Ora aqui está uma ilustração textual perfeita daquilo que Leibniz designaria como “chama da eloquência, não desfazendo”, que para Voltaire seria (nas acertadíssimas previsões de Pangloss) “o expoente máximo da ordem natural das coisas, ortograficamente falando”, mas que para mim, pondo-me abusivamente na bicha, salvo seja, de tão ilustres e sabedores mestres, não passa de uma valente m… treta.
Um dos mais extraordinários fenómenos da luta contra o genocídio ortográfico, jamais explicado porque é de facto inexplicável, consiste no facto de na dita (luta) aparecerem de vez em quando uns inacreditáveis cromos que se julgam a última bolachinha do pacote intelectual, longe vá o agoiro, e que por conseguinte se acham no direito de maçar as pessoas normais com a sua putativa genialidade, impingindo às ditas (pessoas normais) um paleio absolutamente hermético e ininteligível que nem os próprios autores conseguem entender.
O texto que se segue é disso mesmo espectacular exemplo: do caldo palavroso ressalta que o fulano até será um bocadinho contra o AO90 (nunca fiando, vá lá, também pode ser um bocadinho a favor) mas isto ele é muito difícil de ler, impossível perceber seja o que for por entre tão intrincado, emaranhado, adjectivado, complicado, lixado… errrrrrrr… coiso… discurso, vá.
Este fulano deve achar que é um génio, ou assim, e se calhar até é, não sei, já não sei nada, caramba, pois eu cá, vou confessar aqui sem quaisquer caganças e é já, não entendi porra nenhuma disto.
Acordo ortográfico e cidadania cultural
No caudal das relações entre os países membros da CPLP, flutua um denso caldo de vivências cujos eventos e fenómenos configuram um intenso contexto de interpenetrações históricas, numa permanente osmose de aquisições e contribuições sempre recíprocas, que se resumem numa interdependência coexistente, e jamais desigual, sujeita a manipulações subjectivas e a jogos ideológicos que o colonialismo, mesmo passadas 4 décadas de “grandiosas” metamorfoses históricas e políticas ocorridas no relevo dos respectivos países, ainda não conseguiu extirpar, oferecendo contexto a dissonâncias que tendem dramatizar o a amistosidade intrínsecos a uma relação multilateral em cujo substracto interesses de Estado, caprichos culturais, ambições económicas e valores outros, se entrechocam, geralmente legitimando crispações e arrivismos de mui suspeita índole e em cujos contextos, a desconfiança e a crispação, quase solenemente montam os seus arraiais. Ainda bem que esse flagelo se locomova de e para países (Estados) já cabal e vezeiramente identificados. Eis que, à nascença, imediatamente à sua institucionalização e sem amadurecer os respectivos desideratos estruturantes, conhecemos uma instituição comunitária algo dividida, cujos estados membros se relacionaram ao sabor de motivações ideológicas ainda depostas, desconfortavelmente ambíguas e ambivalentes, e rodeada de pretensões históricas algo imediatistas e unilateralistas.
Logo ao emergir da instituição comunitária, os respectivos países se permitem mergulhar numa cruzada estruturante denominada “acordo ortográfico”, por sinal, o seu primogênito e ainda mediático projecto, que vem despoletando um cenário de velada crispação na CPLP que antes de tudo, deveria constituir-se uma potencial tribuna de coesão e reafirmação institucional no âmbito do reforço da sua “rés” cultural, e só depois, sistematizar projectos ou programas comunitários englobantes ou englobalizantes, na perspectiva de se constituírem um suporte operacional existencial decisivo à dignificação da sua cultura diversa assim como da respectiva língua comum. Com o desiderato (um tanto prematuro) de impulsionar um acordo ortográfico, nomeadamente entre países que apesar de luso-falantes ou seus tradutores, objectivam conjunturas internas diferentes e que mantêm relacionamentos estruturais particularmente complexos com a língua comum. Pois, a dimensão antropológica, estruturante e socializante da língua portuguesa nas respectivas nações, apesar de ser basicamente funcional, é idêntica, porém culturalmente diferente, tanto na sua perspectiva técnica e enquanto factor, nicho e reduto de história e cultura, requer mesmo coerência histórica e veracidade política.
E como que inevitavelmente, dada a uniformidade técnico-formal e metodológica imprimida no processo de “vigamento do acordo”, a sua apressada e anarquizada sistematização semântica, tanto no escopo vocabular assim como na sua “decantação lexical”, lesam de forma sinuosa o seu cunho patrimonial e normativo. Ressaltam-se ainda, levemente, no seu segmento sistémico e antropológico, acepções filosóficas amiúde desajustadas dos factores e simbolismos de natureza propriamente político-histórica em colisão com a dimensão histórica de uma interação cultural que a língua portuguesa vem determinando, desde séculos, entre nações antropologicamente diferentes embora mantida em circunstâncias político-históricas desiguais; inibem a sua condição antropolócio-cultural, desvirtuando assim os seus diversos factores, traços e entes simbólicos mais substractuais.
