Dia: 16 de Novembro, 2016

Sim, senhor Ministro

Em Portugal fala-se um português com “típico fechamento de vogais”, o que “pode levar à incompreensão entre falantes de duas variantes da mesma língua”

[Augusto Santos Silva, Ministro dos Negócios Estrangeiros português]

Ora aí está uma lógica impecável, senhor Ministro: como em Portugal existe esse “típico fechamento de vogais”, então impinge-se aos portugueses um “acordo ortográfico” para forçar ainda mais esse mesmo fechamento de vogais.

Muito bem visto, senhor Ministro: já que temos de facto essa tendência para o “emudecimento”, vá de amputar todas as consoantes “mudas” com valor diacrítico para emudecer ainda mais, até ao absurdo, a fala “típica” na “variante portuguesa” da Língua.

Ah, já agora, senhor Ministro, por falar em “variantes da mesma língua”: afinal o “maravilhoso” AO90 não era para esgalhar uma suposta “ortografia única”? E esta, por seu turno, não tinha por objectivo “eliminar as diferenças” entre as duas variantes do Português conduzindo-nos assim, a todos os 240 milhões da “lusofonia”, ao supremo Nirvana parido por Malaca e Bechara que os próprios parturientes baptizaram como “Maravilhosa Língua Unificada”? Afinal de contas mantêm-se as duas variantes, senhor Ministro, certo?

Como diz, senhor Ministro? Ah, não é bem assim nem deixa de ser, muito pelo contrário.

Sim, senhor Ministro. 

Língua portuguesa enfrenta “problemas sérios”, avisa Santos Silva

 

“Jornal de Negócios”/Lusa 15 de Novembro de 2016 às 23:09

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, advertiu que o português, apesar de ser uma língua global e uma das mais faladas no mundo, enfrenta problemas sérios, como a incompreensão entre falantes de variantes diferentes.

“A língua portuguesa é uma das mais faladas do mundo e uma das mais globais no mundo de hoje”, afirmou esta terça-feira o ministro, durante a apresentação, no Palácio das Necessidades, do Novo Atlas da Língua Portuguesa, da autoria do reitor do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, Luís Antero Reto, e dos professores, da mesma faculdade, Fernando Luís Machado e José Paulo Esperança. No entanto, a política da língua enfrenta hoje “desafios e dificuldades”, avisou Santos Silva.

O ministro exemplificou com o caso de Timor-Leste, onde, apesar de o português ser língua oficial, apenas as gerações mais velhas o falam, devido à ocupação indonésia, pelo que “é preciso difundir o ensino” da língua portuguesa naquele país.

Por outro lado, em Portugal fala-se um português com “típico fechamento de vogais”, o que “pode levar à incompreensão entre falantes de duas variantes da mesma língua”, algo que, segundo o governante, só se combate “pela comunicação tão constante quanto possível entre os falantes dessas variantes”.

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