O mais curioso neste grupo de trabalho parlamentar é a sua designação: “Avaliação do Impacto da Aplicação do Acordo Ortográfico de 1990“. GTAIAAO, portanto, uma sigla ligeiramente comprida mas isso é o menos, que se dane a sigla.
Aquilo que verdadeiramente importa é que a designação deste segue a mesma linha da do “grupo de trabalho” anterior sobre o “acordo ortográfico”: Acompanhamento da Aplicação do Acordo Ortográfico (GTAAAO).
A escolha das palavras não é arbitrária, casual ou circunstancial, como bem sabemos; não foi de todo por mero acaso que a designação do GT de 2013 continha a formulação “acompanhamento da aplicação” e é agora ainda mais flagrante a intenção do (altamente capcioso) acrescento “avaliação do impacto”… da aplicação.
Ou seja, sempre a “aplicação” do AO90 — espectacular denotação política do chamado “facto consumado” — e sempre associada, essa “aplicação”, a uma qualquer acção vaga e difusa (“acompanhamento”, “avaliação”) que permita apenas o reforço da intenção única subjacente: fazer passar a ideia da irreversibilidade do AO90, logo, das suas pretensas (e falsas) utilidade, viabilidade e exequibilidade.
O que se pretende é, em suma, chamando os bois pelos nomes, obter um efeito de reflexo condicionado através da táctica da imersão (mergulho) num caldo palavroso que não admita sequer reflexão. Lavagem ao cérebro pura e dura, para designar com ainda maior exactidão esta manada ideológica de bois, eis a tal política do “facto consumado” levada ao extremo. Um extremo de violência mental, por conseguinte, visto haver aqui uma mais do que óbvia tentativa de fazer passar todos os portugueses por tolos, alguns deles por perfeitos imbecis e uns quantos por débeis mentais.
Coisa que poderá até suceder, realmente, mas esses casos de total estupidez — não sejamos pessimistas — serão com certeza residuais. Os portugueses, em esmagadora maioria, assim como recusam liminarmente a idiotice a que se convencionou chamar “acordo ortográfico”, negar-se-ão também, seguramente, a que lhes comam as papas na cabeça ou que lhes façam a cabeça em papas com os seus joguinhos mentais.
Aliás, digo eu, já paravam de brincar com as palavras, não? Andam há 27 anos a tentar destruí-las, pois claro que agora devem sentir-se frustrados à conta disso mas, que diabo, ainda não perceberam que não há aqui tolos, que nem com papas nem com bolos?
Bem, fica a nota. “Tipo” lembrete.
E, já agora, fica também uma pergunta: assim com’assim, tendo esse GTAIAAO uma designação comprida (e uma intenção ainda mais comprida), não seria de “corrigir” a palavra “impacto” na dita? É que se de facto pretendem “avaliar” alguma coisinha na aplicação do AO90, então comecem pelos verdadeiros resultados, vejam o cAOs que a aplicação da cacografia malaquenha vai instalando.
O que pretendem, portanto, não é a avaliação do “impacto” da aplicação do AO90, é a avaliação do IMPATO da cacografia.