O acordo ortográfico deverá ser, pois, o celeiro de toda uma unificação do seu caudal histórico “plural e também particular”, tendo em referência a autonomia e a versatilidade cultural necessárias à consolidação da universalidade de uma língua portuguesa que já constitui património multilateral da humanidade e que não deverá ser materialmente subsidiada nem objectivada em prol de expedientes académicos ou ideológicos desestruturantes, atrofiadores de contextos e de energias identitárias particulares a cada nação individual, cujas comunidades são evidentemente usuárias, emissoras e tradutoras de suas línguas intrínsecas e particulares à sua cultura originária.
O ocordo ortográfico, trata-se mesmo de um tratado cujos pressuposto devem, com acentuada coerência ideológica e deontologia académico-cultural, demanadar de um imperativo de democracia cultural, de que as sociedades contemporâneas bem carecem para harmonizar os diferentes tipos de relações, e que urgentemente podem constituir-se uma energia potencial para revigorar e reabilitar suas estruturas relacionais com cultura e história, enformando a fraternidade histórica de uma comunidade cultural justa e coerentemente inserida na “aldeia global”, livre de direcionamentos ideologizantes e paternalistas, longe de tentações exclusivas e hegemónicas, sem tentações polarizantes nem marginalizadoras e coisificadoras, de sujeitos, objectos e povos, respectivas história e cultura, tornando-as livres de serviçalismos que as condicione e consequentemente as relegue a uma indiferença e a um grossseiro niilismo global.
Evitando cair na vigorosa e absorvente armadilha dos modismos culturais e respectivas externalidades (a própria política), e na inextrincável tentativa de promover-lhe a devida abrangência dialéctica e epistemológia, o projecto comunitário linguístico CPLP carece de tempo fecundamente intelectivo, muita discussão sinergial, nas suas vertentes mais valorativas e académicas, em busca da objectivação da sua dimensão multicultural e pan-histórica, ao abrigo de iniciativas académicas mais abrangentes que se traduzam num investimento colectivo vigorosamente representativo desse grandioso embora ainda emergente, espaço linguístico, tornando-o um espaço socialmente dinâmico e culturalmente confluente, encaixado num “corpus linguístico” com dignidade e personalidade dimensionadas no concerto de diversas comunidades linguísticas, portanto, inseridas na hereditariede global das culturas no tecido da história universal como sujeito colectivo da humanidade.
Assim, acauteladas os óbvios apressamentos estruturantes, no espectro diverso e pulsante da lusofonia, a língua bem pode e deve constituir-se um vector potenciador de uma personalidade cultural diversamente confluente, histórica e jurídicamente inter-relacionada, com veracidade histórica e integridade civilizacional. A sua individualidade e particularidades peculiares, de braços abertos, expandir-se-ão em direcção a um mundo, que para ser global precisa antes de ser local. Pois que, para ser global, é necessário antes de mais ser-se particular, individual e localista. Uma premissa essencial ao potenciamento do desígnio individual para constituir-se agente, energia e valor colectivo adquiridos. Tal como o factor local/regional, precisa antes ser regionalista como premissa fundamental para ser, nomeadamente nacional e consequentemente universal.
Essas esferas existenciais podem tornar-se os elos cruciais potenciadores de um todo existencial global que no segmento da lusofonia podem contribuir para o seu fortalecimento cultural. Com exercícios de auto-reconhecimento cultural, e com o dimensionamento histórico dos Estados respectivos na perspectiva de impulsionar o seu intercâmbio multidisciplinar, a língua falada por todos os utentes da língua portuguesa, constituir-se-á uma obra mais afectiva e mais institucionalizante e solidamente mais colectiva. Um empreendimento de emanação histórica em que o anónimos agentes engajados nessa crença semiológica universal, resulte em mais valias correlacionadas e recíprocas, não só para as suas particularidades e dimensões locais, assim como também aos desígnios da sua emancipação cultural, sem necessariamente truncar as energias e os formulários de cada comunidade ou nação. O pressuposto é nobre e acecível. Aceitar o outro para coexistirmos…
eheheh… Eis um tipo que escreve MESMO com o diccionário ao lado…
O tipo pode saber muito de muita coisa, mas de portuguez parece perceber pouco. “(…) sujeita a manipulações subjectivas e a jogos ideológicos que o colonialismo (…) ainda não conseguiu extirpar (…)”. Isto será um texto escrito em 1960?
“Ainda bem que esse flagelo se locomova de e para países (…)”?!. “(…) lesam de forma sinuosa (…)”?! Pôrra mesmo. O que é que isto quer dizer?!
Um texto de 1055 palavras sem qualquer sentido. O extraordinário não é um tipo escrever uma bosta destas. O extraordinário é que alguém a publique. A não ser que esta forma de escrever tenha mesmo um objectivo bem definido, o qual nós, pobres e mortais, não alcançamos.
Boas pedaladas.