Dia: 20 de Maio, 2016

Portugueses contra o AO90? «Isso é choro de quem já perdeu» [Evanildo Bechara]

Bechara

Já tinha ouvido muita coisa mas nada que sequer remotamente se pareça com a (inacreditável) frase seguinte: «Isso é choro de quem já perdeu a oportunidade de defender uma ortografia e, principalmente, é coisa injusta para as gerações futuras e para os jovens portugueses que vão começar a escrever com uma consoante que eles não ouvem, mas que tem que ser escrita por uma deliberação desastrosa.»

Como qualificar uma coisa destas? Pode um fulaninho como Evanildo Bechara insultar assim todos os portugueses — e são a maioria — que se opõem ao “acordo ortográfico” de 1990? Com que direito se refere à ortografia portuguesa como sendo uma “decisão desastrosa” que resultou de um simples “artifício ortográfico”? Mas o que raio vem a ser isto, afinal?

E não se ficam por aqui os dislates daquela pobre figurinha: toda esta entrevista é um festival de mentiras, ofensas e enxovalhos regurgitados por um Evanildo a rebentar de ódio, por um Bechara transpirando ressentimento para com tudo aquilo que vagamente (lhe) cheire a português.

Só ouvindo, de facto, que isto contando ninguém acredita.

Acordo ortográfico volta a dividir Brasil e Portugal depois de sete anos

19:03 19.05.2016 (atualizado 13:13 20.05.2016)

Depois de firmarem um consenso sobre unificação da língua escrita, após anos de polêmica, Portugal volta a se desentender com o Brasil em relação ao Acordo Ortográfico assinado em 2009, em vigor em Portugal em maio do ano passado e no Brasil desde 1º de janeiro deste ano.

A Associação Nacional de Profesores de Portugal e o movimento Cidadãos contra o Acordo Ortográfico entraram na Justiça portuguesa pedindo a revisão das normas [ver nota]. O acordo prevê mudanças como o fim do trema e novas regras para o uso do hífen e dos acentos diferenciais, entre outras mudanças. O Brasil foi um dos países que assinaram o tratado ao lado de nações africanas que têm o português como idioma oficial: Cabo Verde, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.

O objetivo é padronizar a língua, facilitar o intercâmbio cultural e científico entre os países e ampliar a divulgação do idioma e da literatura em língua portuguesa, já que os livros passam a ser publicados sob as novas regras, sem diferenças de vocabulários entre os países. De acordo com o Ministério da Educação, o acordo alterou 0,8% dos vocábulos da língua portuguesa no Brasil e 1,3% em Portugal. Entre as principais mudanças, está a ampliação do alfabeto oficial para 26 letras, com o acréscimo do k, w e y. As letras já são usadas em várias palavras do idioma, como nomes indígenas e abreviações de medidas, mas estavam fora do vocábulo oficial.

Considerado um dos maiores especialistas da língua portuguesa em todo o mundo, o filólogo e gramático Evanildo Bechara lamenta o questionamento apresentado agora pelos portugueses. Bechara — membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) e sócio correspondente da Academia de Ciências de Lisboa, além de professor universitário — concorda com o fato de que toda mudança nem sempre é bem recebida, na medida em sempre há reclamações de pessoas acostumadas com hábitos que vão ser alterados, entre eles os de se escrever numa nova ortografia.

«Uma reforma ortográfica, porém, nunca é para uma geração que já escreve, mas uma vantagem de ordem pedagógica para as crianças que vão aprender a escrever. Um grande escritor português, que era Fernando Pessoa, dizia que você tinha duas maneiras de escrever: uma de uso interno para os amigos, onde se podia usar a ortografia que você comum a voc e outra, escrevendo textos para a comunidade, que teriam que ser escritos na ortografia oficial.»

Bechara lembra que desde muito tempo Brasil e Portugal têm se reunido para resolver essas diferenças. Segundo ele, as propostas começaram a partir de 1911, quando Portugal fez uma pequena reforma para que o Diário Oficial e os livros didáticos tivessem uma só ortografia. De lá para cá, as duas Academias de Letras se reuniram algumas vezes, mas nunca chegaram a um denominador comum. Até bem pouco tempo, o Brasil ficou com o sistema de 1943, e Portugal com o de 1945.

