«Publicado pela primeira vez em 1945, O Triunfo dos Porcos transformou-se na clássica fábula política deste século. Acrescentando-lhe a sua marca pessoal de mordacidade e perspicácia, George Orwell relata a história de uma revolução entre os animais de uma quinta e o modo como o idealismo foi traído pelo poder, pela corrupção e pela mentira.»
Wook
«Os membros do conselho de administração da Imprensa Nacional Casa da Moeda, e os que participam na organização deste «galardão», parecem não ter as mais básicas noções de decência, honra e vergonha: é um insulto quase indescritível à memória de Vasco Graça Moura, uma afronta particularmente atroz ao seu legado, dar o nome dele a um prémio cujo(a) vencedor(a) terá, se quiser ser editado, de se submeter ao AO90 — algo que ele sempre combateu tenazmente até morrer.»
Octávio dos Santos
1. O autor premiado aceita que a INCM execute uma revisão literária dos originais, na qual sejam eliminadas todas as incorreções ortográficas ou gramaticais, e resolvidas as inconsistências com as normas de estilo adotadas para a publicação do Prémio INCM/Vasco Graça Moura.
Evidentemente, não há neste miserável episódio nada de pessoal. Não se trata aqui de morte de homem e nem mesmo, parece-me, ou, ao menos, quero crer, de apossamento de cadáver para fins inconfessáveis. Bem, pelo menos se atendermos ao facto de os fins serem perfeitamente confessáveis, isto é, entendíveis, clarinhos como água (mineral).
O que se passa aqui é política. Pura política. “A grande porca”, na lapidar expressão de nosso Raphael.
Estes tipos, alguns dos quais se entretiveram em tempos idos a alardear sua militância anti-acordista, na qual supostamente emparelhavam com o agora homenageado ao contrário, pretendem apenas fazer passar uma mensagem de carácter político: este prémio literário leva como chancela o nome de Vasco Graça Moura para que assim se enterre de uma vez por todas a oposição ao “acordo ortográfico”.
A relação de causa e efeito (bom, digamos, pelo menos nas mirradas cabecinhas de quem pariu a ideia) é de tal forma evidente que me parece seria até maçador explicar porquê. É assim porque assim é, tais cabecinhas não dão para mais, por um lado, e, por outro lado, as ditas mentes diminutas presumem serem todos os demais da sua deles laia, isto é, além de brutalmente ofensivos, simplesmente burros.
Não há aqui morte de homem, não, o que há aqui é uma nojenta manobra política de intoxicação da opinião pública (passe a redundância). Não há aqui apossamento de cadáver, não, o que há aqui é a apropriação ideológica de um nome que simboliza a ideia diametralmente oposta.
Não há aqui, em suma, de forma alguma, qualquer espécie de “prémio”, não, o que há aqui é a institucionalização de um castigo. Não se trata de premiar a escrita de autor, a obra literária, a ficção, a poesia ou a tradução, trata-se de castigar a escrita nas suas mais nobres formas de expressão, trata-se de punir todos os autores, poetas e tradutores que (ainda) tenham o “atrevimento” de escrever em Português genuíno.
Pois então, se assim é, para responder com um módico de dignidade a esta inacreditável violência política há que escolher uma de entre as duas únicas atitudes possíveis: ou não concorrer ou não apresentar qualquer obra a concurso.
Sim, o idealismo foi traído pelo poder, pela corrupção e pela mentira. De novo. Mais uma vez. Os traidores alimentam-se destes ilusórios triunfos, destas pequenas vitórias imorais.
Porém, na pocilga política, o triunfo dos porcos que nela chafurdam não passa de uma infeliz metáfora.