Língua Portuguesa perde (ainda mais) influência no Vaticano

Papa Francisco já sofreu num dos seus documentos uma tradução errada, reflectindo uma das consequências da perda de influência do português no Vaticano | EPA/GIUSEPPE LAMI

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Mais um português na Santa Sé, mas país perde influência

António Marujo

22 DE SETEMBRO DE 2016 00:39

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Nomeação de Pedro Barbas Homem para um lugar de consultoria poderia indiciar o aumento da importância de Portugal na Cúria Romana. Nada mais errado.

Dezasseis homens e uma mulher integram a curta lista de portugueses que desempenham funções em organismos pontifícios, depois de ontem Pedro Barbas Homem ter sido nomeado consultor da Congregação para a Educação Católica. O que quer dizer que nem o número é o que muitos responsáveis desejariam nem o país tem a importância que já teve em outros tempos, quando Portugal era um império com importância na missionação católica.

O que se passa em alguns sectores importantes da Cúria Romana revela precisamente a perda da importância de Portugal e da língua portuguesa. Em Março, por exemplo, a Congregação para a Causa dos Santos anunciou que deixaria de ter o português como língua oficial. Apesar dos perto de 90 processos de canonização de portugueses (32) e brasileiros (55) que ali correm, e apesar dos protestos dos bispos brasileiros e portugueses, para já a decisão não voltou atrás.

Outro exemplo é que na secção portuguesa da Rádio Vaticana se passou de dois portugueses – um dos quais responsável do programa nesta língua – para nenhum quadro efectivo. Também o jornal L’Osservatore Romano deixou de ter há muito um director de língua portuguesa para a edição semanal na mesma língua.

Periodicamente também se verificam problemas a nível das traduções dos textos oficiais. Um dos exemplos mais recentes e mais graves deu-se há quase três anos: na Alegria do Evangelho, a sua primeira exortação apostólica, o Papa Francisco falava da “violação” da mulher a propósito do aborto; em português (e, neste caso, também em italiano, francês e alemão) tal referência deu lugar à “violência sobre a mulher”, alterando e desvirtuando substancialmente a frase do Papa.

“Não é fácil para os bispos terem quem possa enviar para Roma”, disse ao DN um padre português que trabalhou já em Roma. “O português ainda mantém alguma importância por causa do Brasil”, acrescenta outro. Mas a falta de clero e o desejo de manter os melhores padres a trabalhar nas suas dioceses leva os bispos a ver com reticências a possibilidade de trabalho em Roma.

Um outro eclesiástico conta que enquanto o cardeal Saraiva Martins esteve na Congregação para a Causa dos Santos insistia muito com os bispos de Portugal para que houvesse portugueses em Roma. Os poucos resultados dessa insistência permitiram que o número de portugueses em instituições da Santa Sé passasse de menos de uma dezena para os actuais 17 – ainda poucos, observam os vários comentadores ouvidos pelo DN.

Portugueses em lugares de destaque são o chefe do protocolo do Papa, José Bettencourt, padre luso-canadiano; o actual reitor da Universidade Pontifícia Gregoriana (gerida pelos jesuítas, mas na qual o Vaticano tem sempre uma palavra a dizer), padre Nuno Gonçalves; e o número dois do cardeal Ravasi no Conselho Pontifício para Cultura, o bispo Carlos Azevedo, que, enquanto historiador, tem continuado a publicar trabalhos de historiografia portuguesa (o último dos quais é Estudos de Iconografia Cristã). No mesmo organismo da Cultura, como conselheiro, está o padre Tolentino Mendonça, poeta e vice-reitor da Universidade Católica. Com as mesmas funções, mas nas Comunicações Sociais, está o bispo auxiliar de Lisboa, Nuno Brás. O conselheiro eclesiástico da embaixada portuguesa junto da Santa Sé é o padre Fernando Matos, de Vila Real.

O “tradutor” das catequeses do Papa às quartas-feiras é Ferreira da Costa, que trabalha na Secretaria de Estado. Saturino Gomes, membro da Comissão de Liberdade Religiosa, é auditor do Tribunal da Rota Romana, enquanto o também poeta Mário Rui Oliveira está no Tribunal da Assinatura Apostólica, onde aprecia pedidos de nulidade matrimonial. O padre António Manuel Saldanha, dos Açores, está na Congregação para a Causa dos Santos; José Caldas, reitor do Colégio Pontifício Português, trabalha na Congregação para a Educação Católica; José Manuel Ribeiro, de Bragança, está na Congregação para o Culto Divino; e Agostinho Borges, da diocese de Vila Real, é o reitor da Igreja de Santo António dos Portugueses, em Roma, que integra a rede de instituições do Ministério dos Negócios Estrangeiros. A única mulher, Lurdes Correia Fernandes, faz parte do Comité de Ciências Histórias do Vaticano.

A lista completa-se com os cardeais eméritos: Manuel Monteiro de Castro teve uma passagem fugaz pelo cardinalato; Saraiva Martins, além de ter acelerado alguns processos de canonização pendentes – nomeadamente o dos videntes de Fátima e de Nuno Álvares Pereira – ficou conhecido sobretudo pelas suas capacidades de gestão na Universidade Urbaniana, da qual foi reitor.

António Marujo

Jornalista do religionline.blogspot.pt

Source: Religião – Mais um português na Santa Sé, mas país perde influência [adicionei “links”]

Nota 1: o autor deste artigo escreve em Português, como se pode ver no seu “blog“; o hiper-acordista “DN” estropiou-lhe o texto, coisa que evidentemente reverti nesta reprodução.

Nota 2: existe uma versão identificada com a bandeira portuguesa no “site” do “L’Osservatore Romano” mas a ortografia ali utilizada é a brasileira.