Anatomia da fraude

Bem sei que a aparente aridez do Excel torna a leitura dos resultados um pouco difícil, porém a maçada acaba por compensar. Já todos sabíamos que o AO90 não passa de uma fraude, gato por lebre, roubo descarado, pois então agora ficamos a saber ao certo como foi feita a fraude, onde está o gato, a quanto monta o roubo.

O que tenho vindo a expor aqui é a demonstração estatística da mentira colossal a que se convencionou chamar “acordo ortográfico” de 1990, uma manobra exclusivamente política, uma palhaçada que não é acordo algum e que de ortográfico nada tem.

Devo confessar que nem eu mesmo esperava tal nível de exactidão nos resultados, atendendo a que os dados de origem, provindos do “dicionário de mudança”, foram preenchidos como simples texto e não com o rigor formal de qualquer recolha de dados.

Por isso corrigi erros de digitação e normalizei critérios de recolha, utilizando depois fórmulas de cálculo cruzadas, primeiro letra a letra, autonomamente, e por fim sequencialmente, todo o alfabeto.

O quadro seguinte apresenta os resultados gerais por letra do alfabeto. Não é especialmente interessante mas serve de verificação: os resultados conferem entre si (obviamente) e conferem com os de qualquer dos quadros parcelares.

  • OA: Ortografia Antiga
  • PE: Português Europeu
  • PB: Português do Brasil
  • ON: Ortografia Nova
  • M.I.: Maiúscula Inicial
  • NDG: novas duplas grafias

Como vimos antes, num quadro constituído por 617 registos, o Brasil cedeu zero no AO90. Nem uma única palavra grafada “à brasileira” sofreu qualquer espécie de amputação. Todas as palavras que foram radicalmente estropiadas pelo “acordo” pertencem à ortografia do Português-padrão.

Mas existem, além dessa, outras tranches interessantes a analisar, como, em especial, as das entradas com as indicações “X não é aconselhável em Portugal” e “Y não é aconselhável no Brasil”.

Segundo podemos entender pelas respectivas “Notas”, estas palavras (lemas) “não são aconselháveis” mas, presume-se, essas grafias não são liminarmente “proibidas”. Curioso conceito de Ortografia, este, em que a “norma” é apenas “aconselhar” ou “não aconselhar”.

Assim, temos que, segundo “manda” o “douto” Portal da Língua Portuguesa, 786 lemas (11,9% do total de 6620) não são “aconselháveis” em Portugal.

Já no Brasil, o mesmo “douto” Portal “não aconselha” apenas 265 lemas (4% de 6620). Atente-se, na imagem, no que dizem as tais “Notas”. É muito interessante…

Aparentemente, este último quadro tem pouca importância no que a Portugal (e PALOP) diz respeito. Afinal, que diabo, neste são “só” 265, isso para os brasileiros é peanuts, no outro quadro é que a coisa é pior, nós levamos com 786 “desaconselhamentos”,  é quase o triplo!

Pois bem, ambos os quadros têm a mesma importância e, mais uma vez, como sucede com as supostas (e totalmente falsas) cedências do Brasil, nos dois casos agora em apreço apenas é afectada a ortografia do Português-padrão. De novo, a “norma” brasileira permanece intocada, integralmente “intata“.

Troquemos isto em miúdos.

  1. O que “não é aconselhável em Portugal” consiste, basicamente, naquilo que foi estropiado na norma-padrão mas que permanece intocado (e intocável) no Brasil. Se no Brasil era admitida dupla grafia para determinada palavra, então essa palavra pode continuar a ter consoante “muda” no Brasil mas em Portugal (e PALOP) essa mesma consoante “muda” é radicalmente “abolida”.
  2. O que “não é aconselhável no Brasil” consiste, exclusivamente, naquilo que foi estropiado na ortografia-padrão segundo o princípio “o que não se pronuncia não se escreve”.
  3. Ou seja:
    1. No Brasil pronuncia-se (logo, escreve-se) a consoante “muda”? Se sim, então, regra geral, no Brasil escreve-se. Se não, então não se escreve nem no Brasil nem em Portugal (e PALOP).
    2. Em Portugal pronuncia-se a consoante “muda”? Se sim, regra excepcional (“facto” e pouco mais), então em Portugal escreve-se. Se não, então em Portugal (e PALOP) não se escreve… a não ser que o Brasil dê ordens em contrário.
  4. O que “não é aconselhável no Brasil” ninguém no Brasil escreve assim, portanto, aqueles “desaconselhamentos” não passam de mais uma aldrabice para “encher o olho”, outra vez a fingir que o Brasil “cedeu” em alguma coisinha.
  5. O quadro com 265 entradas representa, com algumas excepções, aquilo que os adeptos da “revisão” do AO90 pretendem “corrigir”. São os casos a que chamam “contradições flagrantes” (como se o AO90 não fosse todo ele uma contradição flagrante) ou “as maiores aberrações” (idem, aberração completa).
  6. Note-se a similitude, tirada quase a papel químico, entre as colunas A e B (no segundo quadro): eram ortografias comuns que, por via da “unificação” passam a ser diferentes e um exclusivo do Português-padrão. Palavras totalmente inventadas pelo AO90.

Em conclusão. De novo, ad infinitum, até que os “ilustres” corruptos e os corrompidos ilustres “oiçam”.

A finalidade deste “acordo” político é que uma das seis ex-colónias, sul-americana, submeta a sua ex-potência colonizadora, europeia, e as demais ex-colónias africanas desta, a uma forma de neo-imperialismo cultural que se consubstancia na “adoção” ditatorial de uma “ortografia única”: a brasileira.

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