Em prol de uma coisa que designa como “linguagem inclusiva”, certa organização LGBTQIA (acho que faltam na sigla algumas das letras do alfabeto) preconiza — o habitual primeiro passo para a obrigatoriedade por lei — que o termo “vagina” seja substituído pela expressão “buraco da frente”.
Mais declaram, os extremamente virtuosos paladinos do conceito, entre outras pérolas de semelhante cultura, que, historicamente falando, sempre houve uma tão evidente quanto generalizada “homofobia e transfobia” (ou lá o que é), o que se reflectia (indecentemente, se calhar) nos manuais (salvo seja) e nos “guias de sexo seguro”. Ora, dizem eles, e quem somos nós para duvidar, esse tempo já lá vai, acabou-se a bandalheira, agora é que é a sério: mude-se o nome da coisa (salvo seja, de novo) e pronto, aí está a tal “linguagem inclusiva”.
“Buraco da frente”, aliás, substituindo compulsivamente o repugnante — porque homofóbico e transfóbico — substantivo feminino “vagina”, parece de facto ser muitíssimo mais elegante, no mínimo, o que poupará toda a gente a evidentes embaraços quando, por exemplo em amena cavaqueira, à mesa do café ou assim, for necessário referir “aquilo”. Convenhamos, é desagradável, pode mesmo tirar o apetite, estamos nós muito descansadinhos a debicar uns petiscos e de repente algum gajo “homofóbico ou transfóbico” desata a falar em “vaginas”, bem, ai, q’horror, t’arrenego Satanás. Isto ele não há cá disso, nunca houve, só existem “buracos”, somos apenas, no fim de contas, um conjunto, uma colecção de orifícios espalhados pelo corpo.
O que significa, portanto, que não apenas os manuais e guias de “sexo seguro” estavam completamente errados (o que deve ser corrigido com efeitos retroactivos, presumo) como errada estava a abordagem clínica da questão: não contando com as cesarianas, nenhum (e nenhuma) de nós veio ao mundo por parto vaginal, todos (e todas) nós nascemos pelo “buraco da frente”.
O que significará também, por arrevesada analogia (salvo seja, pela terceira e última vez), que estando “atestado” o “buraco da frente”, então importa apurar o que é e para que serve o “buraco de trás”. Não interessando propriamente usos alternativos, podemos no entanto questionar os mesmos ou outros engenheiros linguísticos sobre o que desse outro buraco nascerá.
Lá iremos mas, para já, aqui fica a documentação que esclarece o profundo caso. Não é preciso espreitar pelo buraco da fechadura.
(…)
These guides also often unnecessarily gender body parts as being “male parts” and “female parts” and refer to “sex with women” or “sex with men,” excluding those who identify as nonbinary. Many individuals don’t see body parts as having a gender — people have a gender.
And as a result, the notion that a penis is exclusively a male body part and a vulva is exclusively a female body part is inaccurate. By using the word “parts” to talk about genitals and using medical terms for anatomy without attaching a gender to it, we become much more able to effectively discuss safe sex in a way that’s clear and inclusive.
For the purposes of this guide, we’ve chosen to include alternative words for readers to use for their genitals. For example, some trans men choose to use the words “front hole” or “internal genital” instead of “vagina.” Alternatively, some trans women may say “strapless” or “girl dick” for penis. This usage is meant for one-on-one communication with trusted persons, such as your doctor or partner, not for broad discussion.
In this guide, whenever we use the medical term “vagina,” we’ll also include “front hole” as clinically recommended by researchers in the BMC Pregnancy and Childbirth journal.
(…)
Health Line, “LGBTQIA Safe Sex Guide”
Medically reviewed by Janet Brito, PhD, LCSW, CST
on July 12, 2018
— Written by Mere Abrams