«O Brasil ficou com o de 1943, porque era muito mais próximo dos hábitos brasileiros e os portugueses ficaram com o de 1945, porque esse sistema estava mais próximos dos hábitos lusitanos.»

Seja como for, tanto em Portugal quanto no Brasil, professores, acadêmicos, escritores sempre se esforçaram para que nossa ortografia fosse comum aos dois países e depois de 1975 aos países africanos que conseguiram suas independências políticas e que são têm expressão oficial portuguesa. Dessas tentativas saiu uma que se aproxima muito dos desejos dos dois países que é o acordo de 1990.

«Esses primeiros passos começaram no Brasil em 1986 e em Portugal em 1990, mas esse acordo é muito mais português do que brasileiro. Parece que os brasileiros são muitos mais levados a aceitar mudanças ortográficas do que os portugueses, que são mais tradicionais e se consideram donos da língua. Enquanto o Brasil teve que ceder em vários procedimentos, os portugueses só tiveram a obrigação de atender ao acordo de eliminar as consoantes mudas que na ortografia portuguesa servem para indicar em alguns vocábulos que o timbre da vogal anterior é aberto.»

Bechara dá como exemplo a pronúncia da palavra “diretor”, com o ”e” fechado no caso brasileiro e aberto com os portugueses.

«Para mostrar em Portugal que este “e” é aberto, adotaram o artifício ortográfico de colocar uma consoante muda que existia em latim como sinal de que o timbre da vogal é aberto e não fechado. Você usar uma consoante que você não pronuncia para indicar que o timbre de uma vogal é aberta e não fechada é não levar em conta a memória que têm todos os acadêmicos, os falantes da sua língua. A presença dessa consoante muda só vai atrapalhar o aluno. Você vai pronunciar diretor, mas se pronunciar diretor em Portugal tem que escrever com “c” (director). O aluno que está aprendendo a escrever não entende porque aparece um “c” se ele não é pronunciado.»

Segundo Bechara, essa é uma discussão inócua porque Portugal já deliberou taxativamente que há de conviver com essa ortografia.

«Isso é choro de quem já perdeu a oportunidade de defender uma ortografia e, principalmente, é coisa injusta para as gerações futuras e para os jovens portugueses que vão começar a escrever com uma consoante que eles não ouvem, mas que tem que ser escrita por uma deliberação desastrosa.»

[Transcrição de:
http://br.sputniknews.com/noticias/20160519/4683022/idioma-academias-escola-professores-revisao-justica.html#ixzz49DRaVwS2

Adicionei destaques e sublinhados.]

Nota: desconheço a existência de qualquer “movimento” ou, pior ainda, de uma “organização” de cidadãos contra o AO90; o que existe é um grupo Facebook com essa designação (muito “parecida”, aliás, com a designação por extenso da ILC-AO). E desconhecia (deve ser outra mentira) que esse grupo pede a “revisão das normas”; parece que aquilo é mais pela revogação da RCM 8/2011.

Governo português engraxa ditadura sanguinária de Obiang

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Autoridades da Guiné Equatorial apelam à população para que aceite o português

Malabo, 10 Maio 2016 (Lusa) – A Guiné Equatorial assinalou o Dia da Língua Portuguesa e da Cultura na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) com conferências, música e mostras de gastronomia, apelando à população para que “conheça a cultura portuguesa e aceite o português”.

A Guiné Equatorial, que aderiu à organização lusófona em 2014, assinalou o Dia da Língua Portuguesa e da Cultura na CPLP – que se comemora a 05 de Maio –, pelo segundo ano consecutivo.

“A nossa mensagem à população é que conheça a cultura portuguesa e a aceite, porque o português é outro idioma oficial na Guiné Equatorial e todos os cidadãos estão convidados a aprendê-lo e a aproximar-se desta cultura”, disse a embaixadora equato-guineense para a CPLP, Cristina Mangue Abeso, citada na página oficial do Governo da Guiné Equatorial.

Na conferência, intervieram representantes de países da CPLP, entre os quais Portugal, Angola, Brasil e São Tomé e Príncipe.

