Em Portugal fala-se um português com “típico fechamento de vogais”, o que “pode levar à incompreensão entre falantes de duas variantes da mesma língua”
[Augusto Santos Silva, Ministro dos Negócios Estrangeiros português]
Ora aí está uma lógica impecável, senhor Ministro: como em Portugal existe esse “típico fechamento de vogais”, então impinge-se aos portugueses um “acordo ortográfico” para forçar ainda mais esse mesmo fechamento de vogais.
Muito bem visto, senhor Ministro: já que temos de facto essa tendência para o “emudecimento”, vá de amputar todas as consoantes “mudas” com valor diacrítico para emudecer ainda mais, até ao absurdo, a fala “típica” na “variante portuguesa” da Língua.
Ah, já agora, senhor Ministro, por falar em “variantes da mesma língua”: afinal o “maravilhoso” AO90 não era para esgalhar uma suposta “ortografia única”? E esta, por seu turno, não tinha por objectivo “eliminar as diferenças” entre as duas variantes do Português conduzindo-nos assim, a todos os 240 milhões da “lusofonia”, ao supremo Nirvana parido por Malaca e Bechara que os próprios parturientes baptizaram como “Maravilhosa Língua Unificada”? Afinal de contas mantêm-se as duas variantes, senhor Ministro, certo?
Como diz, senhor Ministro? Ah, não é bem assim nem deixa de ser, muito pelo contrário.
Sim, senhor Ministro.
Língua portuguesa enfrenta “problemas sérios”, avisa Santos Silva
“Jornal de Negócios”/Lusa 15 de Novembro de 2016 às 23:09
O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, advertiu que o português, apesar de ser uma língua global e uma das mais faladas no mundo, enfrenta problemas sérios, como a incompreensão entre falantes de variantes diferentes.
“A língua portuguesa é uma das mais faladas do mundo e uma das mais globais no mundo de hoje”, afirmou esta terça-feira o ministro, durante a apresentação, no Palácio das Necessidades, do Novo Atlas da Língua Portuguesa, da autoria do reitor do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, Luís Antero Reto, e dos professores, da mesma faculdade, Fernando Luís Machado e José Paulo Esperança. No entanto, a política da língua enfrenta hoje “desafios e dificuldades”, avisou Santos Silva.
O ministro exemplificou com o caso de Timor-Leste, onde, apesar de o português ser língua oficial, apenas as gerações mais velhas o falam, devido à ocupação indonésia, pelo que “é preciso difundir o ensino” da língua portuguesa naquele país.
Por outro lado, em Portugal fala-se um português com “típico fechamento de vogais”, o que “pode levar à incompreensão entre falantes de duas variantes da mesma língua”, algo que, segundo o governante, só se combate “pela comunicação tão constante quanto possível entre os falantes dessas variantes”.
Em Angola ou Moçambique, por exemplo, o português “é essencial para a constituição de uma identidade nacional, visto que há incomunicabilidade linguística entre outras línguas maternas”, ao passo que em Cabo Verde, “a presença da língua portuguesa só faz sentido num diálogo de vantagens mútuas com a língua local, o cabo-verdiano”, considerou.
Santos Silva referiu, depois, várias responsabilidades associadas à língua portuguesa, nomeadamente a de os 22 países da Conferência Ibero-Americana (Portugal, Espanha e Andorra, na Europa, e mais 19 países da América Latina) se terem comprometido a introduzir ambos os idiomas nos respectivos sistemas de ensino.
O ministro salientou também a adesão, em Outubro, de quatro novos países observadores (Uruguai, Hungria, República Checa e Eslováquia) à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que devem também promover o português nos seus territórios, e à decisão dos novos países do bloco lusófono de reforçar o papel do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP).
O Brasil (onde existe o maior número de falantes de português) e Portugal criaram um prémio de literatura infanto-juvenil e decidiram aumentar a cooperação entre as redes externas Brasil Cultural e do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, no âmbito da cimeira bilateral realizada no início do mês em Brasília, recordou.
Com dez capítulos, o Novo Atlas aponta a projecção, das Nações Unidas, de que o número actual de falantes de português (263 milhões, em 2015) quase duplique para 490 milhões até 2100, sendo que já em meados do século XXI sejam cerca de 390 milhões os falantes nativos de português.
Além disso, no final do século, a maior concentração de falantes estará em África e não no Brasil, que deverá começar a perder população a partir de 2050.
O livro, editado pela Imprensa Nacional – Casa da Moeda, apresenta vários indicadores, desde populações, diásporas, geografia, economia, finanças, comércio, mobilidade e inserção geoestratégica nas várias organizações internacionais de países de língua oficial portuguesa.
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