http://www.cmjornal.pt/maissobre/veredito
c) Conservam-se ou eliminam-se facultativamente, quando se proferem numa pronúncia culta, quer geral, quer restritamente, ou então quando oscilam entre a prolação e o emudecimento: aspecto e aspeto, cacto e cato, caracteres e carateres, dicção e dição; facto e fato, sector e setor, ceptro e cetro, concepção e conceção, corrupto e corruto, recepção e receção».
A palavra veredicto/veredito insere-se, portanto, nos casos mencionados na alínea c), aqueles que, por haver oscilação na pronúncia, aceitam dupla grafia.
1 No Brasil, a forma veredicto, com c pronunciado, era a recomendada até há pouco tempo, mas a{#c|}tualmente é mais comum ouvir a forma sem essa consoante, daí a legitimidade de veredito (informação dispensada pelo consultor Luciano Eduardo de Oliveira).
https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/sobre-a-palavra-veredictoveredito/29722
«No Brasil, a forma veredicto, com c pronunciado, era a recomendada até há pouco tempo, mas a{#c|}tualmente é mais comum ouvir a forma sem essa consoante, daí a legitimidade de veredito»
Portanto, segundo o AO90, do qual o “Ciberdúvidas” é o órgão central, a grafia de qualquer palavra depende da forma como “é mais comum ouvir”[-se] essa palavra.
Logo, a “legitimidade” da grafia de uma palavra está garantida desde que seja “mais comum ouvir” essa mesma palavra sendo pronunciada de determinada forma. Por conseguinte, certa forma de escrever certa palavra apenas será “ilegítima” caso não seja assim tão comum, ou seja incomum de todo, ou seja muito pouco “comum ouvir a forma” assim ou assado da dita palavra.
Genial. Brilhante. Supimpa. Chiquérrimo, sei lá.
Isto significa, por exemplo, que valem num jornal lisboeta ambas as grafias “veredicto” ou “veredito”, assim como valem num jornal do Porto, Braga ou Fafe, também por exemplo, ambas as grafias “beredito” ou beredicto”. Desafio qualquer um a demonstrar que no Norte de Portugal em geral não “é mais comum ouvir” proferir beredictos, nos tribunais ou fora deles, e que, pelo contrário, de Coimbra para baixo não é muitíssimo mais “comum ouvir a forma” veredictos. E isto sempre e só em meios onde se professa a chamada “pronúncia culta”, bem entendido, que nós somos todos gente do melhorio, de Norte a Sul (e Ilhas), não queremos cá misturas nem nada, longe vá o agoiro, “pronúncia culta”, como gente fina, é outra loiça.
Mas olha qu’isto não está mesmo nada mal visto, não senhor: o AO90 diz que a escrita de cada qual depende da zona de cada um. Maravilha.
E não apenas a grafia das palavras é determinada geograficamente, segundo o AO90, consoante a região onde o escrevente costuma estar, como a coisa pode variar dentro dessa região, de cidade para cidade ou até, não sejamos picuinhas, dentro do próprio aglomerado populacional, de uma Freguesia para outra, de bairro para bairro, de rua para rua, de um prédio para o prédio ao lado.
Excelente. E, já agora, porque não há-de a escrita mudar também dentro de cada prédio, consoante o andar, escrevendo-se em cada um deles como “é mais comum ouvir” dizer isto ou aquilo ao pessoal do mesmo piso?
Assim com’assim, visto que no 1.º andar da Redacção do “Correio da Manhã” “é mais comum ouvir a forma” veredicto mas no segundo andar “é mais comum ouvir a forma” veredito, bom, então está tudo explicado, é normalíssimo que um jornalista do 1.º escreva “veredicto” (a forma que para ele é mais comum ouvir) e três jornalistas do 2.º andar escrevam “veredito” (a forma que o trio mais comummente escuta, note-se).
Caramba! As coisas que a gente aprende, à conta da “maravilhosa língua universal”, no ILTEC, no “Correio da Manhã”, no “Ciberdúvidas”, em todos esses vespeiros onde zumbem com extraordinária pronúncia mentes cultas de elevadíssima craveira inteletual.
Fantástico.
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