Pèidéluó, Pútáoyá (1)

como se escreve Pedro em Mandarim: algo como Pèidéluó

 

Olá, o meu nome é Pèidéluó e vivo em Pútáoyá.

Parece que acabei de dizer dois palavrões mas não. Aquilo ali é a tradução de “Pedro” e de “Portugal” para Mandarim (Pinyin).

Toda a gente sabe, por experiência própria e até porque o fenómeno faz já parte do anedotário nacional, os chineses “comem” os RR (érres) porque… não conseguem pronunciá-los. Ou porque “têm preguiça” de articulá-los, como explica esta simpaticíssima chinesa do Brasil.

Quem nunca entrou numa “loja do chinês” à plócula de palafusos ou de blocas, pol exemplo? E quem nunca teve de conter o riso (convém não lile, sobletudo não lile, pala não ofendele) quando nos pelguntam se quelemos glandes ou pequenos?

Mas os chineses não são caso único. “Deficiência” semelhante na pronúncia dos RR têm também americanos, ingleses e todos os demais nativos de Língua inglesa. Os sons “aRRanhados” ou, de forma geral, aqueles que envolvam “érres”, são para eles algo de muito difícil articulação, quando não totalmente impossíveis de articular. A chinesinha do vídeo acima fala também deste problema que são os RR no Inglês e não apenas no Mandarim.

Ora, outro tanto sucede em sentido inverso, isto é, por regra os portugueses manifestam uma tremenda incapacidade para articular certos sons em qualquer Língua estrangeira, seja ela Mandarim, Inglês ou até Francês.

Mesmo que sejam, por paradoxal que isto possa parecer, fluentes em qualquer daquelas Línguas. Basta recordarmos, e igualmente tentando conter o riso, como na loja do chinês, os casos de Mário Soares em Francês ou de José Mourinho em Inglês, por exemplo.

Isto para não referir fenómenos verdadeiramente patológicos, digamos assim, como José Sócrates e o seu “castelhanês” ou “portuñol” totalmente inventado e “alternativo”.

Mas ultrapassemos esta nota de rodapé, simples ilustração da tese pela demonstração de uma situação-limite de incapacidade articulatória.

Incapacidade que, exceptuando patologias, verifica-se ser bem mais comum do que geralmente se admite.

Na Língua inglesa existe uma palavra, quiçá a mais básica de todas, que só à custa de muito treino (ou de uma tendência natural e congénita para “aprender línguas”) um português — e mais ainda um brasileiro — consegue articular correctamente: “THE” (artigo definido). E a coisa piora muitíssimo se o dito português tentar pronunciar qualquer um da gama de sons cuja grafia seja representada por este par de letras: TH. Como em “moth” (traça, borboleta nocturna), thirst/thirsty (sede/sedento) ou thread (vários significados).

É muito engraçado escutar as formas extremamente artísticas como os non-native English speakers  “resolvem” o “problema”. Se esse falante não nativo de Inglês for português (ou, pior, repito, se for brasileiro) então a maneira que ele arranja para “desenrascar” o TH já não é só hilariante — é de rebolar a rir.

Mas pronto, que diabo, cada um é como cada qual, lá diz o povo, acrescentando o mesmo povo ao ditame o conhecido e sábio aforismo “burro velho já não aprende Línguas”.

Pois não aprenderá o velho, com certeza, mas a verdade é que há também muito jovem que, não sendo burro, outro tanto não consegue.

O factor comum para este tipo de “inconseguimento” será, portanto, a incapacidade natural do falante para a articulação de certos sons e a fonte do problema há-de estar algures no seu  aparelho fonador.

Assim como nem todos somos capazes de correr os 100 metros em menos de 10 segundos ou podemos cantar fora do duche sem que toda a gente desate a fugir espavorida, é perfeitamente natural que apenas alguns possuam as características adequadas (há quem chame “jeito” ou “talento” a esse conjunto de aptidões) para não apenas falar como também pronunciar correctamente uma qualquer, duas ou várias Línguas estrangeiras. Exemplifiquemos com somente três nomes, como anteriormente na ilustração a contrario: Henrique Cymerman, Paulo Portas, Miguel Esteves Cardoso.

Existirá aqui um padrão… contrastante? Ou seja, teremos nesta matéria apenas dois grupos, os “talentosos” e os “burros velhos”?

Para explicar tais discrepâncias existirão variadíssimas vertentes concomitantes mas estamos a falar da regra e não da excepção. Ora, por mais numerosas que sejam as excepções, a regra é que existem diferenças radicais entre o Mandarim e o Português ou entre o Inglês e o Francês, por exemplo. Assim como para um chinês ou um inglês é muito difícil, quando não impossível, pronunciar a palavra “caRRoça” coRRectamente, também para um português é muito difícil e para um brasileiro é praticamente impossível dizer — apesar de uns e outros a conhecerem — o nome da canção mais famosa de Michael Jackson.

(continua)

Conversor para Mandarim (origem da imagem de topo): Chinese Tools