Em 24 de Junho de 2015 publiquei aqui um texto, que recebi da autora, com o título “9 argumentos contra o AO90″. O semanário “Expresso” publica hoje um artigo da mesma autora com título e conteúdo idênticos, o qual me parece não conter alterações significativas em relação à versão já aqui publicada, à excepção da parte final (“Para terminar”). É, portanto, apenas esta parte final o que seguidamente transcrevo.
Com uma nota de discordância, porém. Ao contrário do que sucedeu na versão original, cujo conteúdo subscrevo na íntegra, este acrescento traz um desfecho que não apenas não subscrevo de forma alguma como rejeito terminantemente: «Mesmo este Acordo, que ainda não está instaurado em todo o mundo lusófono, é passível de emendas fundamentais».
“Emendas”? Não, de todo. O AO90 não é passível de coisa alguma além de ser atirado para o caixote do lixo da História. O “acordo ortográfico” não é um acordo e não é ortográfico. Não tem emenda.
Nove argumentos contra o Acordo Ortográfico de 1990
11.05.2016 às 8h00
Manuela Torres *[…]
Para terminar:
Outra coisa ainda deveria ser tida em conta: ao renunciar de modo cego às marcas históricas, este “acordo” insere-se num movimento global de apagamento da memória e de negação da História. Terrível movimento, que cada dia se torna mais evidente e que deixará sem raízes, sem passado, uma série de povos, se não a maioria. E que já está deixando o mundo à deriva, presa dócil de todas as tiranias. Admiramo-nos do modo como estão sendo destruídos monumentos, museus, cidades, inúmeras etnias e línguas. Este desrespeito, este crime que hoje nos parece abrupto, começou devagar, por pequenas coisas, aparentemente insignificantes.
É inelutável? Será irreversível? Há quem diga que é demasiado tarde para recuar. Mas talvez ainda se possa fazer qualquer coisa. Mesmo este Acordo, que ainda não está instaurado em todo o mundo lusófono, é passível de emendas fundamentais.
* docente da Faculdade de Letras de Lisboa