Ciências da morte [por Olga Rodrigues]

«The United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (UNESCO) (In French: Organisation des Nations unies pour l’éducation, la science et la culture) is a specialized agency of the United Nations (UN) based in Paris. Its declared purpose is to contribute to peace and security by promoting international collaboration through educational, scientific, and cultural reforms in order to increase universal respect for justice, the rule of law, and human rights along with fundamental freedom proclaimed in the United Nations Charter. It is the heir of the League of NationsInternational Committee on Intellectual Cooperation.»
[Wikipedia]

 

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Prémio Internacional UNESCO | Guiné Equatorial para a Investigação em Ciências da Vida (ou da Morte?)

Subsídios para a formação de uma distinta classe de inteletuais

A guiné equatorial (assim mesmo, com letra minúscula), estado soberano, patrocina um prémio para a Investigação em Ciências da Vida. A UNESCO empresta-lhe a credibilidade e o prestígio do seu nome para o tornar visível na esfera internacional.

A notícia, sintomaticamente, aparece no “site” da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto englobada no item “Fontes de Financiamento / Bolsas / Oportunidades”.

Será uma boa oportunidade ganhar um prémio monetário no valor de US $300,000, além de um diploma e uma medalha? Com certeza. Tal distinção confere prestígio a quem a obtém? Dificilmente.

É simplesmente um expediente, uma fonte de financiamento que se pode obter de forma rápida, mas que, ao contrário do que os seus promotores pensam, não confere qualquer tipo de prestígio nem de distinção tanto a quem obtém o prémio, como a quem o confere.

É, para utilizar um anglicismo corrente, “business as usual”.

É a viciação e distorção da linguagem no seu máximo esplendor. É patrocinar um prémio de Ciências da Vida com dinheiro obtido da forma mais duvidosa possível e que foi criado apenas para reabilitar o nome mal-afamado de um ditador com demasiados crimes no seu já longo historial.

É aproveitar a situação de vulnerabilidade por que estão a passar as Universidades para as fazer aceitar o inaceitável, para reduzir os seus investigadores e professores a funcionários amestrados; atentos, veneradores e obrigados.

É dar um passo mais para a criação de uma novel classe de inteletuais que nada inteligem e que apenas papagueiam de cor e amoralmente a cartilha que os senhores do dinheiro lhes põem à frente.

E quem pensa que a língua não é para aqui chamada, engana-se, pois, uma língua, qualquer que ela seja, serve sobretudo para nos entendermos e fazermo-nos entender melhor, para interrogarmos o mundo à nossa volta e ir obtendo algumas respostas.

É com ela que se faz Ciência, qualquer ciência, que a comunicamos aos outros e vamos construindo com ela uma grande parte da nossa cultura.

Podemos por isso dizer sem medo de errar que quando uma instituição como a UNESCO promove um prémio que pressupõe de forma tácita a abdicação forçada da língua original de uma dada comunidade, no caso presente a nossa, que tem sido obrigada a estropiar a sua língua unicamente para fazer sobressair os projectos pessoais de alguns, está claramente a violar os princípios que a própria organização instituiu: “contribute to peace and security by promoting international collaboration through educational, scientific, and cultural reforms in order to increase universal respect for justice, the rule of law, and human rights”.

Na prática mata a Ciência, e logo na raiz, pois defendendo e promovendo activamente  o uso de uma língua artificialmente modificada unicamente para satisfazer fins políticos, estão na realidade a inutilizar o próprio substrato da sua concepção e feitura, logo, estão a inviabilizar o desenvolvimento da Ciência que tanto dizem defender.

É  por isso um evento que premeia as Ciências mortas e as Ciências da Morte.

É, em suma, a negação mais absoluta do trabalho, do estudo e da investigação que tão extremosamente enaltecem (da boca para fora), que querem substituir pelo nada, pelo vazio, pela negação de tudo o que vive e faz mexer qualquer investigador, em qualquer área.

É, no fundo, e ao arrepio de tudo o que afirmam, a mais perfeita negação de tudo o que seja a Vida, nas suas mais sofisticadas manifestações para a substituírem pelo Vazio e pelo Nada que caracterizam a Morte do indivíduo enquanto tal.

Olga Rodrigues

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