“O quotidiano em Cabo Verde é todo ele pensado, amado, sentido em crioulo”
A pretexto do “maior evento literário dos PALOP”, a Morabeza — Festa do Livro, que arranca a 30 de Outubro, o ministro da Cultura de Cabo Verde, Abraão Vicente, diz como tenciona alicerçar a literatura num país em que ela é sobretudo feita na música. E vinca o seu apoio à oficialização do crioulo.
—————-
(…)
O facto de a criação literária cabo-verdiana ser essencialmente em português e toda a criação musical ser em crioulo, essa duplicidade, é essencial à maneira de ser cabo-verdiana?
A nossa identidade revela-se aí. Na Festa do Livro, o português vai ser a língua de trabalho, porque vamos ter convidados de Angola, Moçambique, Portugal, Brasil. Mas o nosso quotidiano é todo ele pensado, amado, sentido em crioulo, por mais que as instituições se esforcem. Uma das primeiras medidas do novo governo foi o ensino do português como língua segunda, no sentido exactamente de nós interiorizarmos o porquê de o ensino e a fluência do português estarem a perder terreno. Porque o crioulo domina o dia-a-dia, domina a música, domina as próprias instituições. O parlamento cabo-verdiano funciona praticamente em crioulo. Há uma força identitária e aqui entra o debate que vai vir com a revisão da Constituição: oficializa-se ou não o crioulo?