7 de Fevereiro de 2017: uma delegação da Academia das Ciências de Lisboa (ACL) é recebida pela Comissão Parlamentar de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto. Objectivo: apresentar um documento intitulado como “Sugestões para o aperfeiçoamento do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa“.
Desta tão simpaticamente amável quanto ligeiramente tensa reunião, cuja gravação vídeo foi disponibilizada pelos serviços parlamentares e que agora se dá aqui por integral e fielmente reproduzida [ver nota], resultou — na prática — uma mão cheia de nada e um monte de coisa nenhuma.
Porém, não sejamos esquisitos, se virmos a coisa de forma não prática (nem teórica) temos de facto algum sumo para espremer, salvo seja.
Vamos dar de barato a (pelo menos, aparente) crispação que, totalmente ao invés do que diz o Presidente da ACL, se sente a pairar, qual ave de mau agoiro, por cima das ilustres cabeças que naquela sala estiveram durante quase duas horas defendendo os interesses da Pátria.
Ignoremos do mesmo passo a notória agressividade, por vezes resvalando para a grosseria, de que deram sobejas mostras as acordistas ali de serviço (Gabriela Canavilhas e Edite Estrela), contrastando ambas, grosseria e agressividade, Estrela e Canavilhas, com a extrema — e quase comovente — urbanidade dos membros da ACL e, em especial, do próprio Artur Anselmo.
Muita coisa se poderia dizer e outra tanto palpitar, por conseguinte, sobre este evento de S. Bento. Não sobre o que foi dito mas sobre o que não foi dito e, em especial, sobre a forma como o não dito ficou clara e paradoxalmente subentendido: pequenas mas eloquentes expressões subliminares e elípticas, insinuações manipuladas com pinças mentais, ideias implícitas em embrulhos extremamente palavrosos e farfalhudos.
A ideia central, nunca referida, sequer vagamente, por qualquer dos presentes (só mais essa faltava) ou por algum dos “opinion makers” da nossa virtual praça, parece-me ter sido esta: culpar o actual Presidente da ACL, Artur Anselmo, por aquilo que fizeram e, sobretudo, por aquilo que não fizeram os seus antecessores, Adriano Moreira e… Malaca Casteleiro. Ou seja, diz Canavilhas, possessa, as veias de seu (lindo, por acaso) pescoço salientes, tumefactas, ameaçando rebentar, ah, e tal, “a ACL tem-se colocado como uma entidade à parte neste processo”. Ou seja ainda, diz a Edite, dirigindo-se a Anselmo com sua nada ríspida voz semelhante a unhas raspando num quadro de lousa, ah, e tal, “o padre prega e não há acento” ou lá o que foi que ela disse, de momento varreu-se-me.
E o bom do Artur, enfiado, como diria nosso Eça, lá tentou bravamente demonstrar lealdade para com a Instituição a que (agora) mui dignamente preside, limitou-se a alçar ligeiramente e com parcimónia o lábio fremente, aliviando-se com um sonoro “tenho dito” de quando em vez, coitado, aquilo foi um massacre, alguém devia dar umas lições de polidez às duas senhoras, raios, chamem a Bobone.
[Nota: “post” editado em 27.02.17 às 03:00 h. Por uma questão de economia de recursos (espaço em disco e tráfego) retirei o vídeo aqui anteriormente disponibilizado em alojamento local. O original dessa gravação vídeo pode ser visto directamente no “site” do Parlamento.]
P.S.: grosserias à parte, não deixa de ser “curioso” que as duas irritadíssimas socialistas acusem Artur Anselmo por aquilo que fez Malaca, ou seja, enfiar-nos o AO90 goela abaixo, e acusem também o mesmo Artur por aquilo que não fez Adriano Moreira, isto é, mexer-se de alguma forma para acabar com o dito AO90. E a “curiosidade” resulta da constatação factual de que, se ambas as nervosinhas senhoras o acusam das duas coisas, então é porque reconhecem que foram dois erros, fazer o AO90 e não o desfazer. Pois, xôdonas Edite e Gabriela, nisso estamos plenamente de acordo. Todos os três, perdoe-se-me a tremenda lata.