Desta recente audição parlamentar sobre o AO90 destaco, pela sua relevância política, a intervenção da deputada Teresa Caeiro, do CDS-PP.
Parece-me, aliás, tratar-se de uma intervenção não apenas politicamente relevante — até porque é secundada na mesma ocasião por uma deputada do extremo oposto do espectro partidário — como se trata também de um discurso algo surpreendente, quando não desconcertante: então só agora percebeu que o AO90 é uma catástrofe, senhora deputada? Não tinha ainda entendido a dimensão da fraude aprovada por larga maioria dos deputados, alguns dos quais da sua própria bancada parlamentar? Jamais lhe ocorreu que aquilo não passa afinal de uma gigantesca vigarice assinada “de cruz” e imposta selvaticamente aos povos de seis dos sete países da CPLP?
Bem, bem, bem. Mas que não seja por isso, senhora deputada. Poderá de facto não ter tido conhecimento das sucessivas golpadas que a tão catastróficos resultados conduziram. Nos “Passos Perdidos” perde-se de facto muita coisa, além de passos: se calhar, foi ali que alguém perdeu relatórios, pareceres, documentos que profunda e profusamente demonstravam a aldrabice “ortográfica”. E bem sabemos que, se não a maioria, pelo menos boa parte dos deputados que aprovaram a catástrofe anunciada não faziam a menor ideia daquilo em que estavam a votar.
Como muito bem diz, senhora deputada, as palavras são suas, “mais vale arrepiar caminho num erro do que persistir no mesmo”. E como lá diz por seu lado o povo, “mais vale tarde do que nunca”.
Seja Vossa Excelência muito bem vinda ao lado sério (e honesto) da “questão ortográfica”, senhora deputada Teresa Caeiro!
[transcrição] (na gravação, em baixo, a partir de 34:05)
Eu vou ser muito breve, até porque as questões principais já foram colocadas, mas eu não queria deixar de agradecer de um forma muito, muito empenhada às senhoras professoras o facto de terem disponibilizado o vosso tempo para virem aqui dar-nos exactamente estes argumentos técnicos, de forma a que se possam tomar atitudes políticas.
Dizia o meu colega Jorge Campos, agora, que esta turbulência será criada por questões mais técnicas do que políticas; mas não, em última análise foi o Parlamento, foi o Parlamento que aprovou, foi o Parlamento que aprovou este acordo e a primeira questão que eu gostaria de vos perguntar, porque eu não acompanhei o assunto na altura, é como é que é possível, como é que justificam que tendo havido vinte e sete pareceres, vinte e cinco dos quais eram contra este acordo ortográfico, que isto tenha… que isto tenha avançado. Como é que foi possível esta inércia?
Porque, certamente, e ao contrário do que aqui foi dito, não foram os “académicos” que sugeriram isto, o balanço… e eu… eu já tive a oportunidade de falar com os meus colegas e partilhar, mas vou formalizar o pedido para se ouvir o professor Malaca Casteleiro para percebermos como é que… qual é a génese… como é que isto… como é que… como é que isto surgiu… sem impulso dos países de língua portuguesa, sem impulso dos professores de Português e dos linguistas, sem impulso de quem escreve Português, de quem edita em Português, enfim… mas eu gostaria de ter um pouco a vossa opinião… como é que houve tamanha inércia… e porque é que… porque é que a Academia de Ciências levou avante este… sozinha, chegamos agora à conclusão… sozinha, este projecto, e levou-o avante, contra tudo e contra todos! E venceu. E… eu acho que o Parlamento devia fazer aqui um “mea culpa”, um grande “mea culpa”, como é que perante tamanha inércia deixou aprovar esta… esta iniciativa.
Depois, as senhoras professoras terão que nos perdoar, nós estamos aqui eleitos politicamente, cada um pelos… [sinal sonoro] … já acabou??? Vou ser rapidíssima.
Mas não somos linguistas, quer dizer, eu sou jurista, outros são cientistas, mas precisamos dessa envergadura científica para compreendermos como é que tudo isto aconteceu. Qual é a grande diferença em relação ao acordo de 1910? Porque é que este é uma catástrofe, que está à vista de todos.
E vou já acabar, senhor presidente. E aquela questão que já todos colocámos: na balança do… é melhor arrepend… eu acho, pessoalmente, ao longo da minha vida, que mais vale arrepiar caminho num erro do que persistir no mesmo. Mas as senhoras professoras, por favor, sintam-se à vontade para dizer o que é que vos parece. Muito obrigada.
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