Dia: 19 de Julho, 2016

Adeus, Língua Portuguesa?

A CPLP não deve ficar refém da nostalgia da Língua Portuguesa

Murade Muragy, secretário-executivo da CPLP

nos·tal·gi·a
(francês nostalgie, do grego nóstos, -ou, regresso a casa, viagem + grego álgos, –ous, dor)
substantivo feminino

1. Tristeza profunda causada por saudades do afastamento da pátria ou da terra natal.
2. Estado melancólico causado pela falta de algo ou de alguém.

“nostalgia”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/nostalgia [consultado em 19-07-2016].

Marcelo_CPLP

logo_share“A CPLP é um projecto bem sucedido”, diz Marcelo

Nuno Ribeiro

18/07/2016 – 13:38

Secretário-executivo diz que a organização não pode ficar refém da nostalgia da língua portuguesa.

“A CPLP [Comunidade de Países de Língua Portuguesa] é um projecto bem-sucedido”, disse esta segunda-feira o Presidente da República na cerimónia comemorativa do 20.º aniversário da organização.

“A CPLP é um projecto bem-sucedido, é um projecto com sucesso, há insatisfações, angústias, expectativas não cumpridas”, admitiu Marcelo Rebelo de Sousa numa curta intervenção no final da sessão, na sede da organização, em Lisboa. No entanto, destacou que os três objectivos fundadores se mantiveram, da concertação político-diplomática à cooperação, passando pela promoção da língua portuguesa.

A permanência destes objectivos, a par de outros que o Presidente também enumerou – cooperação económica-empresarial e ao nível da energia, oceanos e plataforma marítima, ambiente e segurança alimentar –, é prova da validade da iniciativa formalmente iniciada há 20 anos.

“A CPLP é um projecto bem-sucedido, mas é um projecto de futuro”, insistiu Marcelo. Como exemplo referiu que a organização “tem merecido o interesse crescente de países terceiros de todo o mundo”, referindo-se aos que já pediram acesso ao estatuto de observador associado.

“Podemos e devemos acreditar no futuro da CPLP, na sua vocação universal”, repetiu o Presidente da República. “Todos percebem dentro da Comunidade que, quando essa comunidade é desejada por países terceiros, é um sinal de que está viva e é politicamente importante”, destacou.

“Aquilo que nos une é mais significativo do que aquilo que nos possa dividir (…), não há nenhum Estado-membro que possa prescindir de considerar a Comunidade como uma peça-chave da sua estratégia a nível nacional, por poderoso que seja”, insistiu.

O futuro desta Comunidade foi o eixo principal da intervenção do diplomata moçambicano Murade Muragy, secretário-executivo da CPLP. Defendeu uma nova visão estratégica para a organização, a mesma que já foi trabalhada em reuniões ministeriais e que será, finalmente, aprovada em Novembro, na cimeira de chefes de Estado e de Governo que decorrerá no Brasil.

Um trabalho para uma agenda comum, sintetizou Muragy, “crucial à identificação de áreas prioritárias de intervenção, a adequação dos recursos humanos, técnicos e financeiros para a CPLP ser mais útil, mais eficiente e mais eficaz.”

“A CPLP não poderá ficar alheia às tendências estratégicas mundiais, regionais e sub-regionais que caminham para aceleradas integrações políticas e económicas”, observou. “A CPLP não deve ficar refém da nostalgia da Língua Portuguesa e deixar de aproveitar as oportunidades que o mundo multipolar contemporâneo nos oferece, tanto em conexões como em oportunidades de criar cadeias de valor”, concluiu.

Presidente da República de Moçambique, Filipe Jacinto Nyusi, em mensagem enviada a Lisboa, realçou outro aspecto: “De África, da Ásia, Europa e América superámos a nossa descontinuidade geográfica e consolidámo-nos como uma Organização para novos patamares”. Assim, Nysui uniu a caminhada de 20 anos a novos desafios que, na curta missiva, não especificou.

 

Source: “A CPLP é um projecto bem sucedido”, diz Marcelo – PÚBLICO. Imagem de: “DR”

E porque não a China ou a Atlântida?

