Como de costume, quando algo arde no Brasil (em sentidos figurado ou literal, como neste caso) ressurge, com redobrada fúria, essa estranha rotina a que se dedicam alguns brasileiros — não poucos e nem todos eles completamente maluquinhos — cujo modo de vida consiste em, 200 anos depois da independência do seu país, invectivar o “colonizador”, enxovalhar Portugal, culpar os portugueses pelo caos em que aquele “país-continente” está cíclica e sistematicamente mergulhado.
O mais recente surto desta espécie de alergia histórica ocorreu a propósito do incêndio que arrasou por completo o Museu Nacional do Rio de Janeiro.
Como muito bem assinala o jornalista Carlos Fino, em artigo publicado no jornal online “Tornado”, existe no Brasil um “velho estigma anti-lusitano”. E exemplifica o dito citando (in)certo indivíduo que, na rede anti-social Fakebook, publicou um chorrilho de disparates congratulando-se não apenas por ter ardido o museu nacional do seu país como, ou principalmente, porque o incêndio foi uma boa limpeza da memória brasileira: “Tudo o que apague do cenário brasileiro a lembrança daquele período nefasto (assim como de outros) é um alívio para mim e certamente para todos cujo sofrimento atual é uma herança daquela época.”
Extraordinário. E foi nisto o indivíduo de imediato secundado por milhares de outros “índios” da mesma tribo, os Matatuga, a qual se distingue por uma terrível sanha persecutória com efeitos retroactivos (abarcando dois séculos) em relação a tudo aquilo que sequer cheire a português. Porque, forçosamente, segundo a respectiva “lógica” tribal, tudo o que vai bem no Brasil é brasileiro, mas se algo corre mal no Brasil então a culpa é dos tugas.
Na verdade, Carlos Fino não refere no seu texto um caso isolado. Não, de todo. Aquele é apenas mais um, se bem que ilustrativo do fenómeno, por assim dizer, e nem mesmo é dos piores, não é dos mais violentamente anti-lusitanos.
Por uma questão de pudor mental, devo confessar, tento esquecer imediatamente quejandos pedaços de esterco em que vou tropeçando; limito-me a seguir adiante raspando as solas dos sapatos, como toda a gente faz quando calha pisar “presentes” malcheirosos.
Mas é fácil, havendo alguma espécie de interesse escatológico pela matéria, salvo seja, encontrar semelhantes poias, não apenas sobre Portugal e os portugueses em geral mas também sobre o AO90 em particular, já que este é uma das formas de revanche histórica a que se dedicam brasileiros e meia dúzia de vendidos.
Aí ficam duas amostras, ambas de comentários a vídeos do YouTube em que o tema é o “acordo ortográfico”. São apenas duas mas há lá muitas, de igual aspecto, consistência e cheiro; basta procurar, o que não é nada difícil se para tal houver estômago.
gilberto apollinare 4 years ago
O mundo ira seguir o BRASIL pelo seu tamanho populacional, territorial, economico , e importancia no cenario internacional. Se portugal nao se aderir ao acordo imposto pelo BRASIL, ficara esquecido ainda mais. Portanto eu digo que; portugal depende do BRASIL e assim tem que continuar.
Mauro David 2 years ago
Não adianta alguns portugueses serem contra o acordo o fato é que já aconteceu. Quem mais usa essa linguá no mundo são os brasileiros, principalmente para os negócios no mundo a fora, um brasileiro compreende melhor, mas rápido e com clareza a sonoridade de um falante do idioma português africano. já um cidadão de Portugal falando português, é entendido porem com muita dificuldade, a sonoridade de um português falando é horrível, quase trágica. A cultura de Portugal não é um coisa que as pessoas falante de português pelo mundo gostaria de ter ou de saber, Portugal é desinteressante, sem cor, pobre de dinheiro de de espirito é um país preso, sem visão. Já o Brasil, eu nem preciso comentar.
Incêndio do Museu Nacional – Há brasileiros que aplaudem
O velho estigma antilusitano, que continua em boa parte a ser alimentado na escola, na historiografia, na literatura, no cinema e nos media do Brasil, deixa naturalmente marcas profundas.
“Jornal Tornado”, 03.09.18
Carlos Fino, em BrasíliaVeja-se, por exemplo, esta reacção ao incêndio que consumiu o Museu Nacional do Rio de Janeiro, retirada do FaceBook
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