Novo acordo: velocidade máxima!
Depois do que se passou em Moçambique com a postura irrefletida de Marcelo Rebelo de Sousa acerca do novo acordo ortográfico e que desencadeou uma vaga de ataques a professores, a jornalistas, a órgãos da Comunicação Social, a estudiosos e até aos próprios alunos que, segundo parece, são analfabetos porque não sabem escrever a grafia antiga, aquela que já não se estuda nas escolas há alguns anos, urge, neste momento, fazer uma reavaliação da situação.Depois da polémica, o novo acordo ortográfico ganhou ainda mais velocidade. Na verdade, tanto Angola como Moçambique fizeram saber que não excluíram de todo a ideia de o ratificarem. Mais: referiram que é tudo uma questão de tempo.
Angola assinou o acordo, mas o Governo ainda não o ratificou, por razões culturais e históricas. Segundo o ministro das Relações Exteriores angolano, Georges Chikoti, tanto Angola como Moçambique registaram alguns progressos para a ratificação do Acordo Ortográfico, mostrando confiança em torno de um consenso. Além disso, Moçambique já organizou o seu vocabulário nacional, que é um dos instrumentos fundamentais para a implementação do acordo.
São Tomé e Príncipe aprovou e ratificou o acordo. Neste momento, está a implementá-lo. O mesmo se passa com a Guiné-Bissau que tem a missão dificultada devido à sistemática instabilidade política.
Interessante será também ver a posição de Macau: Até há pouco tempo, sempre houve uma recusa na adoção das novas regras da ortografia. Neste momento, o Governo admite que nas escolas oficiais se “aplicam tanto as regras do antigo como do novo acordo”.
Portugal, Brasil, Cabo Verde e Timor-Leste assinaram, ratificaram e aplicam-no em plenitude. E, quando se diz em plenitude, não se quer dizer que todas as pessoas escrevam com a nova grafia, mas referimo-nos às novas gerações. Na verdade, há meio milhão de alunos que só sabe escrever com o novo acordo ortográfico. Além disso, 99,9% da Comunicação Social utiliza-o também.
Obviamente que há pessoas que se recusam a aplicar o novo acordo. Obviamente que há pessoas que nunca o aplicarão. Desde que não sejam obrigados em termos profissionais, cada um é livre de fazer o que entender. Sempre houve os que queriam acompanhar as evoluções, aprender e progredir e os que preferiam manter-se na modorra, acomodados a situações que não dão trabalho. “Afinal para que hei de aprender a escrever de outra forma se sempre escrevi assim?”
Quando se lê, por exemplo, as Cantigas de Amigo da Idade Média, talvez se encontre a explicação para as modificações das palavras ao longo do tempo. Umas acontecem naturalmente, outras por via de acordos ortográficos e já houve alguns antes deste.
O próprio secretário executivo da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), Murade Murargy, afirmou não haver volta atrás relativamente ao Acordo Ortográfico, considerando desnecessária toda a polémica gerada em torno da questão.
A língua portuguesa é tão dinâmica, tão viva, tão saltitante que anda por todos os continentes. E se o Marcelo quer ser popular deve aproveitar essa vivacidade que caracteriza a sua língua.
* Professora de Português e formadora para a área da língua portuguesa
jn.acordoortografico@gmail.com
Nota: este texto não é para levar a sério, evidentemente, tendo apenas algum interesse antropológico, por assim dizer, pelo que revela de grande incómodo, extrema inquietação e até algum desespero por parte de uma acordista profissional.