5 de “maio”, dia da língua de vaca (e da cultura do feijão)

O “Dia da Língua Portuguesa (e da Cultura Lusófona)” é uma patranha inventada em 14 de Maio de 2005 pelos acordistas de serviço, portugueses e brasileiros (com a presença folclórica de representantes dos PALOP), no intuito de revestir de uma aparência “tradicional” e “histórica” a colossal manobra de genocídio linguístico (e cultural) a que alguns mafiosos chamam “acordo ortográfico”.

Citando a “Wikipédjia lusôfuna“, «O dia foi criado em 2005 durante uma reunião em Luanda, Angola, dos ministros da cultura de sete países lusófonos».

Tudo nesta ridícula “efeméride” é absurdo. O próprio conceito de “cultura lusófona” é absurdo: não significa absolutamente nada, porque semelhante coisa não existe, e não passa de um mais do que evidente oximoro, já que os termos da expressão contradizem-se entre si.

A transcrição que se segue não é, por conseguinte (e por excepção, neste Apartado), de uma notícia ou de qualquer outro tipo de peça jornalística sobre a Língua Portuguesa.

Trata-se de simples demonstração daquilo em que consiste a mais pura e dura propaganda — lavagem ao cérebro — em que se especializaram os membros, alguns cidadãos brasileiros e meia dúzia de mercenários portugueses, da repugnante seita acordista de cujo proselitismo imbecil apenas a imbecis pode escapar a absoluta ausência de conteúdo.

E de significado.

E de tino.

CPLP – Quantas línguas cabem na língua portuguesa?

Em Cabo Verde não se pode usar a expressão “pitada de sal”. No Brasil ninguém sabe o que é um autoclismo. Mas todos nos entendemos. Hoje é dia da Língua Portuguesa, que é falada por mais de 260 milhões de pessoas.

Em Cabo Verde não se pode usar a expressão “pitada de sal”. No Brasil ninguém sabe o que é um autoclismo. Mas todos nos entendemos. Hoje é dia da Língua Portuguesa, que é falada por mais de 260 milhões de pessoas

“Eu pergunto se ele vai de terno, ele me diz que não vai de fato. Eu uso calcinhas, que ele diz que são cuecas, ele usa boxers, que eu digo que são cuecas.” Parece caricatura mas não é. “Eu digo para de frescura e ele me diz não me venhas com fitas. Eu digo que ele não sabe porra nenhuma, ele diz que eu não sei a ponta de um corno.” Os problemas de comunicação da brasileira Ruth e do seu marido, o português Filipe, foram o tema da crónica semanal que ela assina no Estadão, no passado dia 22 de abril. O título era: “Eu digo “Brasiu”, ele diz “Purtugal””. E nela Ruth Manus elencava os vários equívocos provocados pelas diferentes línguas que eles usam, apesar de ambos falarem a mesma língua portuguesa.

“É tudo verdade”, garante Ruth Manus, advogada e escritora de 29 anos que vive em Portugal desde 2015. “Às vezes, eu pergunto uma vez, duas vezes, três vezes e continuo sem entender o que ele ou outra pessoa dizem e então simplesmente desisto.” Porque é que isto acontece? “Com o vocabulário eu já estou mais ou menos familiarizada, leio muito, os jornais, os livros. Mas para mim a dificuldade é mesmo a rapidez com que as pessoas falam e a maneira como falam, para dentro. Parece que é outra língua. Às vezes, penso que seria mais fácil falar em inglês, talvez porque eu desde logo presumisse que não fosse entender.”

É essa diversidade e ao mesmo tempo essa união que se celebram hoje, Dia da Língua Portuguesa e da Cultura da CPLP. Entre os muitos eventos programados nos nove países de língua oficial portuguesa – que fazem desta a quarta língua mais falada no mundo – destaque para as celebrações em Nova Iorque, sede da ONU. O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, o humorista Ricardo Araújo Pereira e o escritor Onésimo Teotónio de Almeida são alguns dos que participam no programa, ao longo de todo o dia, nos Jardins das Nações, onde também serão evocados os 20 anos da atribuição do Prémio Nobel da Literatura ao escritor português José Saramago.

