Ricardo Araújo Pereira e Gregório Duvivier conversam sobre a Língua Portuguesa. Assunto obviamente incontornável, o “acordo ortográfico”.
Alguns excertos da gravação.
RAP (13:40): “A gente estava nos bastidores a falar sobre a maneira como o acordo ortográfico não resolve rigorosamente nada. [comentário de GD: “E cria novos problemas.”] Exacto. Até porque o acordo ortográfico ataca precisamente o único sítio onde a gente não tem muita dificuldade em entender-se. Não há muito problema para o… a gente escreve “acção” com dois cês, vocês escrevem só com um. Não interessa para muito. Agora, a maneira com às vezes a gente se desentende tem a ver com o vocabulário. Se em Portugal eu disser que «estou no acostamento porque a minha perua não tem estepe», não há um português… um português entende que se está a falar Português mas ele não sabe nada do que se está a dizer. Porque em Português essa frase diz-se «eu estou na berma porque a minha carrinha não tem pneu sobresselente. É muito diferente de «acostamento porque a minha perua não tem estepe». E portanto as nossas diferenças são às vezes de pronúncia e de sotaque e outras vezes são de vocabulário, sendo que essas diferenças nos deviam enriquecer e não afastar. E como é óbvio o acordo ortográfico não resolve em nada essa questão.”
GD: “Além de criar problemas terríveis, terríveis, que eu acho que são realmente… na minha opinião foi um crime tão grande quanto a tomada de três pinos. Eu acho que ele é uma tomada de três pinos linguística porque ele cria uma solução para um problema que não havia. Ninguém olhava para uma tomada de dois pinos e falava «hmmm, falta alguma coisa aqui!» Não existia isso. Ninguém olha para a língua portuguesa e fala «hmmm, ’tá faltando aqui… ah, esse trema, eu não aguento esse trema, não posso com esse trema, dá uma preguiça escrever esse trema…”
Experimenta Portugal’ 17 – Arte e Cultura.
Um português e um brasileiro entram num bar – Humor de Ricardo de Araújo Pereira e Gregório Duvivier
Unibes Cultural – 21.06.2017