Apesar de ter sido publicada num jornal português, transcrevo esta entrevista mantendo a ortografia brasileira do original. E vai assim mesmo, sem quaisquer destaques ou sublinhados, visto que se trata de simples panfleto de propaganda à “língua brasileira” (que o entrevistado vende a pataco) e de promoção do AO90 — o meio de imposição daquela “língua” a 7 dos 8 países membros da CPLP.
“Viva a língua brasileira”, diz ele, “o sexto idioma mais falado do mundo”.
Pois fiquem lá com isso, bom proveito, mas longe. E viva a Língua Portuguesa, digo eu.
Se acha que o Português é dificílimo, ilógico e caidaço, você está errado
Christiana Martins
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Língua é o que roça, agride ou seduz. Idioma é como se expressa uma pessoa ou uma nação. Definem identidades, podem gerar amor ou repulsa. Sérgio Rodrigues, escritor brasileiro vencedor do Prémio Portugal Telecom de Literatura em 2014, ama a língua portuguesa, derrete-se com ela. Lançou segunda-feira no Rio de Janeiro um livro que nos ajuda a entender como a utilizamos e defende uma atitude de correção sem subserviência às regras (“se uma regrinha qualquer é sancionada pelos sábios mas não bate bem no ouvido, na alma, então não serve”). E, em entrevista ao Expresso Diário, conta como a utilização lusitana do Português é vista do lado de lá.
É a falar que a gente se entende. Ou não. Com os pronomes no lugar errado, com uma coloquialidade que pode roçar o desrespeito, com uma criatividade e uma capacidade de absorção de estrangeirismos que tanto atraem como afligem, o uso brasileiro da língua portuguesa é um mundo. Vasto e imperfeito. O escritor brasileiro Sérgio Rodrigues abriu segunda-feira a porta do prazer ao lançar no Rio de Janeiro mais um livro dedicado ao sexto idioma mais falado no planeta – chamou-lhe “Viva a Língua Brasileira”. Uma provocação, sem dúvida, mas com respeito.
Vencedor do Prémio Portugal Telecom de Literatura em 2014, conquistou as categorias de romance e o grande prémio com “O Drible”, um livro em que o futebol é a personagem fundamental. Recebido com entusiasmo pela crítica e pelo público, o livro já foi traduzido em vários idiomas, disponível em seis países, entre os quais Portugal.
Mas antes deste novo trabalho, Sérgio Rodrigues já havia lançado “What língua is esta?” e alimentou colunas de esclarecimento de dúvidas de leitores sobre a utilização da língua portuguesa em revistas como a “Veja”. Informado mas nada dogmático, vai desconstruindo mitos e tabus linguísticos. Como agora em “Viva a língua brasileira!”, onde dedica capítulos a oferecer sugestões, tira dúvidas gramaticais, expõe erros comuns e discute polémicas.
Na sua “declaração de amor à língua portuguesa brasileira” determina perfis de utilizadores — “os sabichões, os politizados, os enrolões, os anti-intelectuais e os anglocêntricos” —, explica “como é que se escreve”, desconstrói a rigidez das regras e investiga vários mitos, como, por exemplo, porque nós, falantes, colocamos um “n” depois de algumas vogais. Como em “muito”, que quer cá quer lá se diz “muinto”.
Acabamos por descobrir que “o ‘assi’ do português antigo virou assim, o mai virou mãe e o mia minha”. E que “Camões rimou muito com fruito e enxuito”. “Uma explicação provável para a pronúncia ‘muinto’ é que o ‘m’, embora vindo antes e não depois das vogais, tenha ainda assim exercido uma influência de nasalização, como ocorreu também em mãe e minha”. E por aí vai em mais de 380 páginas.
O aviso quanto ao tom e às intenções desta obra fica feito logo na apresentação do autor: “Se você acha nosso idioma dificílimo, ilógico, caidaço, ou acredita que conversar amorosamente sobre ele é perda de tempo — lamento, você está errado”.
Autor de ficção, crítico literário e jornalista, Sérgio tem 54 anos e nasceu em Minas Gerais, estado brasileiro sem vista para o mar. Mudou-se para o Rio de Janeiro há mais de três décadas. Como ele próprio diz, “ganha a vida com palavras”. Usa-as e abusa delas. E no novo livro começa por onde se pode acabar, citando Murilo Mendes, um autor brasileiro: “Toda palavra é adâmica: nomeia o homem que nomeia a palavra”.
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