Segundo a mesma fonte, a embaixadora destacou a importância que a Guiné Equatorial, “como novo membro desta organização, atribui à festa da Língua e da Cultura Portuguesa”.

As celebrações prosseguiram no fim de semana, com mostras gastronómicas de Estados da CPLP e actuações musicais de grupos tradicionais, refere ainda o gabinete de imprensa oficial.

A introdução do português como língua oficial e a promoção do seu uso na Guiné Equatorial – país onde se fala maioritariamente espanhol e fang – foi uma das condições da adesão deste país à CPLP.

Quase dois anos depois da adesão à organização lusófona, a página oficial do Governo equato-guineense continua a ser escrita em três idiomas – espanhol, francês e inglês -, mas ainda não utiliza o português como opção.

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Sobre a Língua Portuguesa em Timor-Leste [“Tornado” online] 2/2

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Língua de Camões em Timor-Leste: Quo Vadis?

parte 1/2

Texto: M. Azancote de Menezes, em Timor

18 Maio, 2016

 (…)

Na maior parte das onze instituições de ensino superior do País, esta é a verdade, ensina-se só em língua indonésia pois os docentes não sabem falar nem escrever português.

Em algumas instituições ensina-se em tétum e em língua indonésia.

Os estabelecimentos que vendem livros de língua portuguesa, apesar de ter havido ligeira melhoria, são escassos, e os livros têm preços proibitivos, um luxo para o bolso da maioria dos estudantes filhos de agricultores pobres e dos professores dispersos pelo País que auferem um salário de miséria, obviamente insuficiente para sustentar as suas numerosas famílias, sendo certo que, por esta e por outras razões, não há nem pode haver hábitos de leitura.

As bibliotecas são escassas e as que existem nas universidades, praticamente, só têm livros em língua indonésia, alguns em inglês e raros em português.

E depois há aqueles que querem trabalhar com qualidade e interesse nacional mas são sistematicamente sabotados por razões mesquinhas, a maior parte das vezes por altos responsáveis que não sabem decidir em matéria de políticas de educação e no que respeita à regulação do funcionamento das instituições de ensino superior.

Um caso paradigmático é ilustrado pela Universidade de Díli (UNDIL).

Preparou-se para abrir este ano um curso de formação inicial de professores de língua portuguesa, elaborou o projecto em conformidade com as exigências da agência de avaliação e acreditação nacional, seleccionou docentes de alto nível científico-pedagógico com bom conhecimento da complexidade da situação linguística e sociolinguística nacional, abriu inscrições, constituiu uma turma, mas após ter solicitado um amparo financeiro insignificante ao Ministério da Educação, nem resposta escrita lhe foi apresentada, tendo-se verbalmente alegado não haver orçamento, note-se, para auxiliar a abertura de um curso de licenciatura de ensino de língua portuguesa (!).

O episódio que relatei, mas outros poderiam ser historiados, espelha a incongruência, as nossas fragilidades, a falta de visão estratégica, e o incumprimento superior da Constituição da RDTL e da Lei de Bases da Educação, porque é o próprio Estado, o mesmo que escolheu como línguas oficiais o tétum e o português, através do Ministério da Educação, a criar resistência à abertura de um curso de formação inicial de professores de língua portuguesa.

Enquanto isso, há vários docentes portugueses sem o devido aproveitamento na Universidade Nacional de Timor Loro´sae (UNTL), enviados pelo Instituto Camões, uma instituição que deixa muito a desejar em matéria de cooperação com Timor-Leste e que parece não entender o excelente trabalho que está a ser realizado pela Embaixada de Portugal em Timor-Leste, pela Escola Portuguesa Ruy Cinatti, bem como pela Fundação Oriente representada no País.

O lamentável estado de coisas que se verifica em Díli só pode significar que vários responsáveis políticos do País da área da educação, e do Instituto Camões, ainda não assimilaram que as políticas de educação superior só serão válidas se reflectirem uma linha orientadora que se baseie no estado actual do desenvolvimento da nossa educação superior e transporte consigo uma visão, uma missão, objectivos e metas que se enquadrem num projecto social globalizante.

Este é o cenário sociolinguístico verificado em Díli, mas, se avançarmos para os Municípios, a complexidade é enorme.

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