Dia: 13 de Fevereiro, 2017

“Costa devia ponderar recuo. Era acto de inteligência” (faltava o C em “acto”, corrigi a gralha)

Acordo Ortográfico: “Costa devia ponderar recuo. Era acto de inteligência”

Joaquim Jorge acredita que “a esmagadora maioria da população portuguesa não se revê neste Acordo Ortográfico que está mal feito”.

“Não chega aperfeiçoar o Acordo Ortográfico (AO) e introduzir melhorias, é importante rejeitar”.

A posição é do fundador do Clube dos Pensadores, que considera que “é importante reabrir o debate e a discussão do tema”.

“Este acordo residiu unicamente na teoria economicista e beneficiou o Brasil. Sou português, gosto muito da minha língua e recuso-me a escrever como não aprendi na escola. A diversidade da nossa língua é uma mais-valia e enriquecimento cultural”, defende num texto de opinião veiculado ao Notícias ao Minuto.

Joaquim Jorge diz ainda que não tem problemas em perceber o português de outros países. E dá mesmo como exemplo outras línguas.

“Veja-se a beleza da língua espanhola quer em Espanha, quer em Cuba, quer na Venezuela, passando pelo Chile, etc. Nunca houve uma imposição para todos esses países que falam espanhol”, escreve, acrescentando ainda que “a vivacidade do inglês está nas suas variantes e em não haver regras rígidas”.

Pela sua parte, Joaquim Jorge assume que, da mesma forma que no Brasil se continuará a escrever cômico em vez de cómico, ou judô e não judo, também ele irá manter a escrita das palavras como a aprendeu. “Esse manancial de vivências faz parte da minha vida intelectual e do meu enriquecimento humano”, sublinha.

“Não me podem obrigar a adoptar uma ortografia que não se justifica e não é uma necessidade premente. Podem ser simplificadoras mas não são uma necessidade de uso”.

O fundador do Clube dos Pensadores deixa ainda uma ‘achega’ ao Governo e à Presidência da República.

“O Governo de António Costa, que já fez inúmeras alterações na educação, deveria ponderar um recuo neste Acordo Ortográfico. Seria um acto de inteligência, de liberdade individual e de liberdade de escrita. E, com a ajuda de Marcelo Rebelo de Sousa, isso pode acontecer…”, sugere.

Fonte: Noticias ao Minuto – Acordo Ortográfico: “Costa devia ponderar recuo. Era ato de inteligência”

Encanar a perna ao cagado*

Augusto Santos Silva: Alterações ao Acordo Ortográfico? “Cada coisa a seu tempo”

Augusto Santos Silva reafirma que este não é o momento para mexer no Acordo Ortográfico.

Na Manhã TSF, o ministro dos Negócios Estrangeiros voltou a sublinhar que o acordo está em vigor em Portugal e que é preciso esperar que todos os países o ratifiquem. Augusto Santos Silva admite discutir eventuais melhoramentos, mas esse momento ainda não chegou.

Na terça-feira, Manuel Alegre acusou Augusto Santos Silva de autoritarismo. Alegre defende que o Acordo Ortográfico deve ser melhorado, porque há situações que estão a gerar grande confusão. O ministro dos Negócios Estrangeiros repetiu que este não é o momento para pensar em alterações.

Augusto Santos Silva está de partida para Angola. Uma visita de três dias em que Luanda vai ocupar apenas o primeiro. Sexta-feira, na capital Angola, o responsável pela diplomacia portuguesa tem encontro marcado com empresários portugueses para tomar o pulso ao momento, depois da crise económica.

O ministro dos Negócios Estrangeiros admite que as empresas portuguesas em Angola e os portugueses que lá trabalham enfrentaram grandes problemas, mas está convencido de que o pior já passou.

Sobre as relações entre Portugal e Angola, Augusto Santos Silva diz que, neste momento, reina a tranquilidade, bastando para isso que exista respeito pela soberania de ambos os países.

