Curiosa entrevista de um padre timorense à “Rádio Vaticano”. Aliás, não apenas é curiosa esta entrevista em particular como é em geral curiosíssimo o interesse que alguns prelados de certas organizações religiosas parece de repente terem descoberto na “promoção” e na “difusão” da “língua portuguesa”. Curiosíssimo e estranhíssimo o interesse (e daí, talvez não) desses alguns, visto que não apenas a “promoção” e a “difusão” constituem mistérios ainda mais insondáveis do que os da Santíssima Trindade, como, ainda por cima e para cúmulo do azar, o próprio Vaticano demonstrou recentemente não apreciar lá muito a Língua Portuguesa.
Note-se, na gravação, a forma como a jornalista pronuncia a palavra “exceção” (coitada, deram-lhe um texto em acordês para ler). Mas isto ainda é o menos, salvo seja.
O pior vem depois, com as declarações do jesuíta João da Piedade (nem de propósito):
- (…) desenvolver o português no âmbito tecnológico, no âmbito científico, também no âmbito do multi-linguismo (…)
- (…) que perspectiva se abre para este futuro da língua portuguesa como uma língua internacional, eu creio que será a quinta ou a sexta mais falada no mundo, e, ao mesmo tempo, a colaboração entre diversos países, sejam países de língua portuguesa e outros países que não falam necessariamente o português mas que também utilizam o português como língua de trabalho, nas actividades científicas, nas investigações em alta tecnologia e também nos organismos internacionais onde o português também, agora, constitui uma das línguas de trabalho. Por exemplo, nas Nações Unidas, etc.
- Desse colóquio emergiram assim conclusões mais unânimes no que diz respeito por exemplo à ortografia… [jornalista: a questão do acordo ortográfico?] … a questão do acordo ortográfico não foi assim muito discutido, abordado, mas houve questões assim mais de cooperação internacional… cooperação entre países de língua portuguesa… e sobretudo o papel que cada país de língua portuguesa também assume em promover o ensino e o conhecimento do português na zona onde se encontra. Por exemplo, Timor-Leste é um ponto estratégico muito importante para o futuro do Sudeste asiático de poder, por exemplo, promover o português (…)
- (…) ser possível fazer funcionar este papel de quem ao mesmo tempo irradia a lusofonia (…)
Timor Leste – intensificar a difusão da língua portuguesa
A Língua portuguesa foi a língua de resistência de Timor Leste durante os 25 anos de ocupação do país pela Indonésia (1975-1999). Assim, é com prazer que os timorenses voltam ao convívio da lusofonia e ao reforço da língua portuguesa no país, para que as novas gerações a possam falar correctamente – explica o P. João Piedade, jesuíta timorense. Ele participou recentemente, em Díli, na III Conferência Internacional sobre o “Futuro da Língua Portuguesa no Sistema Mundial”.
Em entrevista à nossa Emissora fala desse encontro e da situação linguística hoje em Timor onde, depois da independência em Maio de 2002, se tem feito muito do ponto de vista da estabilidade política e económica, mas falta, entre outras coisas, segundo o P. João, intensificar a promoção da língua portuguesa. Oiça aqui na rubrica “África Global” a primeira parte da conversa:
Na entrevista com o P. João Piedade, abordamos também a questão da promoção das línguas locais (nos países de expressão oficial portuguesa) paralelamente ao português. Algo a acompanhar proximamente nas nossas antes e aqui no site.
(DA)
Source: Timor Leste – intensificar a difusão da língua portuguesa – Radio Vaticano