Para teu sujo tráfico, ó Acordo Ortográfico
Para teu sujo tráfico, ó Acordo
Ortográfico, sempre ao meu retiro
Vieste, onde inda pérolas respiro,
Pra ficares co’as minhas letras gordo.
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Entocado e sombroso no rebordo
De arbustos, tumular, sem um suspiro
Qualquer de compunção, dava-te um tiro
Se em vez de abutre fosses mero tordo.
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Sim, bem sei, de momento estás na mó
De cima, tens do teu lado o cifrão,
O jornal, o político – peró
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Não és, valha a verdade, um grão dragão:
Para travar-te basta-me isto: “O AO
Nestas páginas minhas – não, não, não.”
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Luís Miguel Rosa
Para teu sujo tráfico, ó Acordo Ortográfico, por Luís Miguel Rosahttps://t.co/oeFswOFgnl pic.twitter.com/Q8t5Ax8FlK
— Jornal GGN (@JornalGGN) May 12, 2018
Luís Miguel Rosa nasceu em Lisboa em 1984. Licenciou-se em Estudos Ingleses pela Universidade de Lisboa. Tem ensaios publicados através da Revista LER. Estreou na ficção em prosa em 2017 com o livro “Nova arte de conceitos”, onde seguindo um poeta muçulmano na Reconquista ou a desrazão na atualidade, estes contos ora contam ora cantam, em vários estilos onde o barroquismo e o registo mais chunga se alternam numa odisseia pela Língua Portuguesa.