«Acordo para quê?» [Teolinda Gersão, no Brasil]

«Na edição apresentada no Brasil, entretanto, o texto segue o chamado “português de Portugal”, sem padronização do acordo ortográfico. Teolinda, historicamente, se posiciona contra a universalização da escrita da língua portuguesa. Na entrevista dada ao O POVO, ela chega a questionar com ênfase: “acordo para quê?”. “A língua portuguesa admite variantes, o que só a enriquece. Todos os países lusófonos são soberanos e donos da língua, que é a mesma, mas cada um a usa ao seu modo. A ideia de uniformizar a língua só criou confusão, porque as variantes não são uniformizáveis. Felizmente. Além disso, entendemos tudo”, explica Teolinda.»

Teolinda Gersão vem a Fortaleza para lançar A Cidade de Ulisses

Premiada escritora portuguesa estará em Fortaleza hoje para lançar o livro A Cidade de Ulisses. Evento será na Academia Cearense de Letras, no Centro

Uma das escritoras portuguesas de maior destaque na atualidade atravessou o oceano e estará em Fortaleza hoje para lançamento do livro A Cidade de Ulisses. Teolinda Gersão – professora universitária, vencedora de diversos prêmios literários e autora de uma dezena de livros – participa de encontro com o público na Academia Cearense de Letras. “É muito difícil atravessar o Atlântico. Sobretudo no sentido Portugal-Brasil. No sentido inverso é mais fácil…”, diz a escritora, que tem no currículo prêmios como o Fernando Namora (1999), o Ficção do Pen Club (1981 e 1989) e o Vergílio Ferreira (2016).

Em A Cidade de Ulisses Teolinda conta a história de amor entre os personagens Paulo Vaz e Cecília Branco, cruzando a narrativa com a história da fundação de Portugal. “A adesão do público tem sido enorme, e isso deixa-me muito feliz”, conta a escritora, em entrevista ao O POVO por email. Ela já passou por São Paulo, Belo Horizonte, Salvador, Petrópolis e Rio de Janeiro, encerrando a circulação brasileira em Fortaleza, capital mais próxima do território europeu.

“A recepção dos meus livros no Brasil sempre foi excelente”, explica Teolinda Gersão, lembrando que as publicações aqui existentes são, em geral, fruto de cópias manuais e outros mecanismos de difusão dos textos. “Sempre fui muito lida e estudada no Brasil, apesar de os livros circularem em xerox”, exemplifica. Agora, graças ao esforço da Editora Oficina Raquel – que publica A Cidade de Ulisses por aqui – os leitores brasileiros terão acesso mais fácil ao texto. Em Portugal, o livro havia sido publicado em 2011.

Nascida em Coimbra, Teolinda Gersão passou por universidades de Berlim e Lisboa. A agitada vida acadêmica foi pausada para dedicação à produção literária – que inclui os livros O cavalo de sol (1989), Os teclados (1999), A mulher que prendeu a chuva (2007) e As águas livres (2013).

A Cidade de Ulisses

“Depois de ler A Cidade de Ulisses, nossa imagem da cidade de Lisboa se enriquece, não só porque conhecemos melhor seu passado e seus diferentes espaços do presente, como porque à visão da cidade real, acrescentamos a cidade imaginária, a cidade nas artes, a cidade desejada, que o livro nos instiga a descobrir”, explica a escritora Angela Gutiérrez, que fará a apresentação de Teolinda ao público cearense.

Na edição apresentada no Brasil, entretanto, o texto segue o chamado “português de Portugal”, sem padronização do acordo ortográfico. Teolinda, historicamente, se posiciona contra a universalização da escrita da língua portuguesa. Na entrevista dada ao O POVO, ela chega a questionar com ênfase: “acordo para quê?”. “A língua portuguesa admite variantes, o que só a enriquece. Todos os países lusófonos são soberanos e donos da língua, que é a mesma, mas cada um a usa ao seu modo. A ideia de uniformizar a língua só criou confusão, porque as variantes não são uniformizáveis. Felizmente. Além disso, entendemos tudo”, explica Teolinda.

 

Jornal “O Povo” (versão impressa), 05.10.17
Fortaleza, Brasil

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