«Em Lisboa há uma Academia Real das Ciências, grande título que por si se impõe, deduzindo-se que Lisboa possui sábios e se encontra dotada com um lugar onde se honra e cultiva as ciências… Risum teneatis amici, porque esta Academia não passa de um madeiro que, ao flutuar na água, por vezes pode aparentar um grande barco.»
«Esta Academia é uma monstruosa agremiação de pessoas, umas que não sabem nem têm nada a fazer, outras que não sabem nem querem fazer nada, e ainda de alguns sujeitos que se mexem muito para fingirem que andam muito ocupados e que, no entanto, não produzem mais que aqueles que nada fazem.» [“Panorama de Lisboa no ano de 1796”, J.B.F. Carrère]
Se o ridículo matasse…
Afinal, ao que parece, algumas pessoas, até do “respeitável Público”, levam a sério a espécie de sarau que a lisboeta “Academia das Ciências” está a preparar para amanhã, 10 de Julho de 2018.
Ao que parece também, afinal os paineleiros não serão exactamente os anunciados em cartaz para abrilhantar a coisa, mas isso, uma ou outra lacuna, aquela ou aqueloutra ausência (decerto imediatamente colmatada por algum “académico” da assistência, é favor uma das 15 pessoas presentes levantar o braço, obrigado, então pode ser aquele cavalheiro ali ao fundo, o de bigode), não há-de ser nada de cuidado, a eleição da Miss Mundo Lusófono decorrerá conforme previsto, dê lá por onde der.
Mantém-se o programa na íntegra, a julgar pelo que diz o “respeitável Público”, apenas com uma ligeira diferença, questão de pormenor, nada de ainda mais absurdo ou ridículo do que o inicialmente previsto: um dos modelos prevê a oficialização do Português como “língua minoritária”, expressão técnica esta que designa um conceito totalmente estranho aos cerca de 99,999% de cidadãos que jamais chegaram sequer perto da tristonha fachada da ACL.
O que isto significa, traduzido em miúdos, para que as outras pessoas, as normais, entendam, é que dentro daquelas tão vetustas quanto impenetráveis paredes preparam-se, uns quantos gatos pingados de borla, capelo e lata, para oficializar num papel, de uma vez por todas, a “solução final“, a liquidação sumária, a extinção definitiva da Língua Portuguesa enquanto património histórico e identitário.
O que vale é que ninguém lhes liga nenhuma, aos gajos das borlas mai-la sua senil ociosidade.
Qualquer documento que decida exarar, portanto, esse académico colectivo de inúteis sumidades, será para todos os efeitos absolutamente nulo e de nenhum efeito.
“A diversidade na língua não compagina com actos ditatoriais”
Unidade e Diversidade da Língua Portuguesa é o tema de um colóquio que a Academia das Ciências de Lisboa promove esta terça-feira, dia 10, a pensar nas línguas maternas.
Nuno Pacheco
“Público”, 09.07.18A Academia das Ciências de Lisboa promove esta terça-feira, por iniciativa do seu presidente, Artur Anselmo, um colóquio subordinado ao tema Unidade e Diversidade da Língua Portuguesa, com participação de académicos, professores e autores portugueses mas também brasileiros e africanos. “O colóquio decorrerá durante todo o dia”, diz ao PÚBLICO Artur Anselmo, “com três conferências de cerca de meia hora cada, não mais, e umas 20 a 30 comunicações de 20 minutos. A primeira conferência, de abertura, é feita pelo professor Adriano Moreira, com um título sugestivo: ‘A Língua não é nossa mas também é nossa’; a conferência da tarde é feita pelo Manuel Alegre, que falará, como grande escritor que é, em nome da língua portuguesa viva, dos escritores; e na conferência de fecho, feita por mim, tratarei do direito à diferença, um tema que me agrada muito, no respeito pelas línguas maternas.” O colóquio começa às 9h, no salão nobre da Academia, e terminará por volta das 19h com um intervalo das 13h às 15h.
O que motiva este colóquio é uma preocupação, já antiga, do presidente da Academia das Ciências quanto ao futuro das línguas maternas. Ele explica: “A Língua Portuguesa tem de conviver, cada vez mais, em boa paz, com as outras línguas. Porque nós não podemos alienar um património riquíssimo de línguas maternas. São as dezasseis de Moçambique, são as doze de Angola, são os crioulos. Depois o português vai-se adaptando, como diz o Manuel Ferreira, como diz o Mia Couto. E eu acho que a diversidade não compagina com actos ditatoriais.” Isto aplica-se à convivência entre as línguas maternas ou os crioulos e as variantes que assume a língua portuguesa em cada país, mas também à ortografia, que, embora não sendo tema deste colóquio (foi-o de um anterior, Ortografia e Bom Senso, em 2015), estará presente nalgumas comunicações. Artur Anselmo: “O uso da língua tem de ser um acto de civismo: respeitar os outros, respeitar as línguas maternas, respeitar as áreas dialectais, respeitar os falares (vai haver uma comunicação sobre falares brasileiros, que não são dialectos, são falares!). Como diz Adriano Moreira, a língua não é nossa mas também é nossa. Por isso vamos insistir: a diversidade é um ponto importante. E eu vou apresentar uma comunicação sobre os direitos linguísticos das minorias.”
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