“O minderico é considerado uma língua e não um dialecto, uma vez que este é uma variedade regional de algo definido como língua-padrão. “Uma língua é uma variedade linguística, à semelhança de um dialecto, mas adquiriu poder económico, político e social e, com isso, prestígio. A distinção entre língua e dialecto pressupõe sempre uma decisão política”, esclarece Vera Ferreira. “O minderico foi-se afastando do português, criando características próprias morfossintácticas a nível gramatical, que o tornaram uma entidade autónoma, como outra língua qualquer.”
Há línguas quase extintas. Como as podemos salvar?
Em todo o planeta há línguas ameaçadas. Agora, uma equipa de cientista fez uma nova árvore evolutiva com algumas línguas do Sudeste asiático e do oceano Pacífico que devem ser preservadas. Também em Portugal há uma “quase extinta” que se tem procurado revitalizar.
Teresa Serafim – 17 de Dezembro de 2017
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Não há dúvida de que há muitas espécies de animais e plantas ameaçadas, assim como há muitas outras que já se extinguiram. Uma forma de percebermos como todas se relacionam e de obter informação sobre elas é através de árvores evolutivas. O conceito vem da biologia evolutiva, em que os ecólogos constroem essas árvores filogenéticas em forma de diagramas.
Tal como as espécies de animais e plantas, também há línguas ameaçadas. Segundo o artigo, das cerca de sete mil línguas hoje existentes desaparece uma língua a cada duas semanas. Ainda de acordo com o Atlas das Línguas em Risco da UNESCO, pelo menos 43% das cerca de seis mil línguas existentes estão em risco. Como se pode preservar essas línguas? Construindo árvores evolutivas das línguas, através de cálculos computacionais.
Os cientistas construíram então um ranking (ou árvore, se se preferir) de línguas a preservar através do EDGE, semelhante a uma métrica usada na biologia evolutiva. EDGE divide-se em “distintividade evolutiva” (ED) e “ameaça global” (GE). A primeira mede quão distinto é um idioma de outras línguas da sua família. “As línguas que têm poucos parentes são consideradas mais ‘especiais’ e têm mais pontuações de ED”, diz Nicolas Perrault, da Universidade de Oxford (Reino Unido) e um dos principais autores do estudo. Já a “ameaça global” calcula o quão provável é uma língua ficar extinta. “Inclui o número de falantes e quão novos são. A língua mais ameaçada tem maior pontuação de GE.”
A equipa considerou 350 línguas faladas em ilhas espalhadas no Sudeste asiático e no oceano Pacífico. “Hoje há mais de 1200 línguas austronésias, tornando-a uma das maiores famílias de línguas”, lê-se num comunicado. E por quê as 350 línguas? “Nos estudos de linguística histórica, é comum comparar o vocabulário básico de diversas línguas, uma vez que este vocabulário (que corresponde a palavras essenciais e muito frequentes no discurso) é mais resistente à mudança ou substituição”, explica Hugo Cardoso, do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa, que não fez parte do estudo. “Nestas 350 línguas, os autores tiveram em conta as respectivas palavras para o mesmo conjunto de 210 conceitos básicos, para determinar o seu parentesco e graus de afastamento.” Esta recolha já tinha sido publicada em 2009 na revista Science, por uma equipa da Universidade de Auckland (Nova Zelândia). Outras informações são da base de dadosonlineEthnologue, que tem o registo de mais de sete mil línguas.
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“A construção de árvores linguísticas mais abrangentes permitem preservar as línguas, o que pode ser proveitoso para linguistas, antropólogos e historiadores”, considera em comunicado Jonathan Davies, da Universidade de McGill (Canadá) e coordenador do trabalho. Para Hugo Cardoso, este método é “interessante” do ponto de vista prático. “Ajuda a priorizar os esforços de conservação. Mas pode ser um pouco controverso porque significa que podemos abandonar e não dar tanta atenção a outras [línguas]”, nota. “As línguas ameaçadas são de comunidades que estão a passar por algum problema. Pode dar-se o caso de uma língua estar ameaçada e, por não ser distintiva, não ser uma prioridade.”
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