a reforma linguística, como um sinal de esperança relativamente a uma eventual reabertura do debate em torno de uma matéria que continua sem ser consensual.

“Se está em vias de aplicação em todos os países por que é que agora vamos rever, criar mais um empecilho para se conseguir a unificação ortográfica? É contraproducente. Do ponto de vista da política da língua não é conveniente”, observou Malaca Casteleiro.

“O Presidente da República tem todo o direito de escrever como ele quiser como cidadão. Quando é Presidente da República tem de cumprir a lei. E, neste momento, o Acordo Ortográfico constitui lei em Portugal e, portanto, tem de ser aplicada — só isso”, afirmou.

Questionado sobre se voltaria atrás em algum aspecto do Acordo Ortográfico, Malaca Casteleiro respondeu que “pode haver algum aperfeiçoamento”, contudo, “reservaria esse aperfeiçoamento para depois da sua implantação em todos os países de língua portuguesa”.

Mas nem todos os membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) ratificaram o Acordo Ortográfico, subscrito nos anos 1990.

“Esse trabalho está a ser feito”, vincou o especialista, recordando que “já só falta praticamente” Angola e Guiné-Bissau.

Malaca Casteleiro manifestou-se ainda confiante relativamente a uma eventual adopção do Acordo Ortográfico por parte de Macau, uma Região Administrativa Especial da China onde o português constitui uma das duas línguas oficiais pelo menos até 2049.

“Já temos discutido por várias vezes essa questão. Há de lá ir, a questão vai devagar. (…) O acordo vai chegar lá”, observou Malaca Casteleiro, que colabora na elaboração de manuais de ensino do Português como língua estrangeira para aprendentes chineses com uma instituição de ensino superior de Macau que — como enfatizou — “estão conforme o Acordo Ortográfico”.

Lusa

Como é óbvio, e aliás como também é costume, Malaca socorre-se das balelas habituais (“unificação ortográfica”, “já só falta Angola e Guiné-Bissau”, “a corrente que contesta a reforma linguística”, etc.) para fazer passar a mensagem que (agora) interessa, pelos vistos exclusivamente, tanto aos acordistas como a UMA das correntes contestatárias: vamos lá então “rever” esta coisa, a ver se conseguimos que a OUTRA corrente contestatária engula a patranha e se cale de uma vez por todas.

Isto poderá não ter ficado absolutamente claro nas duas primeiras “notícias” mas há uma terceira, precisamente a emitida pelo canal de “informação” do mesmo Estado que paga à e a agência Lusa. E nesta terceira versão, via RTP Notícias, a dita patranha já aparece mais governamentalmente desenvolvida, isto é, com todos os “éfes” e os “érres” do plano de revisão do AO90.

RTPN_logoAcordo Ortográfico: “O Presidente tem de cumprir a lei”

Sandra Salvado – RTP – 08 Abr, 2016, 12:42

O debate sobre o Acordo Ortográfico está longe de chegar ao fim. Agora é o linguista Malaca Casteleiro, um dos principais impulsionadores daquele instrumento, que vem desvalorizar a demora na aplicação e defender que “não se deve mexer no que está feito”. Isto depois de Marcelo Rebelo de Sousa ter escrito um artigo de opinião na antiga grafia, dias antes de tomar posse como Presidente da República.

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Não há aqui nenhum fracasso. Há naturalmente um tempo de implementação do acordo que exige, digamos, percursos diferentes para os diferentes países”, afirmou o linguista Malaca Casteleiro em declarações aos jornalistas, à margem da Conferência Internacional sobre Ensino e Aprendizagem de Português como Língua Estrangeira, que decorre até sábado na Universidade de Macau.

Acontece que a polémica em torno do acordo ortográfico voltou a ganhar fôlego, principalmente para quem é contra as novas regras. É que a poucos dias da chegada a Belém, a 5 de Março, Marcelo Rebelo de Sousa publicou na revista do semanário Expresso um artigo com um significativa opção.

Uma opinião dividida em 13 pontos, em que analisa os desafios colocados a todos os presidentes desde a fundação da República e avalia os riscos do presente e do que há-de vir.

Provavelmente, os mais distraídos não se deram conta de que Marcelo Rebelo de Sousa escreveu os meses do ano com maiúsculas e continuou a usar as consoantes mudas como “excepção”, “directo” ou “carácter” e, em jeito de nota de rodapé, podia ler-se: “Marcelo Rebelo de Sousa escreve de acordo com a antiga ortografia”.

