Limbus/ O que fazer com a Lusofonia?
04.12.16
A Lusofonia, a ter resgate, não o será pela via dos negócios ou a língua do comércio. Aí a floresta está a arder. Não o será pela via política — aí mesmo se congemina o fogo posto que vitimará a floresta. Não o será pela condição venal de encarar os outros utentes da língua como mercados potenciais destituídos de “alma” própria, o erro grosseiro do novo “acordo ortográfico”.
O “acordo ortográfico” esquece que com a nossa língua nos é dado não apenas um conteúdo de léxico e refrões (como quem diz os átomos e as moléculas linguísticas), mas também uma certa forma (a estrutura sintáctica daqueles átomos) que pauta a nossa percepção de maneira menos evidente, mas não menos decisiva. Em cada um dos lugares que faz do português o miolo da sua comunicação, a pauta perceptiva é diferente e a respiração da língua passa, com vantagem, a ser polifónica. Reduzi-la a uma grafia única é como reduzir a música às marchas militares.
Apontador: Olga Rodrigues