Em Angola, Augusto Santos Silva vai também preparar a visita de António Costa. A viagem do primeiro-ministro ainda não tem data, mas o governo gostava que acontecesse o mais breve possível.

Fonte: Augusto Santos Silva: Alterações ao Acordo Ortográfico? “Cada coisa a seu tempo”, TSF; 09.02.17

*O título é propositado. Convém esclarecer, antes de que me venham cá chatear os fundamentalistas do costume, que a treta do “cagado de fato na praia” não é para aqui chamada. Refiro-me a um cagado mesmo. E isto porque não há rã, note-se, porque nesse caso, como manda a tradição, o título deste “post” seria “encanar a perna à rã”.

 

‘Just for the record’

 

7 de Fevereiro de 2017: uma delegação da Academia das Ciências de Lisboa (ACL) é recebida pela Comissão Parlamentar de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto. Objectivo: apresentar um documento intitulado como “Sugestões para o aperfeiçoamento do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa“.

Desta tão simpaticamente amável quanto ligeiramente tensa reunião, cuja gravação vídeo foi disponibilizada pelos serviços parlamentares e que agora se dá aqui por integral e fielmente reproduzida [ver nota], resultou — na prática — uma mão cheia de nada e um monte de coisa nenhuma.

Porém, não sejamos esquisitos, se virmos a coisa de forma não prática (nem teórica) temos de facto algum sumo para espremer, salvo seja.

Vamos dar de barato a (pelo menos, aparente) crispação que, totalmente ao invés do que diz o Presidente da ACL, se sente a pairar, qual ave de mau agoiro, por cima das ilustres cabeças que naquela sala estiveram durante quase duas horas defendendo os interesses da Pátria.

Ignoremos do mesmo passo a notória agressividade, por vezes resvalando para a grosseria, de que deram sobejas mostras as acordistas ali de serviço (Gabriela Canavilhas e Edite Estrela), contrastando ambas, grosseria e agressividade, Estrela e Canavilhas, com a extrema — e quase comovente — urbanidade dos membros da ACL e, em especial, do próprio Artur Anselmo.

Muita coisa se poderia dizer e outra tanto palpitar, por conseguinte, sobre este evento de S. Bento. Não sobre o que foi dito mas sobre o que não foi dito e, em especial, sobre a forma como o não dito ficou clara e paradoxalmente subentendido: pequenas mas eloquentes expressões subliminares e elípticas, insinuações manipuladas com pinças mentais, ideias implícitas em embrulhos extremamente palavrosos e farfalhudos.

A ideia central, nunca referida, sequer vagamente, por qualquer dos presentes (só mais essa faltava) ou por algum dos “opinion makers” da nossa virtual praça, parece-me ter sido esta: culpar o actual Presidente da ACL, Artur Anselmo, por aquilo que fizeram e, sobretudo, por aquilo que não fizeram os seus antecessores, Adriano Moreira e… Malaca Casteleiro. Ou seja, diz Canavilhas, possessa, as veias de seu (lindo, por acaso) pescoço salientes, tumefactas, ameaçando rebentar, ah, e tal, “a ACL tem-se colocado como uma entidade à parte neste processo”. Ou seja ainda, diz a Edite, dirigindo-se a Anselmo com sua nada ríspida voz semelhante a unhas raspando num quadro de lousa, ah, e tal, “o padre prega e não há acento” ou lá o que foi que ela disse, de momento varreu-se-me.

E o bom do Artur, enfiado, como diria nosso Eça, lá tentou bravamente demonstrar lealdade para com a Instituição a que (agora) mui dignamente preside, limitou-se a alçar ligeiramente e com parcimónia o lábio fremente, aliviando-se com um sonoro “tenho dito” de quando em vez, coitado, aquilo foi um massacre, alguém devia dar umas lições de polidez às duas senhoras, raios, chamem a Bobone.