Há esse debate e há essa expectativa”, reconheceu na altura ao jornal i Pedro Mexia, o agora assessor cultural do novo Presidente da República.

Mexia sempre criticou a nova ortografia, mas sublinhou que “não há nada de novo” no sentido de que venha a haver uma iniciativa presidencial sobre o acordo ortográfico. “A minha posição pessoal não é, nem tem de ser, a do Presidente”, salientou ao mesmo jornal.

Criar empecilhos

“Se está em vias de aplicação em todos os países por que é que agora vamos rever, criar mais um empecilho para se conseguir a unificação ortográfica? É contraproducente. Do ponto de vista da política da língua não é conveniente”, disse Malaca casteleiro, citado pela agência Lusa.

Questionado pelos jornalistas, em Macau, sobre se voltaria atrás em algum aspecto do acordo ortográfico, Malaca Casteleiro respondeu que “pode haver algum aperfeiçoamento“.

Mas “reservaria esse aperfeiçoamento para depois da sua implantação em todos os países de língua portuguesa“.

O certo é que nem todos os membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) ratificaram o acordo ortográfico, subscrito no ano 1990. Um facto que o linguista explica: “Esse trabalho está a ser feito (…) já só falta praticamente Angola e Guiné-Bissau”.

Mesmo sem sinais por parte de Marcelo Rebelo de Sousa, há quem queira trazer o novo Presidente para a discussão do novo acordo ortográfico, como é o caso do presidente da Academia das Ciências.

“Coisas de bradar aos céus”

“Nunca é tarde para corrigir situações que chocam a mentalidade das pessoas”, afirmou, no mês passado, ao jornal i Artur Anselmo, que defende uma revisão do acordo ortográfico.

O assunto é tão importante que merece que o Presidente da República interfira, chamando a Belém as autoridades linguísticas, porque há coisas de bradar aos céus neste acordo”, disse o presidente da Academia das Ciências.

O gesto do agora Presidente da República foi claramente ponderado e avaliado, mas abriu o debate sobre o tema, numa matéria que está longe de ser consensual.

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Parece-me, portanto, estar agora tudo clarinho como água, não tem nada que saber, a revisão do AO90 está já em marcha, quanto a isto as “reservas” apontadas por Malaca são nenhumas e as “condições” por ele aparentemente colocadas são literalmente a fingir: quando fala em “empecilhos” tenta condicionar (os ingénuos) e finge impor (aos ainda mais ingénuos) um factor de negociação quando refere “Angola e a Guiné-Bissau” como barreira temporal (“reservaria esse aperfeiçoamento para depois da sua implantação em todos os países de língua portuguesa”).

Note-se a terminologia tendenciosa, que de casual nada tem: o malaquenho “aperfeiçoamento” de algo que não passa de total fantochada, a “jornalística” expressão “abriu o debate sobre o tema”, ali aquele “corrigir”, o verbo mais criteriosamente suicida que seria possível escolher quando se fala de rever o absurdo — como se tal não fosse um absoluto contra-senso.

Os dados estão lançados, ambos os grupos interessados na “revisão do AO90” — os acordistas propriamente ditos e os outros — já declararam as suas intenções de ir a jogo.

Agora apenas haverá que decidir se iremos nós permitir que alguns profissionais da batota usem os seus dados viciados para jogar a sorte da Língua Portuguesa. É que, se os deixarmos, como sempre sucede nos jogos de azar, eles vão deitar a perder uma imensa riqueza que afinal é de todos e não só deles.

 

2 Comments

  1. Olga Rodrigues

    Muito bem visto!

  2. É espantoso, inacreditável, como o Malaca Casteleiro se permite «avisar» o presidente da república de que «tem de cumprir a lei» (que não o é)! Mas quem é que este gajo pensa que é? O que é que ele tem, ou faz, ou por onde anda, ou com quem se dá, que lhe autoriza tal pesporrência?

    E que dizer do extremo descaramento de «decidir» que (outros) «não (se) deve(m) mexer no que está feito»… quando ele mais não tem feito do que precisamente isso? Enfim, voltamos ao mesmo, uns são mais iguais do que outros…

    Porém, deve ser assinalado que alguns «jornalistas» já lhe colocam, claramente, a possibilidade de um «fracasso»; é significativo que tal palavra esteja a ser utilizada, que tal conceito, e eventualidade, esteja a ser considerado.

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