CPLP_logo

 


CPLP/20 anos: Namíbia ou Uruguai “têm condições” para pedir adesão à organização

– secretário-executivo da CPLP. Autores: Andreia Catarino; Joana Haderer (@Agência Lusa)

Source: CPLP/20 anos: Namíbia ou Uruguai “têm condições” para pedir adesão à organização – SAPO Vídeos

Imagem de topo: http://mz.skanplatform.org/

 

(Nota: evidentemente, o imbecil anúncio publicitário que antecede a pérola “lusófona” é uma imposição do governamental negócio “Sapo, serviço de apontadores” não sei das quantas.)

O 20.º aniversário do barrete CPLP no “Público” – 4 (de 4)

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Na edição do “Público” de Domingo, 17 de Julho de 2016, uma série de artigos a propósito do 20.º aniversário da CPLP. Este é o quarto e último desses artigos, versando — quando não tergiversando — todos eles sobre o monumental barrete em que consiste aquela bizarra organização “lusófona”, sendo que aqui temos, em Editorial, uma espécie de súmula dos aniversariantes conteúdos em destaque.

Passei por cima, literalmente, de um dos artigos da série — o do actual ministro dos Negócios Estrangeiros, que não diz (como aliás seria de esperar) rigorosamente nada que interesse; se bem que não seja difícil corrigir qualquer texto esgalhado no horripilante acordês, achei por bem neste caso não estar a maçar as pessoas com o paleio de chacha em que Sua (dele) Excelência se especializou.

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O futuro (incerto) da CPLP

Direcção Editorial

17/07/2016 – 08:33

A Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) faz 20 anos, mas está longe de demonstrar a pujança que a idade faria pressupor. Pelo contrário, esta organização internacional está em franco declínio e precisa urgentemente de nova injecção de energia e de ideias para se revitalizar. Apesar do natural optimismo de Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros (pág 10), basta ler os depoimentos de jovens dos vários países (págs 6 a 9) para se perceber a decepção e o distanciamento com que a esmagadora maioria encara o presente e o futuro de uma comunidade cuja existência parece dizer cada vez menos aos milhões de cidadãos que dela fazem parte. Em vez de política, a mensagem destes jovens situa-se na exigência de políticas de cooperação capazes de ajudar a atenuar as assimetrias entre os vários estádios de desenvolvimento social e económico dos países, única via para dar corpo ao sentimento de solidariedade que é urgente solidificar e sem o qual será praticamente impossível manter a dignidade e a influência da CPLP.

Não vai ser fácil corresponder à urgência deste apelo. Desde logo pela “grande heterogeneidade ideológica e de dimensão” que já tornou “difícil encontrar um denominador comum” entre os vários países, como bem sublinhou Francisco Seixas da Costa, ex-embaixador de Portugal em Brasília e ex-secretário de Estado dos Assuntos Europeus. Depois porque “os países tendem a organizar as suas políticas externas na base das suas prioridades”, sendo que as de Portugal não coincidem com as de Angola, nem as do Brasil com as de Moçambique e por aí adiante, na observação oportuna do ex-ministro dos Negócios Estrangeiros Martins da Cruz. Finalmente, a heterogeneidade dos níveis de desenvolvimento, as consequências da globalização e a crise que atingiu vários países, entre os quais Portugal, fragilizam a capacidade de intervenção e impõem estratégias nacionais mais egoístas.

Dito isto, a sobrevivência da CPLP depende de um golpe de asa e talvez a chave da questão não esteja tanto em promover fugas para a frente abrindo portas a novos membros, sobretudo quando não partilham os valores democráticos e a defesa dos direitos humanos. Há, no entanto, uma nova realidade por onde pode passar uma parte importante do futuro desta organização de falantes da língua portuguesa: as comunidades lusófonas em países fora da CPLP. Porque são alguns milhões, porque já há dinâmicas comuns no terreno, sobretudo em casos como a França e os EUA, e porque vêm ganhando peso económico, social e político. Veremos se lhes atribuem o papel devido.

[Transcrição de O futuro (incerto) da CPLP – PÚBLICO, 17.07.16. Destaques e “links” meus. Imagem: Por SEPRodriguesObra do próprio, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=34183818]