Não é tradução, é adaptação

Como escritora, Ruth Manus tem uma tarefa complicada. “Se eu não trabalhasse com a escrita, não teria o menor problema em aportuguesar o meu português, eu até acho bonito. Mas eu não posso permitir que isso aconteça porque o meu público está preponderantemente lá no Brasil.” Ao mesmo tempo, Ruth começou também a publicar crónicas no Observador, em Portugal, e aí a sua preocupação é ser entendida: “Eu jamais vou tentar escrever em português de Portugal porque seria ridículo. Mas tomo alguns cuidados. No outro dia, eu ia escrever celular, depois lembrei-me que aqui se diz telemóvel, mas isso não seria natural para mim, então escrevi iPhone”, conta, rindo.

A jornalista brasileira Giuliana Miranda tem o mesmo problema. Giuliana tem 30 anos e mora em Portugal desde 2014. Quando publica na Folha de São Paulo tem de pensar nos seus leitores brasileiros: “Em alguns lugares do Brasil, rapariga é uma palavra muito feia, quer dizer prostituta, então, se um entrevistado português usasse a palavra muito provavelmente eu traduziria”. Por outro lado, quando participa no programa da RTP Mundo Sem Muros ou quando escreve artigos para o DN, confronta-se com outras dificuldades. Não se trata só de ter de usar autoclismo em vez de descarga ou casa de banho em vez de banheiro. No Brasil, diz-se Irã em vez de Irão. E canadense em vez de canadiano. E mesmo que tenha todas as palavras certas e a preocupação de usar sempre o Acordo Ortográfico, Giuliana percebe que os seus textos são muitas vezes corrigidos: “Eu não me importo, acho que a essência do que escrevo em português do Brasil está ali, mas tem de ser adaptado.”

“Claro que é maravilhoso a língua ser a mesma. Poder reclamar em português, poder xingar ou dizer o que eu gosto. Eu já morei nos Estados Unidos e apesar de falar bem inglês não é a mesma coisa do que a gente poder se expressar na nossa língua de origem”, diz Giuliana. Mas, ao mesmo tempo, não tem problemas em admitir que o português dos dois lados do Atlântico é tão diferente que quase parecem ser duas línguas: “Tem muita gente que leva a mal quando se diz que nós falamos brasileiro, mas eu não levo.” Ruth Manus concorda: “No Brasil existe uma certa mágoa, até ofensa, quando os portugueses dizem que a gente fala brasileiro, porque nós falamos português, a matéria da escola é língua portuguesa. Mas agora que estou cá eu já não me ofendo. Nós falamos brasileiro mesmo.”

[…]

Source: CPLP – Quantas línguas cabem na língua portuguesa?

 

Notas:

  1. A acordista fantochada referida na “peça” não passa de uma (triste) macaqueação das reais efemérides promovidas pela ONU. Existe o “Dia da Língua”, sim, mas apenas daquelas que são “Línguas de trabalho” da Organização: Inglesa (23 de Abril), Francesa (20 de Março), Árabe (18 de Dezembro), Chinesa (20 de Abril), Russa (6 de Junho), Espanhola (12 de Outubro).
  2. Propositadamente (é claro), para esta transcrição não utilizei a abençoada combinação de teclas Shift+F9, que a solução “Firefox contra o AO90” requer para corrigir automaticamente qualquer texto na Internet; portanto, a transcrição reflecte ipsis verbis a imitação rasca da cacografia brasileira constante daquele original de imprensa tuga brasilófona.
  3. Também propositadamente (é claro de novo), atrasei a publicação deste “post” para o dia seguinte ao da “comemoração” em causa. Não iria eu, jamais, participar de alguma forma — e nem mesmo a contrario — em tal vergonhosa palhaçada, um dos incontáveis números  protagonizados por palhaços, contorcionistas e malabaristas como Cavaco, Malaca, Sócrates, Bechara, Lula, Reis, Santana, Canavilhas e outros artistas de quejandos méritos circenses.