 

[Nota: “post” editado em 27.02.17 às 03:00 h. Por uma questão de economia de recursos (espaço em disco e tráfego) retirei o vídeo aqui anteriormente disponibilizado em alojamento local. O original dessa gravação vídeo pode ser visto directamente no “site” do Parlamento.]

 

P.S.: grosserias à parte, não deixa de ser “curioso” que as duas irritadíssimas socialistas acusem Artur Anselmo por aquilo que fez Malaca, ou seja, enfiar-nos o AO90 goela abaixo, e acusem também o mesmo Artur por aquilo que não fez Adriano Moreira, isto é, mexer-se de alguma forma para acabar com o dito AO90. E a “curiosidade” resulta da constatação factual de que, se ambas as nervosinhas senhoras o acusam das duas coisas, então é porque reconhecem que foram dois erros, fazer o AO90 e não o desfazer. Pois, xôdonas Edite e Gabriela, nisso estamos plenamente de acordo. Todos os três, perdoe-se-me a tremenda lata.

«Acordo ortográfico: uma morte assistida» [Artur Coimbra, “Correio do Minho”]

Acordo ortográfico: uma morte assistida

Artur Coimbra

 

É um dos temas do momento, se bem que com impacto menos popular que o futebol ou a morte assistida, o da eventual revisão e melhoria do famigerado Acordo Ortográfico de 1990 (por alguns apelidado de “aborto ortográfico”), proposto, pasme-se, pela própria Academia das Ciências que desajeitadamente o deitou ao mundo. Que 26 anos depois, ainda não foi ratificado por todos os países lusófonos, o que é de per si uma enormidade e um motivo para o mandar às malvas, como devia ser, se houvesse um pingo de vergonha na cara de governantes e outros desgovernados.

Mas Sua Excelência o Ministro dos Negócios Estrangeiros, que até é professor universitário e deveria ter um pouco mais de abertura de espírito para estas questões, voltou a sublinhar que o AO90 está em vigor em Portugal e que é preciso esperar que todos os países o ratifiquem. Augusto Santos Silva admite discutir eventuais melhoramentos, mas esse momento ainda não chegou. E talvez nunca chegue, com a pressa com que esta gente se atira para canto e assobia para o lado, como se a língua fosse propriedade dos governos ou das academias, e não usufruto do povo, que se está marimbando para as consoantes mudas ou para os factos que hoje comezinhamente são dados como fatos, numa promiscuidade absurda que deita por terra qualquer objectivo de seriedade que não existe.

Por isso, Manuel Alegre, que da língua, da poesia e da literatura percebe mais que todo o governo junto, acusou Augusto Santos Silva de autoritarismo. Alegre defende que o Acordo Ortográfico deve ser melhorado, porque há situações que estão a gerar grande confusão. O Ministro dos Negócios Estrangeiros repetiu que este não é o momento para pensar em alterações. Obviamente, nunca será. Ou será quando o governo já lá não estiver, e quando aparecer gente esclarecida, competente e não enfeudada às pressões dos interesses económicos e dos lóbis livreiros e afins.

É por isso que gente ilustre advoga que não há que aperfeiçoar o “aborto ortográfico”, porque não tem emenda, o importante é rejeitá-lo, liminarmente, porque a esmagadora maioria dos portugueses não se revê nem respeita um documento que suscita as maiores dúvidas legais, porque entrou em vigor em Portugal sem estar aprovado por todos os países lusófonos. Não é acordo nenhum, não é reforma nenhuma, é capitulação económica perante o Brasil, e que, no fim de contas, nem é respeitado em Portugal, nem em terras de Vera Cruz, porque não serve para nada.
E, convenhamos, não é a ortografia que vende sapatos ou deixa de vender electrodomésticos, como não é o pretenso AO90 que retira da língua a dupla grafia em Portugal e no Brasil.

Para que serve então? Rigorosamente para nada!… Pura inutilidade!

Correio do Minho, 12.02.17

[“Links” e destaques meus.]